sábado, 26 de janeiro de 2008

Durma bem!

A revista Época da semana que termina trouxe como destaque de capa a sitação de Cuba. Sua manchete principal fazia um interessante jogo de palavras entre o “sonho” socialista e o “pesadelo” da vida real naquele país. Entretanto, em provável ato falho, o editor permitiu que a mesma edição trouxesse, ainda que em letras menores, uma pequena chamada no canto superior esquerdo da capa que apontava o risco de recessão nos Estados Unidos e as suas possíveis conseqüências no Brasil.

A infelicidade da produção da capa deixa bem clara uma coisa: as noites mal dormidas podem ocorrer em qualquer lugar do planeta, seja no "inferno" socialista de Cuba, seja no "paraíso" capitalista do Tio Sam; com uma agravante: no epicentro do capitalismo, e como decorrência da economia altamente globalizada, o mal-estar noturno pode ter efeitos bem mais devastadores do que o “insular” pesadelo cubano; afinal, como bem disse a secretária Condoleezza Rice, "os Estados Unidos continuarão sendo o 'motor' do mundo", e os "motores", como é sabido, costumam falhar de vez em quando. A cegueira ideológica certamente impediu os responsáveis pela revista da Editora Globo de se atentarem a tal sutileza.

Aliás, o hebdomadário deveria antes ter dado chamada principal de capa justamente ao problema do “pesadelo” americano, tendo em vista que era de se esperar a nervosa volatilidade dos mercados mundiais nesta semana. De todo modo, mesmo sem querer, o semanário da Globo conseguiu sair-se melhor do que a concorrente Veja, que, em mais uma de suas intermináveis “bolas fora”, destacou justamente os mais novos milionários do mercado de ações. A revista da Abril não poderia ter escolhido semana pior para fazer tal tipo de capa. Mas já que tocamos no assunto, espera-se, como toda a sinceridade, que os tais milionários tenham terminado a semana pelo menos tão ricos quanto começaram!

E, com exceção de Carta Capital, essas revistas semanais dão um sono... Zzzzzzzzz!!!!

sábado, 19 de janeiro de 2008

Segunda opinião

A sabedoria popular ensina que, em assuntos médicos, é sempre bom ouvir uma segunda opinião. Imagine, então, quando a primeira é proferida por alguém fora da área de medicina!

Entendo de febre amarela provavelmente tanto quanto a jornalista Eliane Cantanhêde, ou seja, absolutamente nada. Por isso, em meio às opiniões pescadas nos meios de comunicação, tenho dispensado especial atenção ao que dizem os especialistas. Parece haver um quase consenso de que é absurdo sair por aí se vacinando, a menos que a pessoa esteja a dez dias de se dirigir a áreas de risco, ou, evidentemente, more nas regiões endêmicas. Fora isso, deve-se estar atento ao fato de, eventualmente, já ter se vacinado nos últimos dez anos, além de procurar saber das contra-indicações e os possíveis efeitos colaterais de tal remédio.

Ainda que se deva - como ensinava Descartes - tomar cuidado com os chamados “argumentos de autoridade”, é difícil vislumbrar, em questões do tipo, gente mais bem preparada do que médicos especialistas para falar no assunto. E num país em que os políticos e demais fontes governamentais são tão desacreditados, não deixa de ser interessante o fato de médicos independentes reproduzirem sobre o tema praticamente as mesmas assertivas do Ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

A melhor opinião sobre vacinação, no entanto, foi emitida por minha esposa, que, até onde eu sei, assim como eu e, provavelmente, a colunista Eliane Cantanhêde, não entende tanto assim de medicina. Segundo ela, vacinação faz parte da cidadania, e as pessoas devem sempre estar alerta aos cuidados que devem tomar, independentemente de haver surtos ou epidemias. Penso que ela está certa. Comprometi-me, aliás, a imunizar-me em breve contra a febre amarela, de preferência quando ninguém mais estiver falando no assunto. No atual momento, se tomasse a vacina, além de expor-me aos riscos e efeitos que os especialistas bem apontam, poderia estar tirando uma dose de alguém que realmente precisa, por estar com viagem marcada para uma área de risco, por exemplo.

Mas tudo se trata de uma questão de foro íntimo, evidentemente. Há pessoas que acham que devem se vacinar de qualquer jeito. Cada um sabe o que faz. O importante, é claro, é verificar os efeitos e as contra-indicações, cuidado que, aparentemente, muita gente não vem tomando. Temo que comentar, mais uma vez, sobre possíveis prejuízos provocados pelo desabastecimento seja pregar no deserto: quem realmente se preocupa com os outros?

Para melhor análise sobre a questão, sugiro esta leitura. Se quiser, ouça também este áudio. Veja também esta notícia.

Este espaço está aberto para quem pense de forma contrária e que divirja das opiniões médicas que suscitaram o presente texto. Afinal, sempre é bom uma segunda opinião!

sábado, 12 de janeiro de 2008

Bob Dylan no Brasil: vai ser difícil ver


É praticamente certa a vinda de Bob Dylan ao Brasil em março de 2008. Informações preliminares dão conta de que, em São Paulo, a lenda fará apresentação única na Via Funchal.

A casa paulistana é conhecida pelos seus preços para lá de salgados; para a apresentação de um mito do século XX, eles - juntamente com os organizadores, claro - podem “meter a faca” à vontade que os ingressos certamente se esgotarão rapidinho.

Seria ótimo se houvesse uma apresentação desse genial artista de graça e ao ar livre, nos moldes daquela dos Rolling Stones na praia de Copacabana em 2006, ou dos já longínquos shows de Ray Charles e de B.B. King na Praça da Paz do Parque do Ibirapuera, em 1995 e 96, respectivamente.

Ter-se-ia – como dizia Garrincha – que combinar com o adversário: precisaria apurar quanto o artista cobraria numa apresentação desse tipo e se ele toparia fazê-la. Fora isso, seria necessário o apoio de empresas. Há que se recordar, ainda, que as inesquecíveis performances de Ray Charles e B.B. King contaram com o beneplácito da prefeitura de São Paulo. Parece não haver neste momento clima para tal tipo de “gasto”.

Torcemos para que Dylan, que há alguns anos foi parar no hospital por problemas no coração, tenha uma vida muitíssimo longa e produtiva. Mas a sensação é de que essa terceira será a sua última apresentação no Brasil. Quem viu, viu... Aos que não virem, restará apenas entoar o velho refrão: “it’s all over now, baby blue”.

"Comunicar erro"

O sítio UOL conta com um interessante serviço chamado “comunicar erro”. Aquele que ao ler um de seus textos e encontrar alguma imprecisão pode mandar uma mensagem, e seus responsáveis consertarão a falha. Mas será que funciona? Só quem já utilizou o serviço é que pode responder.

Os "blogues" também deveriam ter tal recurso técnico, pois se há uma coisa fácil de se cometer nessa vida são equívocos. Não há muito, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no afã de criticar pessoas que supostamente têm dificuldades com a língua, incorreu, na própria fala, em um erro de português. Erro este, aliás, da mesma natureza de um que fora perpetrado pelo governador José Serra na sua vitoriosa campanha de 2006. Imagine, leitor, se pessoas fantásticas, geniais, maravilhosas como o ex-presidente, o príncipe dos sociólogos, o “rei-filósofo” Fernando Henrique Cardoso comete erros, até mesmo quando vai criticar a suposta fragilidade “vernacular” dos outros, o que dizer de "blogueiros" diletantes, dispostos a meter o bedelho em... (Quase) tudo?!

Ao reler tanto os textos deste, quanto os do blog Veritas, deparo-me com algum tipo de erro, geralmente de concordância, e, em alguns casos, de estilo: vocabulário inadequado, vício de linguagem, falta de coesão e clareza. É provável que alguém que perca o tempo hoje lendo alguma bobagem dos dois "blogues" e que, “masoquisticamente”, releia-a na semana que vem, se atento, perceberá alguma mudança.

Este blog não tem o serviço “comunicar erro”, mas tem o espaço para participação dos leitores. Aparentemente as pessoas não têm achado os textos dignos de comentários, opinião pela qual eu não as culpo. Mas não tenho dúvida que os atentos – e certamente raríssimos - leitores sempre pegam um ou outro erro. Por favor, sinta-se à vontade de utilizar o espaço dedicado a comentários para comunicá-los .

Agradeço antecipadamente!

Eleições municipais - São Paulo 2008: escolha o seu vice

Se as coisas ficarem dentro do script, os maiores partidos do Brasil deverão disputar a eleição para prefeito da cidade de São Paulo em 2008 com pesos pesados da política nacional: o PT virá com a ex-prefeita e atual Ministra do Turismo, Marta Suplicy, e o PSDB pleiteará a prefeitura com o ex-governador e candidato derrotado à Presidência da República Geraldo Alckmin.

Muito dificilmente qualquer um deles ficaria os quatro anos à frente da prefeitura da maior cidade do país. Em 2010, com as eleições para o governo do Estado, tanto Marta quanto Alckmin apareceriam como candidatos quase “naturais” de seus partidos. É notória a dificuldade do PT em apresentar novos nomes, tanto em nível federal como no âmbito de São Paulo, estado que é seu berço. Nesse vácuo, o nome da “prefeita” agigantar-se-ia como única candidata com chances de derrotar a hegemonia do PSDB. No ninho tucano, a menos que o partido queira repetir o erro de 2006, é quase impensável que seus integrantes não queiram disputar o principal cargo da República com o seu nome mais popular. Assim sendo, o governador Serra será candidato a presidente. Desse modo, o tucanato terá que disputar o governo do Estado com outro de seus ases. É certo que existirão brigas internas, mas o nome do ex-governador, “rebaixado” à condição de prefeito (se for o caso), surgirá como uma carta na manga para a agremiação continuar mandando em São Paulo.

Dessa forma, se eleito um dos dois, quem ficará a maior parte do tempo à frente da prefeitura da megalópole será o respectivo vice. Tal advertência fora repetidamente feita no pleito de 2004, afinal todo bom analista sabia que Serra não ficaria na prefeitura durante todo o mandato. Verdade seja dita, é muito provável que a então prefeita Marta, se reeleita fosse, também sairia para disputar o cargo de governadora. A diferença é que, em vez de Kassab, o prefeito hoje seria Rui Falcão.

É evidente que não é possível ter acesso aos estados mentais das pessoas – nem aos anseios programáticos secretos dos partidos políticos. Quer dizer, pode até ser que tanto a petista quanto o tucano sonhem com a prefeitura e queiram realmente ficar sentados na principal cadeira do antigo prédio do BANESPA até o final do mandato, o que poria por água abaixo o presente prognóstico. Mas a se confirmar a suspeita de que o término do mandato ficará para o vice, ter-se-á que rediscutir os rumos da política na mais importante cidade do país, pois ela não poderá ser pelo resto de seus dias um mero trampolim para a ambição de alguns políticos brasileiros: o prefeito teria que realmente querer ser prefeito e estar comprometido com os interesses da cidade.

Uma triste curiosidade é que o risco de isso ocorrer praticamente se anularia caso fosse reeleito o atual prefeito, o qual dificilmente abdicaria da chance de ficar mais quatro anos como indiscutível “dono” do cargo que herdou. Resumindo: pobre São Paulo!

sábado, 5 de janeiro de 2008

Quer pagar quanto?


Vi nesta semana, em um sebo do centro de São Paulo, o famoso vinil do Quarteto Novo, grupo com Hermeto Pascoal, Airto Moreira, Théo de Barros e Heraldo do Monte, cuja bela capa ilustra este post. O preço era R$400,00 (isso mesmo: QUATROCENTOS REAIS).

Tenho uma edição em CD do disco, lançado pela EMI na série Odeon 100 anos. Acho que já paguei caro (mais de 30 reais), pois mesmo a reedição não é nada fácil de se encontrar.

Não tenho dúvidas de que se é possível fazer o download desse clássico da música instrumental brasileira na rede.

Mas a minha pergunta é: quem se sujeitaria a pagar - num bom "paulistanês" – “quatrocentos pau” nesse curioso vinil de 1967, ainda mais se sabendo que se pode “baixá-lo” gratuitamente na net ou consegui-lo em CD ainda que a duras penas?

Tenho tal curiosidade porque li um texto, também na “família” blogspot, que comentava a respeito do leilão virtual de um velho compacto de obscuro artista da onda northern soul dos anos 1960: o valor já chegava a inacreditáveis dois mil dólares!!! O autor mostrava-se estupefato e sugeria haver algum tipo de fetiche por parte de quem oferecia um “absurdo” por um mero compacto de duas faixas, isso tudo sem entrar no mérito da possível boa qualidade do trabalho do artista, que – diga-se de passagem - é uma marca do northern soul, sobretudo daquele mais “lado B”.

Penso que no caso do nosso Quarteto Novo somente um fetichista (endinheirado) mesmo para pagar os “quatrocentos” pedidos pela loja do primeiro andar de uma galeria da Rua Dom José de Barros, centro de São Paulo.

Gosto muito de música e atrevo-me a, vez ou outra, comprar um disquinho. Mas não consigo me imaginar, mesmo que tivesse condições, pagando um preço tão despropositado num velho e – mesmo que - bom elepê.

E quanto ao disco em si? Bem... Sinceramente... É legal e tudo, mas já ouvi muitos melhores no quesito “música instrumental brasileira”.

Eu filosofo, tu filosofas, ele...


Certa feita, quando me graduava em filosofia, um excelente professor pilheriou com um aluno que portava o romance O mundo de Sofia. Segundo o mestre, aquele era, na melhor das hipóteses, um livro de apresentação da filosofia para “crianças”.

Meus parcos conhecimentos não me permitem ser tão implacável assim com o best seller de Jostein Gaarder, mas posso dizer apenas que ele tem a boa qualidade de tornar o espinhoso assunto da filosofia mais palatável para a maioria das pessoas. Não à toa o norueguês escolheu o caminho do romance. O livro tenta mostrar também que quaisquer discussões e questionamentos que envolvem nossa vida podem ser objeto de estudo da filosofia, quando não é seu próprio substrato.

Tendo em vista a presença da disciplina no ensino médio, os professores devem se desdobrar para atrair a atenção dos alunos a assunto que parece ser “distante”, “abstrato” demais para um mundo marcado por coisas como velocidade, pragmatismo, violência etc.

Uma boa sugestão aos heróis que lecionam nas escolas públicas e particulares é a adoção do livro Os Simpsons e a filosofia (São Paulo: Madras).

Trata-se de uma coletânea de textos, organizada pelos professores Aeon J. Skoble, Mark T. Conard e William Irwin, que pretende discutir os temas tratados, levantados ou pincelados pelo já lendário desenho animado, ou, inversamente, falar de assuntos caros à filosofia, tais quais a ética e o conhecimento, usando como base as estripulias da simpática família e os seus amigos do microcosmo chamado Springfield.

Penso que este também desagrade aquele professor da minha graduação: os assuntos são tratados com excesso de didatismo e de certo modo com alguma superficialidade.

Mas não poderia ser diferente: o livro é destinado aos leigos e pretende mostrar que há bem mais coisas na arte e na cultura pop do que pode sonhar a nossa vã filosofia (opa!). E se o negócio é usar clichês, pode-se dizer, com toda tranqüilidade, que a filosofia é realmente muito presente na nossa vida, permeia boa parte de nossas discussões, ajuda-nos a compreender melhor o mundo, a analisar um filme, a escrever uma crítica etc.

Corporativismos à parte, há que se reconhecer que boa parte da filosofia bruta (Aristóteles, Boécio, Hegel, Frege, Adorno) é uma coisa que pode se apresentar de forma chata, sobretudo para alunos adolescentes. Já Os Simpsons e a filosofia está anos-luz dessa tradição mais bruta, logo, está longe de ser chato.

Boa leitura!

O mantra dos impostos

O leitor já reparou o quanto a imprensa gosta de falar de impostos? Parece que todos os problemas da humanidade se resumem à carga tributária. Ah, sim, a carga tributária do Brasil, é claro. A mídia parece pouco ou nada preocupada com os números altíssimos da arrecadação de diversos países mundo afora; falam como se só neste país tropical se pagassem impostos.

Os muito pobres não pagam tantos tributos diretamente. Os ricos sonegam ou, quando honestos, pagam sem reclamar muito, pois não se sentem tomados daquele dó de ver sair-lhe das mãos um dinheiro que poderia ser usado na aquisição de opcionais de carro ou de quinquilharias eletrônicas. Sobra para a classe média, que não consegue sonegar tanto, e que de fato paga boa parte do peso da carga tributária, além de ter que colocar filhos nas escolas particulares, pagar planos de saúde, trocar de carro toda hora etc.

A imprensa brasileira parece querer dirigir-se somente à classe média. Por isso a irritante grita contra os impostos. Ora, ora, ora, é assim mesmo: o governo, em todos os níveis, precisa trabalhar, tem que assumir e honrar compromissos. Sem impostos, ficaria impossível. Poder-se-ia, no entanto, fazer um teste: que tal se a partir de amanhã não se recolhessem mais impostos e se deixasse o Estado morrer por inanição? Será que a classe média, exatamente o que temos de mais conservador na sociedade brasileira, iria gostar de uma medida tão, digamos, revolucionária? Os críticos da sociedade burguesa poderiam até "pagar" para ver; mas aqueles que no fundo são amantes do nosso status quo deveriam temer isso. É bom começar a parar de reclamar dos impostos...

Nesta semana foram apresentadas mudanças no IOF e na Contribuição sobre Lucro Líquido. Principalmente o primeiro foi apontado pela imprensa como um elemento que deve encarecer o crédito, dificultando assim a vida da nossa dedicada classe média.

Este blog, num post anterior, já havia manifestado a sua preferência, em meio a tudo isso, à extinta CPMF. E o pessoal da classe média, que tanto esbravejava contra aquela contribuição, o que acha agora?