sábado, 30 de agosto de 2008

Petróleo e eleições

Segue abaixo colaboração do historiador José Raimundo. Trata-se de um texto provocativo que debate o que devemos esperar do Brasil após as importantes descobertas do pré-sal e como o assunto perpassa pelo tema "eleições 2008", sobretudo na cidade de São Paulo.

Este espaço coloca-se à disposição dos que discordam do professor "Zé Raimundo" ou que queiram de alguma forma participar do debate.


Eleições em São Paulo, petróleo e o futuro do Brasil - por José Raimundo

Em que pese a chatice gerada pela propaganda eleitoral, no rádio e na TV, é importante atentarmos para o fato de que paralela a esta questão existe uma outra discussão já iniciada, que trata da descoberta de petróleo na camada pré-sal (fundo do mar, numa área que vai do Espírito Santo a Santa Catarina) e que as estimativas feitas dão conta da existência de mais de 50 bilhões de barris de petróleo de boa qualidade.
Alguém sabe quanto isto significa em dólares ou mesmo em Real? Um valor incalculável de muitos bilhões e que pode muito bem tirar o Brasil do seu secular atraso e colocá-lo na senda do desenvolvimento. Tudo vai depender de como a população irá organizar-se para intervir neste debate. Isto porque as empresas estrangeiras e grupos econômicos internos descompromissados com o Brasil e sua gente já se articulam para abocanhar essa riqueza.
Se não nos engajarmos nisto agora poderá haver uma repetição, resguardadas as devidas proporções de tempo, do que ocorreu com a nossa riqueza gerada através da cana-de-açúcar, de Pernambuco, nos séculos XVI e XVII, do ouro, de Minas Gerais, no século XVIII, do algodão e do café, nos séculos XIX e XX, e da qual nada sobrou para o povo, que, apesar de tudo, continuou pobre e, na sua maioria, excluído.
Não se trata aqui de nacionalismo tacanho, ou de querer ideologizar o assunto, mas a defesa do “mar de petróleo” existente na camada pré-sal interessa a todos nós, e o presidente Lula vem defendendo que este permaneça sob controle do Estado para ser transformado em recurso voltado à educação e ao desenvolvimento do Brasil, tendo em vista acabar com a miséria. Por isto mesmo é preciso que haja um repensar sobre o processo eleitoral deste ano, especialmente em São Paulo, cujo resultado acabará por decidir os rumos das eleições em 2010 para presidente da República e, assim, os destinos dessa riqueza que está a seis mil metros no fundo do Oceano Atlântico.
A quem entregaremos os destinos da nação em 2010? Aos que entre 1994 e 2002 privatizaram (entregaram de bandeja) empresas estatais ricas, lucrativas e consideradas estratégicas, como as siderúrgicas (CSN, Usiminas etc.) e as mineradoras (Vale do Rio Doce, por exemplo), descapitalizando assim o Estado brasileiro ao transferir parte substancial do patrimônio público a particulares, ou devemos mantê-los com o grupo hoje à frente do governo que está demonstrando nesse momento crucial compromisso em preservar essa riqueza nas mãos do Estado e transformá-lo em beneficio para a maioria e não para grupos minoritários de indivíduos que nos últimos 500 anos têm governado o Brasil de costas para o seu povo?
Além do mais, no nosso entendimento, cabe à Petrobrás, com sua estrutura, conhecimento (know-how) e corpo técnico competente operacionalizar e gerir essas descobertas e, ao governo, seu controlador, aumentar significativamente a sua participação acionária no capital da companhia e, se for o caso, estatizá-la por completo, de modo que se dispense a possibilidade de criação de uma nova empresa pública para cuidar dos negócios do petróleo da camada pré-sal.
Toda essa reflexão torna-se fundamental e passa inevitavelmente pela disputa eleitoral deste ano na capital paulista, uma vez que, como foi dito acima, São Paulo possui a vantagem de decidir as eleições presidenciais e, entregar o poder aos alckmins, aos kassabes e aos malufes, é um risco muito sério frente ao que está posto e isto não devemos sequer tolerar, muito menos permitir.
Portanto, o que se pretende é uma profunda reflexão e uma tomada de posição sobre a candidatura de Marta Suplicy à prefeitura da maior e mais importante cidade do Brasil, como parte da estratégia não só para administrar bem São Paulo, mas sobretudo, para 2010, visto que os dois grupos com chance de vitória nestas eleições possuem estratégias distintas sobre esta e outras questões não menos importantes. O primeiro (PT, PSB, PC do B e PDT), não obstante ressalvas, demonstra compromissos que o segundo (PSDB e DEM) já revelou não ter, visto que sua ação política é neoliberal e entreguista, e quem se preocupa de fato com os problemas do nosso país não pode desperdiçar esta oportunidade histórica de eleger uma boa prefeita para o nosso município e ainda poder ajudar a construir um Brasil verdadeiramente para os brasileiros.

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