sábado, 18 de outubro de 2008

500 anos de PSDB

Após a batalha campal que envolveu policiais civis em greve e policiais militares de São Paulo, próximo ao Palácio dos Bandeirantes, o governador José Serra apressou-se em atribuir a confusão ao PT e a políticos ligados a uma central sindical, afirmando tratar-se de ato de motivação político-eleitoral.

Não é a primeira vez que um político do PSDB tenta associar a idéia de politicagem eleitoreira – geralmente ligada ao PT e a seus quadros - a eventos populares ou de certos grupos tidos como enérgicos, polêmicos ou, vai lá, violentos. Antes de Serra, tucanos importantes como Alckmin e Fernando Henrique já usaram desse expediente com o intuito de desqualificar movimentos sociais, ou com o objetivo de colar num partido ou a algum político adversário a pecha de agitador ou de envolvido com práticas delituosas.

O que parece haver de fundo nisso tudo é uma incorporação, por parte do Partido da Social Democracia Brasileira, de análise própria da historiografia e da sociologia brasileiras que afirma ser o nosso povo passivo, do tipo que nunca conquistou nada, sempre dependente das migalhas oferecidas pelos donos do poder. Noutras palavras, a maioria de nossos direitos - assim como de nossas conquistas - veio de cima para baixo, a despeito de uma ou outra sublevação, em geral derrotadas, aqui e ali. Serra e outros importantes nomes de seu partido têm, com efeito, vestido o figurino das elites e oligarquias brasileiras, que, não somente constatam isso, mas querem mesmo ver tal modelo se reproduzindo; nada mais natural, portanto, que desconfiem da espontaneidade e legitimidade de grupos e movimentos que se afirmam independentes, enxergando no seu grosso uma mera massa de manobra operada por espertalhões.

Impossível, nessa altura do campeonato, não se lembrar de debate no segundo turno da eleição presidencial de 2006, no qual o presidente Lula, então candidato à reeleição, afirmou a Geraldo Alckmin que o grupo do ex-governador mandara no Brasil havia 500 anos, exatamente até a chegada dele (Lula) ao governo. Alckmin deu uma de bobo, dizendo que o PSDB não tinha tanto tempo assim de existência! Mas a fala de Serra, com o seu descaso para com a organização dos trabalhadores da Polícia Civil de São Paulo, vem dar a mais absoluta razão a Lula, que quis, àquela época, dizer que o ninho tucano é claramente desligado do povo, aproximado das elites, e nesse diapasão, tendente a acreditar que as pessoas não sabem o que fazem, que elas não têm vontade própria, que são incapazes de lutar por seus anseios e direitos, enfim, que estão sempre dispostas a serem apenas velhas e boas “vaquinhas de presépio” dos últimos 500 anos. Em conclusão, para o PSDB, este é o país do “de cima para baixo” mesmo e, pelo jeito, para eles é bom que continue assim.

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