domingo, 30 de março de 2008

Marta LIDERA a corrida pela prefeitura de São Paulo

A ex-prefeita e atual Ministra do Turismo, Marta Suplicy, segundo pesquisa do DATAFOLHA publicada neste domingo, está à frente do ex-governador Geraldo Alckmin na corrida pela sucessão da prefeitura paulistana. De acordo com o levantamento, Marta tem 29% da preferência do eleitorado e Alckmin, 28%.

A manchete da Folha admite a subida de Marta, mas esconde que ela está na dianteira, afirmando que a petista está, em realidade, empatada com o tucano. A repercussão da notícia no canal BandNews repetiu praticamente as mesmas palavras do jornal, enfatizando a condição de empate técnico.

A rigor, trata-se realmente de um empate. Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, não seria impossível que, se as eleições ocorressem hoje, o ex-governador tivesse 31% contra 26% da ex-prefeita. No limite, seria plausível também que a ministra chegasse aos 32% ante 25% do pré-candidato do PSDB.

Mas o que chama realmente a atenção é que, quando o tucano está na dianteira, não se sonega tal informação, ainda que a sua vantagem também esteja dentro da margem de erro. Os meios de comunicação, em verdade, não o omitem em absoluto. Mas a fundamental advertência quanto à margem vem sem dúvida com menos destaque.

Como evento político - e mesmo jornalístico – está o fato de a pré-candidata do PT ter subido na preferência do eleitorado, ao passo que o ex-governador caiu. Será que a imprensa não acha isso mais interessante do que o fato – importante, sem dúvida – de ambos estarem tecnicamente empatados?

A julgar pela gangorra e pelos números apertados, é bem provável que a disputa entre os dois candidatos seja acirrada e que traga muita emoção para o quadro político nacional. Este blog, no entanto, acredita – e decerto que não é nada original nisso – que nenhum dos dois candidatos tenha compromissos efetivos com a cidade, e aposta que o vencedor usará a administração da maior metrópole do hemisfério como um “tapa-buraco” até as eleições de 2010, de olho na governança do maior estado do país ou até mesmo na presidência da República. (a este propósito, leia o nosso Eleições municipais - São Paulo 2008: escolha o seu vice).

sábado, 29 de março de 2008

O tempo rodou num instante

O já lendário programa de entrevistas Roda Viva precisa dar uma diversificada nos seus jornalistas convidados. O tempo mudou, novas mídias surgiram, os velhos formadores de opinião já não conseguem... Bem, já não conseguem formar tantas opiniões assim!

Folha, Estadão, Veja e O Globo sempre estão representados no programa, sobretudo quando o entrevistado é figura do meio político. Nem todos os convidados para o centro da roda têm a coragem de um Hugo Chávez, por exemplo; por isso tem-se, vez ou outra, que agüentar a arrogância de jornalistas como Lourival Sant’anna e os seus “argumentos retirados da lata de lixo da história”.

Já está mais do que na hora de o programa chamar, especialmente para entrevistar políticos, alguns jornalistas de revistas como Carta Capital e Caros Amigos, e colaboradores de sítios como o Carta Maior e o Fazendo Média, entre outros.

A Carta Capital foi a única revista que, segundo órgãos verificadores, teve aumento de tiragem no ano de 2007; e o aumento de pessoas que preferem se informar pela Internet em vez de pelos órgãos tradicionais já é uma realidade à qual praticamente não cabe contestação. Ora, o que explica o fato de que os membros da Carta ou os representantes dos sites mencionados nunca - ou raramente - sejam convidados para o programa?

Não obstante a suposta ingerência do governo tucano de São Paulo nos negócios da TV Cultura, não há duvidar da honradez dos que a dirigem. Desse modo, sob pena de se bancar o ingênuo, vale acreditar que é o hábito – ou simplesmente o olhar parado no tempo – que faz os responsáveis pelo Roda Viva convidarem com tanta freqüência Renata Lo Prete, Carlos Marchi, Eliane Cantanhêde, o já citado Lourival Sant’anna etc.

Cada um desses jornalistas parece fazer as vezes de “a voz do dono” nos veículos em que trabalham. Não se deve, todavia, pensar que isso ocorre sob pressão ou de maneira combinada. Em verdade, vale, no caso deles, o que disse Noam Chomsky, em entrevista publicada na edição número 1 de Le Monde Diplomatique Brasil, sobre alguns importantes jornalistas da imprensa americana: eles têm toda a liberdade do mundo nos órgãos em que trabalham e não sofrem nenhum tipo de pressão ou censura por parte de seus patrões; mas eles só estão lá justamente porque suas idéias coadunam com a de seus empregadores! A TV Cultura, por intermédio do Roda Viva – talvez sem querer (?) -, dá voz às poucas famílias proprietárias de importantes órgãos de comunicação brasileiros: é a voz dos Frias, Mesquitas, Marinhos e Civitas que se ouve pelas bocas das Elianes, dos Marchis, Aiths e outros.

O mundo dá voltas! Deve-se admitir que em mais de mil programas o Roda Viva sempre deu conta do grande dinamismo da história e das conseqüentes vicissitudes da política, cultura, ciência, economia etc. Mas, por outro lado, os jornalistas convidados parecem remeter o telespectador para um tempo passado. Tempo em que a Folha tinha uma tiragem de 600 mil exemplares ou que a Veja fazia denúncias que ainda se podiam levar a sério.

Isso precisa mudar.

Roda!

domingo, 23 de março de 2008

O(s) mercador(es) de Veneza


A edição nº 15 de O judiciário paulista, publicação do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, trouxe interessante matéria sobre a relação do Direito com a Literatura, especialmente sobre como a “narrativa literária ajuda os operadores do Direito a desvelar a realidade social e jurídica”. Para tanto, fez rápidos comentários acerca de grandes obras-primas que vão desde As nuves, de Aristófanes, até O auto da compadecida, de Ariano Suassuna.

Um dos títulos tratados na matéria é o clássico O mercador de Veneza, de Shakespeare. Não por acaso a obra também foi recentemente debatida no colóquio “Filosofia e literatura política”, promovido pelo Departamento de Filosofia da Universidade São Judas Tadeu, de São Paulo.

O texto do dramaturgo inglês parece cair como uma luva para o momento histórico em que foi escrito, época que via o florescimento das cidades e o nascimento do Estado moderno. O Direito consuetudinário aos poucos dava lugar ao Direito positivo. Na peça, a personagem Shylock nada quer além da simples execução de um contrato, no caso a de que um devedor lhe pague com a garantia oferecida, qual seja, uma libra de sua própria carne.

Com Shylock não há conversa! Não adianta pedir-lhe clemência ou apelar para sua piedade. Ele quer apenas o cumprimento do contrato nos limites da lei. Em diversas situações, a personagem lembra da importância de se seguir a lei e de respeitar o que fora contratado, como forma de manter a segurança jurídica da cidade, argumento que, para assegurar a dramaticidade da peça, é bem aceito pela personagem Pórcia, que está travestida de juiz.

Mas é justamente a fidelidade à letra fria da lei e aos estritos termos do contrato que salva Antônio, o mercador de Veneza, de ter extraída uma libra de sua carne como pagamento de sua dívida a Shylock: o contrato não previa o sangue que forçosamente se derramaria com o corte da carne. E o pior é que a aplicação de uma lei municipal ainda traria maiores problemas ao credor! Sempre no estrito cumprimento da lei, Shylock ficou sem alternativas, afinal, era o contrato!

Passados quase cinco séculos ainda se ouvem alguns “shylocks” por aí. Geralmente eles clamam pela absoluta autoridade dos contratos. Isso ocorre sobretudo em assuntos econômicos e de política internacional. Normalmente se dá com a famosa chantagem que afirma que a suposta quebra, ou até mesmo a revisão, de um contrato por parte de um país traria algum tipo de insegurança jurídica que afugentaria investidores, principalmente os estrangeiros, daquela nação. Poucas vezes pergunta-se sobre a legitimidade daquele contrato, ou acerca de seus resultados práticos no que se referem ao interesse público, por exemplo. O que importa é que ele deve ser cumprido. Como um bom “Shylock”, eles simplesmente dizem: “Juro por minha alma que não há língua humana que tenha bastante eloqüência para fazer-me mudar. Ao conteúdo de meu contrato, eu me atenho”.

Esse assunto deve voltar à tona em breve. A propósito, em que dia mesmo ocorrem as eleições no Paraguai?

sexta-feira, 21 de março de 2008

Menos um campeão de "audiência"

O que é "audiência" na Internet?

O que determina que um dado site ou blog tenha pouca ou muita "audiência"? Quem e como se mede isso?

Pois a "baixa audiência" foi a justificativa lançada pelo portal iG para romper o contrato com o jornalista Paulo Henrique Amorim, cujo Conversa Afiada era hospedado no provedor.

Como bem apontado no blog do Azenha, PHA e seu Conversa Afiada eram utilizados como chamariz na publicidade do portal; alguma das chamadas do Conversa Afiada aparecia sempre com destaque na primeira página do iG; em algumas notícias do site, não raro se viam links para os comentários da página de Paulo Henrique Amorim.

É realmente difícil acreditar na história de que a retirada do Conversa Afiada pelo iG esteja ligada à suposta “baixa audiência” da página. No campo das conjeturas, não se pode deixar de considerar que uma possível verdadeira causa possa ter sido a posição radicalmente contrária, por parte de PHA, à formação da BrOi, assunto de interesse do portal, além de seu posicionamento crítico a pesos pesados da política brasileira.

Em um momento em que tanto se discutem questões como liberdade de expressão, transparência, respeito ao usuário/consumidor/cliente, é inadmissível que um grande grupo de Internet simplesmente retire do ar uma dada página, sem maiores explicações (ou apenas justificativas vagas) aos internautas. Não é, em última análise, um assunto interno da empresa. Com certeza ela pode tomar as medidas administrativas que queira, pode em tese até romper contratos desde que arque com as responsabilidades inerentes ao ato. Mas na qualidade de empresa da área de comunicações, o iG bem que poderia jogar aberto com os seus leitores e externar os reais motivos de sua decisão, ou ao menos avisar os freqüentadores da página, senão com antecedência, no momento da sua retirada do ar. Nada disso foi feito.

Mas quem quiser ler o PHA, é só acessar http://www.paulohenriqueamorim.com.br/.

O roto e o esfarrapado

É o roto brigando com o esfarrapado. Ou como diziam as mães de antigamente, “é o sujo falando do mal-lavado”.

A Record diz que a Globo, por intermédio de uma sua novela, desrespeita os evangélicos; executivo da “vênus platinada” diz que a emissora de Edir Macedo é que é intolerante com os católicos, e, para tanto, lembra do famoso episódio do chute na santa.

Ambas parecem ter razão. Com efeito, de há muito que a Globo demonstra alguma má vontade para com os evangélicos, valendo-se para isso da sua dramaturgia e, em menor medida, de seu jornalismo. A Record, na sua bronca com os católicos, permitiu a agressão a um símbolo da devoção dos seguidores da religião.

Em verdade, trata-se de um luxo que nenhuma das emissoras poderia se dar. Concessionárias de serviço público que são, deveriam respeitar o caráter laico do Estado brasileiro. Tanto a Globo quanto a Record, se querem fazer proselitismo religioso, precisam criar algum canal na TV fechada com esse fim e esperar que os que gostam de ver seus atos de desrespeito à fé alheia paguem para isso.

Deus que os perdoe!

O computador serve antes de tudo para fazer lição

A publicidade que pretende vender computadores domésticos sempre procura trazer aos pais o lembrete de que o computador é um bem obrigatório nos dias de hoje, pois sem ele os seus filhos não podem estudar.

É bem verdade: com o computador, a um simples toque, as crianças podem ter acesso ao maravilhoso mundo do conhecimento. Graças a essa fantástica máquina, aquele difícil trabalho de ciências, que deve ser entregue impreterivelmente amanhã, tende a ser um pouco menos hercúleo: uma rápida pesquisa no Google ou uma visita a Wikipédia podem tranqüilamente resolver o problema. É claro que se fará necessária uma leitura e talvez até mesmo uma compilação de diversos textos, para que nosso brilhante aluno entregue um trabalho de primeira e possa dizer com orgulho: “o computador me abriu inúmeras oportunidades, eu fiz minha pesquisa, consultei diversas fontes, e posso dizer que aprendi”.

E você, caro papai, certamente que tem um computador em casa para o seu filho não ficar para trás e poder, assim como os demais colegas de sala, realizar magníficos trabalhos, fazer pesquisas, reforçar o que aprendeu na aula.

Os publicitários e vendedores sabem muitíssimo bem que as pessoas – sobretudo os mais jovens, e especialmente as crianças e adolescentes – não vêem no objeto chamado computador outra utilidade que não seja a de auxiliar do ensino, um verdadeiro complemento à atividade escolar.

É bem provável que todos eles – pais, publicitários, vendedores – ficariam surpresos se um dia vissem um jovem de qualquer sexo usando o computador, esse verdadeiro aliado da educação, não para estudar, mas para jogar, ou se o vissem navegando pelas páginas do Orkut, ou batendo papo no MSN, ou acessando a página oficial na Internet de um artista de rock ou de uma boy band, ou...

Será que novos editoriais de primeira página virão?

Finalmente o Movimento dos Sem-Mídia informa que pretende fazer representação junto ao Ministério Público contra determinados órgãos de imprensa que supostamente provocaram pânico na população, noticiando uma epidemia de febre amarela, sempre negada pelo Ministério da Saúde, que teria levado pessoas a se vacinarem desnecessariamente, expondo-se assim aos riscos e aos efeitos colaterais da vacina.

Este escriba, tanto neste blog, quanto em missiva encaminhada à Folha, em trecho não publicado no “Painel do Leitor”, já apresentara a desconfiança de que o editorial de primeira página, “intimidação e má-fé”, publicado em 19 de fevereiro último, tinha menos a preocupação de reclamar dos possíveis abusos do direito de demandar por parte dos fiéis da Igreja Universal do que o de já se acautelar contra os prováveis processos que poderia sofrer por conta dos exageros cometidos em um caso de saúde pública. (Registre-se que o próprio jornal reconheceu em editorial o despropositado alarmismo midiático sobre a febre amarela, e acerca do episódio sofreu crítica interna de seu próprio ombudsman).

Se a própria Folha ou outros órgãos de imprensa citados pelo MSM não se manifestarem, certamente não faltarão os “observadores” de sempre para lhes tomar a dor, afirmando que se trata de um ataque à liberdade de expressão e ao direito à informação dos cidadãos. Tudo bem! Desde que a “liberdade de expressão” inclua a instauração do pânico entre a população divulgando uma epidemia inexistente, e desde que também se pense que o cidadão tenha o “direito” a ficar informado de que deve tomar uma vacina sem ser avisado dos riscos a que pode estar, desnecessariamente, se expondo...

sábado, 15 de março de 2008

O melhor candidato da oposição está no Paraguai

As pesquisas apontam que, se as eleições presidenciais fossem hoje, o PSDB, principal partido de oposição, ganharia com razoável facilidade, especialmente se o candidato da legenda fosse o governador de São Paulo, José Serra.

Mas há um “espectro” que ronda a oposição: é o espectro da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Não há nomes fortes – ou nomes com densidade eleitoral, como gostam de dizer os analistas políticos – dentro do PT. Mas o carisma pessoal do presidente e os bons resultados de seu governo podem ajudar a transferir votos para seu eventual candidato à sua sucessão em 2010.

Mas até lá muita água pode passar por debaixo da ponte. Uma boa debruçada na história, inclusive recente, demonstra que não se deve cantar vitória ou simplesmente adiantar tendências de resultados na política com grande antecedência.

Por isso, seria especialmente grata para a oposição brasileira a vitória do candidato Fernando Lugo na corrida presidencial do Paraguai. Ex-bispo católico, principal candidato de uma frente de esquerda, Lugo garante que reverá os preços da energia que o Paraguai fornece ao Brasil, com o intuito de financiar programas sociais.

O efeito prático já seria sentido de imediato aqui no Brasil: preços mais altos ao consumidor final de energia e aumento de custos da indústria, o que poderia provocar mais aumentos de preços de todos os outros produtos do mercado. E pressões inflacionárias, como bem mostram tanto as atas do BC como as falas do presidente Lula, devem ser combatidas de pronto. Como se sabe, o método mais fácil de ser utilizado é o famigerado aumento da taxa de juros. Em resumo, o resultado é menos investimento, menos crescimento, menos emprego etc.

Pensando apenas nos efeitos imediatos de uma retração econômica, mesmo que seja em doses pequenas, já se pode inferir que a popularidade do presidente cairia um pouco. Ademais – e principalmente -, a maneira de como se der as negociações entre Brasil e Paraguai pode reacender críticas à política externa brasileira, as quais invariavelmente afirmam que o Brasil é muito flexível com alguns governos da região, e que isso se daria por motivos ideológicos, como manifestação de uma “fraternidade esquerdista” que seria, para o governo Lula, prioritária aos interesses nacionais.

Explorar questões sob a ótica do nacionalismo é sempre um bom ingrediente numa situação de crise. Os meios de comunicação e os estratos médios para cima da sociedade provavelmente seriam os que mais empunhariam tal bandeira. Evidentemente que não se lembrariam de que não foram – nem são - tão nacionalistas assim nas questões envolvendo as privatizações do patrimônio público ou no desejo – nem sempre inconfesso – de que o Brasil fosse mais subserviente aos Estados Unidos, por exemplo.

Tal questão é, além de tudo, um verdadeiro caso de surrealismo político. Para o governo Lula, talvez fosse melhor que o candidato conservador Lino Oviedo faturasse a presidência paraguaia; já a oposição e toda a direita política brasileira se regozijariam da vitória do candidato esquerdista, principalmente se, a exemplo de Evo Morales, ele resolvesse cumprir as promessas de campanha, pois assim poderiam exorcizar o fantasma da popularidade do presidente brasileiro.

Como se vê, política internacional é sempre uma matéria difícil. Tal assunto deve voltar em breve neste blog.

sábado, 8 de março de 2008

Carla Bruni, a cantora

A revista Carta Capital, na sua edição de número 484, traz resenha do jornalista Pedro Alexandre Sanches sobre os dois discos de Carla Bruni, lançados no Brasil pelo selo ST2.

Carla Bruni é aquela ex-modelo que tem propiciado ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, a oportunidade de dar uma de popstar por onde quer que passe.

Ainda não ouvi a “cantora” italiana radicada desde criança na França. Mas se eu tivesse tempo e dinheiro trataria de fazê-lo o quanto antes. Afinal, segundo o crítico da Carta, num dos discos ela “cria melodias para poemas de Yeats, Emily Dickinson e Dorothy Parker”! E mais, diz o jornalista que a belíssima primeira-dama, embora de forma diluída, paga tributo à “nobre linhagem formada por Françoise Hardy, Marianne Faithful, Nico, Joni Mitchell”(!!!).

Quase caí de costas! Como diria a garotada, “as cantoras citadas não são nada fracas”. A alemã Nico, diga-se, ainda tem de interessante o fato de também ter sido uma modelo superbadalada nos anos 1960.

Só de raiva permiti-me ouvir Marianne interpretando “Sister Morphine”, Joni Mitchell com “Help Me” e “Coyotte”, “Tous les Garçons et les filles” com a Françoise e a íntegra dos álbuns Chelsea Girl e Desertshore, de Nico.

Depois dessas, a Sra. Sarkozy vai ter que esperar mais um pouco.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A "indústria da multa"

Em artigo recentemente publicado na Folha de São Paulo, e posteriormente em entrevista ao Conversa Afiada, a ex-deputada federal Zulaiê Cobra Ribeiro soltou o verbo para cima da situação caótica do trânsito da maior cidade do país, detentora de uma das maiores frotas de veículos do mundo, e aproveitou para lançar críticas à política de punição aos motoristas por intermédio das multas. A ex-deputada defende que o poder público deveria estar mais preocupado em educar e orientar os condutores, e não multá-los.

Caberia perguntar que educação ou orientação seriam essas.

É de se esperar que os motoristas já sejam devidamente educados. Aquele documento que se chama “carteira de habilitação” é como um diploma do cidadão que se mostrou apto – portanto educado – a dirigir um automóvel. Ou pelo menos deveria ser...

Então o sujeito avançaria o sinal vermelho, e o agente da prefeitura “orientá-lo-ia” que não se faz isso, pois o “vermelho” sinaliza ao motorista que pare? Ora, é uma verdadeira piada!

O exemplo do semáforo é uma covardia, pois não dá oportunidades aos que queiram refutar, afinal, até crianças da mais tenra idade sabem da elementar regra dos sinais de trânsito. Mas que não se deve falar ao celular enquanto dirige, também é algo de que os motoristas precisem ser educados?

Não por acaso foram usados os dois exemplos acima: este blog lança uma sugestão ao leitor: experimente andar por meia hora numa rua razoavelmente movimentada de São Paulo, e, com certeza, deparar-se-á, senão com as duas, pelo menos com uma das infrações epigrafadas. Esqueça todas as outras faltas possíveis; atente-se apenas às duas, e o leitor certamente verá que os “marronzinhos” e outros autorizados a disciplinar o trânsito teriam muito trabalho para “educar” e “orientar” os motoristas sequiosos de aprender.

Fala-se muito numa tal “indústria” da multa. A expressão parece acertada. Como toda indústria, essa só existe e – principalmente - sobrevive em virtude do fato de haver pessoas empenhadas em consumir os seus “produtos”. E que produto é esse? A multa, por óbvio. E da mesma forma que, por exemplo, uma indústria calçadista vai à falência se as pessoas pararem de prestigiar seus calçados, a “indústria da multa” também iria à bancarrota se os motoristas parassem de consumir seus “produtos”.

Senhores agentes de trânsito, policiais militares de São Paulo e todos que estão autorizados a multar, por favor, continuem fazendo seu digno trabalho, aplicando a lei na medida certa; deixem a orientação e a educação para o trânsito para as escolas de formação de condutores e para o sistema de normal de ensino no que lhe for cabível.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Conflito sul-americano

O conflito diplomático instalado na América do Sul desde o último fim de semana traz no seu bojo diversas questões importantes, ainda que algumas delas, em última análise, sejam meramente especulativas.

A primeira diz respeito aos reais interesses do presidente colombiano, Alvaro Uribe, que bem poderia estar buscando um enfrentamento mais agudo com as Farc, com o intuito de sabotar possíveis entendimentos, que tenderiam a culminar com a liberação de mais reféns que estão em poder do grupo. Isso porque para as ambições políticas do presidente, que, segundo algumas suspeitas, pretende um terceiro mandato, a luta com a guerrilha é plataforma indispensável: sem o inimigo em posição de combate, Uribe ficaria impossibilitado de sustentar a postura linha-dura que lhe tem dado respeitável popularidade.

A segunda questão diz respeito ao real estatuto das Farc: guerrilha, grupo revolucionário, grupo terrorista etc. Além disso, abre-se – ou amplia-se – a discussão de que se deveria haver limites na guerra contra o “terror”, ou na busca da segurança interna, de qual seria o papel dos órgãos internacionais na conceituação de um grupo insurgente etc. Tal tema está, sem dúvida, envolto em redomas de relativismo, afinal há quem considere, por exemplo, a invasão americana no Iraque como um ato de “terror” (não abençoada pelo ONU e baseada em mentiras, foi mero uso da força para se conseguir vantagens políticas e econômicas, e ademais utilizada com o objetivo de derrubar o governo então existente, o que é, no mínimo, “semelhante” ao terrorismo: seria essa uma leitura possível e que daria munição a quem pretendesse sustentar a tal afirmação).

Fora do terreno das conjeturas, o que sobra é o real aspecto violador das fronteiras e acintoso com a República do Equador por parte do Estado colombiano, fato concreto que foi rechaçado pela maioria dos países que se dispôs a comentar o caso. Com efeito, foi a própria noção de soberania que saiu arranhada no episódio.

Um terceiro ponto que vem se juntar aos anteriores é acerca da demora do Brasil em falar do caso. Houve em verdade comentários esparsos do presidente Lula condenando o ato, mas faltou ao Itamaraty agir mais rapidamente de forma “oficial”. Como um país pleiteante a assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil tinha que ter se imposto no caso como mediador “natural” do conflito. O Estado brasileiro foi rápido e transparente na condenação da guerra do Iraque, assim como repudiou com grande sobriedade a execução de Saddam Hussein. São dois exemplos de atitudes firmes e autônomas da política externa brasileira. Mas justamente quando se tem um conflito na porta, o Brasil mostra-se tão titubeante?

E o Brasil é a grande “fronteira” da América do Sul. Mesmo que o Ministério das Relações Exteriores, sob a orientação do Presidente da República, tenha buscado ser “diplomático” e ponderado ao extremo, preferindo expor-se às críticas a ser precipitado em questão tão delicada, não deve em absoluto deixar de considerar o fato de o ataque colombiano ter sido justamente um desrespeito ao sagrado princípio de observância dos limites territoriais. É uma daquelas coisas que o Brasil, por suas dimensões continentais, não deveria de modo algum negligenciar.

Como quarto ponto destaca-se a postura preventiva da Venezuela, que encaminhou suas tropas para a fronteira com a Colômbia nas primeiras horas após o ataque às posições das Farc no Equador. A imprensa brasileira apressou-se em querer transformar essa medida como um ato beligerante de Hugo Chávez. Esquece-se a nossa imprensa, entretanto, que há pouco tempo apregoou aos quatro cantos que o Brasil estaria muito vulnerável nas suas fronteiras, ao passo que o venezuelano armava-se até os dentes. Ora, Chávez, tendo em vista o papel central que seu país vinha desempenhando nas negociações com as Farc, principalmente com o objetivo de libertação de reféns, antecipou-se ao fato e colocou-se na defensiva. Noutras palavras, o Estado venezuelano achou que não seria bom negócio brincar com um vizinho que se apresentou capaz de desrespeitar regras básicas do direito internacional sem muita cerimônia. Ironicamente, o venezuelano decidiu – ele – tomar um cuidado que os luminares da imprensa brasileira achavam que os outros – inclusive o Brasil - deveriam tomar em relação a ele!

Os analistas não acreditam na radicalização do conflito. De todo modo, do ponto de vista da política pura, as farpas entre as três nações, com a guerrilha no meio, certamente continuarão. A OEA já entrou em campo; O Tribunal Internacional de Haia parece que também vai ter que dar um tempo na sua pasmaceira...! Vamos esperar.

sábado, 1 de março de 2008

A cidade de seis milhões de problemas

A cidade de São Paulo atingiu a marca de seis milhões de automóveis nos últimos dias. Na média aritmética é um carro para menos de duas pessoas. Trata-se de um dado assustador, como logo veremos.

Sem dúvida que tão assombroso número tem a ver com o momento razoavelmente aquecido da economia: a indústria automobilística não obstante a automação ainda gera um bom número de empregos diretos, inclusive com salários acima da média do mercado brasileiro, e, por ser o automóvel um produto de alto valor agregado, tal indústria ainda tem a capacidade de, mais notavelmente, gerar uma enormidade de empregos indiretos. Também é certo que a indústria automobilística é uma das principais responsáveis pela excepcional arrecadação de impostos observada nos últimos tempos. E não pára por aí, o setor de seguros e de financiamentos, fabricantes de acessórios e o mercado de usados lhe crescem a reboque. Não é difícil perceber que o ciclo virtuoso se instala com facilidade, graças à vertiginosa atividade de um setor ponta-de-lança como esse dos automóveis.

Mas há o outro lado da moeda: a destruição do meio ambiente, a degradação do espaço urbano, a frieza humana contrastando com o aquecimento do clima (sem qualquer tentativa de ser poético). Antes que alguém diga que isso é decorrência das péssimas condições do transporte coletivo, cuja má qualidade leva as pessoas a optarem pelo veículo particular, eu ousarei a – mais uma vez – afirmar que em verdade ocorre o contrário: o transporte coletivo numa cidade como São Paulo é muito ruim por culpa da prioridade comumente dada ao transporte individual.

Em primeiro lugar, o desenho urbano das grandes cidades em geral, e de São Paulo em particular, é pensado para o veículo individual: uma das marcas da cidade - e vocação de alguns de seus políticos mais populares - sempre foi a construção de grandiosas obras viárias, geralmente voltadas mais aos interesses particulares do que ao interesse coletivo. Em segundo lugar – se o leitor permite uma opinião idiossincrática bastante arriscada -, há o condicionamento psicológico: as pessoas não vêem outra solução ao “martírio” do transporte coletivo que não seja a aquisição do carro próprio, o que sem dúvida diminui a pressão social para a solução dos problemas do sistema. E em terceiro, há a questão do esnobismo social, com a idéia de status freqüentemente associada ao uso do automóvel, além da sensação de poder, de conforto e de modernidade que tal tipo de bem geralmente traz. Tudo isso parece ser um grande desestímulo a que nossos pragmáticos políticos gastem “cartucho” com investimentos no transporte coletivo, pois sabem que o eleitor se lembraria mais facilmente deles pelo que fizessem em benefício do uso do “carrão” particular.

Eis a feição de uma crise: temos um produto cujo uso de forma geral é a marca da irracionalidade, cuja popularização é danosa ao meio ambiente e à qualidade de vida, mas que se ausente nos termos em que se apresenta, poderia representar uma economia mais retraída, um Estado quebrado e pessoas inexplicavelmente mais infelizes. Ao contrário do verso de Rimbaud, “tornamo-nos mulheres velhas com coragem de amar a morte”! É realmente muito desalentador ter de às vezes regozijar-se de uma situação caótica: este blog mesmo, o leitor certamente se lembrará, em algumas oportunidades apontou os extraordinários números da indústria automobilística nacional como forma de desqualificar as incongruentes ressalvas da imprensa e da oposição à situação econômica do Brasil. É... Como se vê, não apenas os políticos são tão pragmáticos; tampouco somente a mídia tradicional o é. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!