sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O cruel mundo de Meirelles

Já tivemos ocasião de dizer neste blog que a política monetária adotada nos últimos tempos no Brasil é bem mais complicada do que parece. Ela está até mesmo ligada àquilo que se pode chamar de contradições estruturais do capitalismo, ou qualquer outro nome pomposo que o leitor prefira. Já uma expressão popular que bem resume a saga do BC brasileiro é "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".

A decisão de cortar a SELIC em 1%, ocorrida nesta semana, todos sabem, não veio do nada. Não foi um lampejo de lucidez na cabeça dos membros do COPOM - até porque dois deles queriam que o corte fosse de apenas 0,75%. Em verdade, a comemorada medida só ocorreu por conta do desemprego acima da média para o mês de dezembro e também por conta de alguns sinais de retração, representados inclusive pelo próprio bom comportamento da inflação.

Henrique Meirelles não se cansa de lembrar que o Brasil, em 2008, foi o único país entre os que adotam o sistema de metas de inflação a conseguir se manter dentre os extremos que estipulou. Mas é justamente aí que mora o custo. Com uma política de juros menos austera, e com um conseqüente arranque de investimentos, talvez o país não tivesse conseguido segurar seus preços. Por outro lado, o alto fechamento de vagas provavelmente não teria sido verificado.

A inflação é, com efeito, uma espécie de câncer, ou como se diz por aí, um tipo de "imposto" pago sobretudo pelos mais pobres. Mas não faltariam também aqueles que prefeririam pagar um pouco mais caro por tudo, mas tendo ao menos um empreguinho a lhe garantir algo no final do mês. É a dura decisão dos conselheiros. Deveria também ser objeto de discussão de todo o país, de modo a saber que dificílima escolha fazer.

A grande verdade é que o capitalismo é assim mesmo, amigos: está amparado em contradições e sobrevive montado numa crise estrutural. Juros altos: preços sob controle, mas com menos investimentos e conseqüentemente menos empregos; juros menores: mais investimento, mais empregos, mas com preços mais altos, com risco até de que fujam das rédeas.

Definitivamente, não é fácil.

Leia também:
Independência ou... independência

Nenhum comentário: