sábado, 21 de junho de 2008

"Qualquer um" acha que pode falar "qualquer coisa"

O blog do Azenha colocou à disposição dos leitores trecho de comentário de Lucia Hippolito na rádio CBN que, para criticar o técnico Dunga, encontrou um jeito de dizer que o presidente Lula teria feito um mal ao país, pois, por culpa dele, que nunca foi “nada” e virou presidente, “qualquer um no Brasil se achava capaz de fazer qualquer coisa”. Ela aproveitou para dizer, de quebra, que o mesmo valia para a ministra Dilma Roussef, que, segundo ela, quer “do nada” ser candidata no ainda longínquo pleito de 2010.

Então quer dizer que o presidente Lula nunca havia sido “nada”? Sindicalista em plena ditadura, deputado federal constituinte, presidente de partido político, presidente de instituto: tudo isso é “nada”? Dilma Roussef, por seu turno, já houvera passado por secretarias de governos estaduais; é ministra desde o início do governo Lula, atualmente ocupando uma segunda pasta. Ademais, pelo que me consta, ela não é candidata a absolutamente nada. E se fosse, não caberia à Lucia Hippolito decretar a impertinência de sua candidatura, sobretudo proferindo sua opinião num objeto de “concessão pública”.

A comparação das situações de Dunga e Lula, em minha opinião, não se sustenta numa análise mais aprofundada. O presidente Lula foi alçado ao seu posto pelo voto direto: após ser escolhido em convenção partidária, colocou-se à disposição do eleitor, que poderia, se quisesse, ter sufragado algum outro preferido de Lucia Hippolito. Já o caso de Dunga não foi o de escolha democrática. Provavelmente o técnico não foi bater à porta da CBF para pedir o cargo. Certamente os cartolas da entidade é que o procuraram: Dunga talvez não tenha achado que pudesse ser técnico da seleção; "acharam" isso para ele! O ex-capitão da seleção decerto não contava com o apoio popular e, ouso dizer, não assumiria o posto se dependesse de escolha por sufrágio universal. Trata-se, portanto, de situações muito diversas, não merecedoras da leitura – um tanto ingênua – da cientista política e historiadora.

Agora imagine outra situação, leitor: o técnico do escrete canarinho poderia muito bem dizer: “tem gente aí que – provavelmente – nunca jogou bola, que é comentarista de política, e acha que pode ficar falando de futebol, acha que pode palpitar a respeito de quem deve ou não deve ser técnico; será que ela acha que ‘qualquer um’ pode do ‘nada fazer qualquer coisa’, como usar uma rádio para espinafrar um técnico de seleção, por exemplo?”. Só que tem a liberdade de expressão... Senha para todo tipo de irresponsabilidade midiática.

Mas sejamos condescendentes com a Lucia. Vê-se no blog dela que ela lida com o futebol de maneira singela, como mera torcedora mesmo, com direito aos arroubos de paixão e de irracionalidade geralmente emprestados à prática. Observem que ela, não obstante sua formação científica, na hora do “vamuvê” até apela para a reza!

E por falar nisso, quanto mais eu rezo...

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