domingo, 13 de abril de 2008

Peito de homem

Neste domingo faz exatamente uma semana que a Folha publicou a despedida do ombudsman Mário Magalhães, sem dúvida o melhor que já passou pela função. O motivo de sua saída foi o impasse quanto à crítica diária: o jornal não queria que ela continuasse sendo colocada disponível na Internet; Mário Magalhães não aceitava tal condição.

As críticas aos meios de comunicação têm se tornado mais freqüentes pelo menos nos últimos dois anos. Não deixa de haver, todavia, aqueles que defendem a atuação da imprensa e que vêem exagero por parte de seus críticos. No caso da saída do ombudsman, porém, não se tem visto manifestações por parte daqueles que ainda têm alguma coragem de defender os meios de comunicação. Em vez de buscar confirmação do que dizemos nos órgãos independentes, talvez valesse a pena uma visita à seção de cartas da própria Folha (do jornal impresso e também do Folha Online), para se ter a dimensão do repúdio à situação que provocou a saída de Mário Magalhães.

A figura do ombudsman foi uma idéia bem-vinda desde a primeira hora. E a publicação, no site, da crítica diária do titular do posto era uma maneira de o leitor acompanhar as ressalvas e elogios à correria do dia-a-dia de um jornal. Por meio da crítica diária, poder-se-ia até voltar a ler uma matéria, para confirmar ou para entender melhor as assertivas do ombudsman. Está certo que talvez internamente não ajudasse muito na qualidade do jornal, haja vista que, em memorável texto de crítica semanal, o próprio Mário Magalhães comparou o ombudsman a “peito de homem”: existe, mas ninguém sabe se serve para alguma coisa! Mas independentemente da falta de ressonância das críticas na redação, ninguém poderia deixar de reconhecer que a medida era um oásis de transparência no jornalismo brasileiro.

E agora, como é que fica o discurso da transparência? A Folha decerto que não poderá mais encampá-lo. O já citado destaque que as seções de cartas deram aos leitores que reclamavam da saída de Magalhães certamente que faz parte de uma tentativa desesperada por parte do jornal de reafirmar sua independência, sua clareza de propósitos, sua abertura a críticas etc.

Muitos enxergaram na determinação de não mais permitir a publicação da crítica diária um ardil por parte da Folha, que provavelmente sabia que o ombudsman não aceitaria tal imposição. O jornal talvez não quisesse mesmo era a continuidade de Mário Magalhães. Afinal, não deve ser nada fácil ter que aturar alguém freqüentemente apontando a parcialidade do jornal, a blindagem em relação a José Serra, a falta de tom crítico ao PSDB, a inexplicável diferença de tratamento ao atual e ao anterior Governo Federal etc.

O jornal já tem um novo ombudsman? Se tem ou deixa de ter não faz mais nenhuma diferença. Por mais que um novo titular consiga adquirir a confiança do leitor, sempre ficará uma pulga atrás da orelha: “será que por baixo dos panos esse cara não acata imposições da diretoria do jornal?”, é o que bem pode perguntar um desconfiado leitor.

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