terça-feira, 31 de março de 2009

Todas as horas do planeta

No último sábado (28-03) ocorreu a Hora do Planeta, iniciativa idealizada pela Worldwide Fund for Nature (WWF) que pretendia que as pessoas desligassem as luzes e demais aparelhos elétricos entre 20h30 e 21h30 em todo o mundo. Tudo em nome do combate ao aquecimento global.

A medida sem dúvida foi bacana e trouxe no seu bojo um elemento simbólico nada desprezível, pois incorporou a idéia de que cada um pode dar alguma contribuição, ainda que pequena, sob a rubrica dos "pequenos gestos", para um planeta melhor. Mas vamos devagar com a empolgação que se ensaiou lá e cá em virtude de razoável adesão à brincadeira.

Em realidade, mudança mesmo só viria se estivesse ligada a algum tipo de transformação das formas de produção reinantes. O estado em que se encontra o planeta é resultado das vicissitudes históricas que o modelo econômico tido como vitorioso impõe. É uma obviedade, mas o leitor decerto a desculpará por saber que se trata de uma triste verdade que precisa ser dita.

E a gravidade da situação é mostrada com crueza no estado de crise que ora vivenciamos. Seria de se esperar, para um mundo mais ecologicamente equilibrado, que se consumisse com mais responsabilidade, o que passaria pelo fim do desperdício e do gasto com supérfluos, além do controle da compulsividade e o fim do imediatismo. Isso, no atual momento de dificuldade econômica, já vem de alguma forma ocorrendo; mas em vez de se comemorar a possibilidade de melhora das condições do meio ambiente, o que se vê é o medo da depressão, da fome, do desemprego, da volta de contingentes à pobreza que parecia ter ficado para trás. Numa análise fria, defender a correção política nas atuais circunstâncias seria um tiro de misericórdia no combalido sistema capitalista. E quebras abruptas de paradigmas podem ser dolorosas no curto prazo. Difícil imaginar quem estaria realmente disposto a enfrentar isso de peito aberto.

O caso dos automóveis no Brasil é bastante emblemático disso que vimos dizendo. Não há negar que os carros são dos principais vilões para o meio ambiente, sobretudo quando se fala no famigerado aquecimento global. A crise tinha tudo para derrubar o seu consumo e, conseqüentemente, sua circulação no país. Mas o Governo Federal tem lançado pacotes e incentivos reiteradamente para não permitir que isso ocorra, de olho, é claro, na manutenção dos empregos no setor e com a justificada preocupação com toda a cadeia que se mantém e se desenvolve a reboque do ramo automotivo.

A grande verdade é que medidas pequenas, simbólicas e pontuais como a do último sábado podem ser importantes, especialmente do ponto de vista da conscientização. Mas querer mudar as coisas para valer não parece ser da vontade da maioria, pelo menos por enquanto. Como bem disse algum tempo atrás a deputada Petra Kelly, do Partido Verde alemão, “todos falam numa volta à natureza, mas ninguém está disposto a ir a pé”.

sábado, 28 de março de 2009

Estadualzão? Estadualzinho!

Mais do que a qualidade dos espetáculos, o que se tem visto nas manchetes referentes aos campeonatos regionais de futebol Brasil afora são não raras cenas de violência explícita envolvendo torcedores: muitos se digladiando entre si, alguns enfrentando a polícia, outros sacrificando a própria vida. O recurso a tais atos violentos obviamente merece o mais veemente repúdio, independentemente das circunstâncias. Mas, se é que um pouco de cinismo é permitido, o que mais impressiona é que haja quem arrisque a própria vida e a de outrem ou que se atreva a desafiar a lei em nome dessa estupidez que se chama campeonato estadual. Mas, acreditamos, já deve ter gente competente analisando tal comportamento a luz dos estudos de anomias sociais. Registremos por enquanto nossa incompreensão de que se mate e se morra por tamanha besteira.

Campeonato paulista, campeonato carioca, mineiro, gaúcho, cearense: esses troços não somente não servem para absolutamente nada, como é deveras difícil entender por que ainda conseguem agradar àqueles que deveriam ser os mais exigentes torcedores do mundo. Será que apenas as dimensões continentais de um país absolutamente louco por futebol explica o interesse por tamanha sandice? Ou será que o empenho principalmente da televisão – e de toda a mídia a reboque – é capaz de inculcar nos incautos torcedores que eles precisam se deslumbrar com os ridículos torneios disputados nos seus estados? Descartamos, por ora, a baboseira da rivalidade ou da tradição, haja vista que justamente o excesso de jogos provocado por campeonatinhos babacas como esses banalizou encontros que poderiam, de fato, guardar alguma aura especial para os lugares em que se realizam (um Corinthians e Palmeiras, por exemplo, poderia ser um evento que parasse a cidade de São Paulo; mas hoje, em virtude do excesso de confrontos diretos, não representa quase nada).

O campeonato paulista, porém, tem atraído especial interesse por causa da presença do já lendário jogador Ronaldo, que surpreendentemente vem fazendo boas apresentações. O mais certo entretanto seria apiedar-se da situação do craque, o qual deveria estar atuando num campeonato mais respeitável, como aliás tem sido o digno “Brasileirão”, que finalmente encontrou seu norte no justíssimo sistema de pontos corridos. Tomara que o craque não melhore muito e principalmente que não entre no melhor de sua forma tão rapidamente, caso contrário logo sairá do Brasil e ficará de fora de um torneio que de fato mereceria ter suas imagens distribuídas para todo o mundo, diferentemente da bobagem que ousam chamar de “paulistão”.

E por falar em bobagem, o que dizer do time do Palmeiras? A equipe tem desempenho magnífico no “paulistinha” (chamemo-lo mais apropriadamente assim) ao mesmo tempo em que passa vergonha na gloriosa Libertadores. Será que existe algum palmeirense na face da terra que não preferiria que a coisa se desse de forma inversa?

Não tenho dúvidas que muitos cronistas esportivos, alguns poucos torcedores e até mesmo jogadores pensam de maneira semelhante à que humildemente expomos aqui. Será que não está na hora de se iniciar uma campanha para pôr fim ao circo de horrores representado pelas pendengas estaduais?

No ano passado, a coisa já era horrível. Se quiser passar mais um pouquinho de raiva, leia o que escrevemos lá clicando aqui.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Marolinha sem aspas

Alguns colunistas da mídia adotaram a expressão marolinha, utilizada pelo presidente Lula para se referir ao tamanho com que a crise econômico-financeira internacional iria atingir o Brasil. O vocábulo tem sido geralmente destacado entre aspas. O uso desses sinais não parece estar sendo com o intuito de indicar que se trata de uma metáfora, ou de gíria ou algo que o valha; em verdade, o que se quer é sugerir que o presidente pode ter dado uma bola fora, ainda mais que a imprensa tem sido bastante competente no tentar demonstrar que a crise teria desembarcado no Brasil em níveis que mereceriam ser associados a fenômenos naturais bem mais devastadores. Noutras palavras, as aspas que envolvem a marolinha presidencial, quando utilizadas pelos estafetas da imprensa, estão carregadas de ironia e sarcasmo.

Lula sabia que a crise atingiria o Brasil em alguma medida, tanto que admitiu que seríamos tocados por ela na forma da tal marolinha, o que significa dizer que ele não se iludia com o fato de que ela não chegaria de nenhuma maneira aqui, como tentaram distorcer alguns. O presidente, em verdade, buscou apenas demonstrar que não haveria tsunami (metáfora antípoda à do presidente brasileiro) na economia brasileira e por isso escolheu um termo que, na opinião dele, melhor dimensionaria os efeitos da crise neste país tropical. Que se analisem friamente os dados após cerca de dois anos de maus resultados em nível global e forçoso será concluir que, com efeito, no Brasil a crise é só a tal marolinha mesmo.

A bem da verdade, não foi apenas o presidente da República que se mostrou por assim dizer otimista com os possíveis efeitos da crise no país. Órgãos como a OCDE e o FMI já haviam, antes dele, afirmado que o Brasil era das nações menos vulneráveis aos maus bocados internacionais e que, ipso facto, levaria poucos arranhões oriundos desse acidente universal. O ingrato Lula deveria ter dado os créditos!

A imagem da marolinha brasileira vem sofrendo a tentativa de desmoralização promovida pela mídia calcada principalmente em dois resultados bastante significativos: a queda do PIB no quarto trimestre de 2008 e os fechamentos de vagas no mercado de trabalho nos meses de dezembro e janeiro últimos. Mas vamos lá: não obstante a contundência com que o mercado foi atingido em 2008, a grande verdade é que dezembro sempre foi um mês de expressiva dizimação de empregos, mesmo em anos de bonança internacional; já o PIB do último quartel do ano passado – nunca é exagerado lembrar – foi desastroso se comparado com o terceiro trimestre, mas positivo se confrontado com idêntico período de 2007 – fora o fato de que no acumulado do ano obteve excelente resultado, como já apontamos noutra postagem. Merece nota também a informação de que o mês de fevereiro foi positivo na criação de vagas do mercado formal de trabalho. A imprensa, como se sabe, quis minimizar o resultado que, realmente, é marcadamente inferior ao do mesmo mês de 2008; mas, num mundo em que se comemora quando o desemprego aumenta em nível menor do que o esperado, deveria ser celebrado o tímido porém consistente resultado do mercado de trabalho brasileiro no segundo mês de 2009.

Os jornais brasileiros fizeram, por motivo político, uma aposta na crise. Tentam de toda forma mostrar que acertaram. Já a rede norte-americana CNN parece pensar de maneira diversa: o mais famoso canal noticioso do mundo afirmou, quando do encontro dos presidentes Lula e Obama, que uma das grandes qualidades do Brasil neste momento é que o país tem sofrido muito menos com a crise quando comparado a outros países da mesma importância. Yes, nós temos marola!

Um amigo conta-me que propaganda do DEM – que não tive oportunidade de assistir – vem tentando explorar a metáfora molhada de Lula, procurando mostrar a suposta infelicidade da fala presidencial. O cerco se fecha: o partido de José Agripino Maia tem na grande imprensa o mentor intelectual de seu discurso. O assunto crise econômico-financeira internacional (a bola da vez) tem que ser martelado diuturnamente na mídia, para que partidos oposicionistas, claramente sem projeto, tenham do que falar e possam dar suas alfinetadas de vez em quando. É essa a importância da vetusta imprensa no Brasil de hoje!

sábado, 21 de março de 2009

Se subiu tem que descer!

Duas pesquisas (Datafolha e CNI/IBOPE) divulgadas na sexta-feira, 20-03-2009, apontam queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresentando pequeno declínio tanto da aprovação de seu governo quanto de seu desempenho pessoal. Os seus números positivos, entretanto, são muito vigorosos e ainda se enquadram nos mais altos já verificados em tais tipos de consulta no Brasil (só para se ter uma idéia, de acordo com o Datafolha, Lula tem agora 65% de ótimo e bom; o pico de FHC, por exemplo, foi de apenas 47% em 1996).

É possível que o presidente brasileiro já houvesse atingido o seu ponto máximo nas pesquisas anteriores e que, portanto, só pudesse manter ou cair de agora em diante. No entanto, vem sendo afirmado que o revés da popularidade presidencial estaria ligado à deterioração da situação econômica do país, o que noutras palavras quer dizer que a crise internacional teria entrado aqui com os dois pés. Foi o que se viu enunciado, por exemplo, em matéria publicada na Folha Online, sentenciando logo de cara que “a piora da crise econômica mundial fez a aprovação do governo Lula cair”, e foi este também o tom de grande parte da repercussão dos resultados das pesquisas na TV: o canal Bloomberg, especializado em economia e finanças, deu grande destaque especialmente ao levantamento do IBOPE, o que por si só deixa bem clara a associação dos resultados com a situação econômica.

A tentação de se fazer ilações é óbvia, em virtude dos enfoques adotados pelas sondagens: deduz-se da observação rasteira do que foi exposto na mídia que aumentou a percepção da crise e que isto fez a aprovação de Lula diminuir. Em reforço à tese, lança-se mão do fato de que em novembro de 2008, de acordo com a pesquisa Datafolha, 72% dos entrevistados diziam ter conhecimento da crise, e agora o número chega a 81%. Ora, mas será que dá para considerar 72%, ou seja, quase ¾ do universo da pesquisa anterior, número tão desprezível assim? Como já expusemos acima, talvez a popularidade do presidente tenha caído porque já estava na hora de cair mesmo. Convenhamos que havia pouquíssima possibilidade de ela subir além do patamar que já alcançara.

Não apenas a “melhor informação” sobre a crise, mas o sentir seus perversos efeitos na própria pele pode ter sido outro dos fatores que contribuíram para a decaída do petista, sustentam alguns colunistas e blogues. Mas vale lembrar que a pesquisa da CNT/Sensus, com números superlativos favoráveis ao presidente Lula, havia sido colhida no mês de fevereiro último, portanto já sob os efeitos dos maus resultados no mercado de trabalho nos meses de novembro e dezembro de 2008 e janeiro de 2009 (mercado este, aliás, que já apresentou pequena recuperação em fevereiro).

No campo da política, as relações de causa e efeito não devem se pautar por tanto simplismo. Caso contrário há motivos para abraçar a preocupação já lançada pelo blogueiro Eduardo Guimarães (ela também de algum modo uma simples ilação): se se compra a certeza de que notícias de crise contribuem para a degradação da aceitação do governo Lula, e se se reconhece que elas mexem com a moral da população a ponto de provocar retração e desemprego, e se finalmente se confirma que o desemprego traz claro descontentamento com o ocupante do Palácio do Planalto, logo se pode concluir que o catastrofismo midiático tende a se agigantar nos próximos meses, já de olho em 2010.

A idéia mais ou menos geral é que somente um Lula muito forte pode conseguir dar vida à candidatura da ministra Dilma Roussef. A popularidade assoberbada do presidente assusta -e muito - a oposição (incluindo a mídia). Por isso, a queda do presidente, ainda que muito pequena, certamente tem sido motivo de comemoração nas “alamedas barão de limeira” e nos “jardins botânicos” da vida, talvez mais até mesmo do que, por exemplo, no Palácio dos Bandeirantes. (e por falar no Bandeirantes, que tal uma pesquisa sobre a popularidade do governo Serra e da administração Kassab, especialmente nesses dias de crise na segurança ou de caos provocado por chuvas?).

Demissão oportunista - ou pacto de elites

Delfim Neto certa feita disse que “jornalismo de economia não é nem uma coisa nem outra”. A frase é perfeita para gente como Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg. Não a merece, todavia, o competente Joelmir Betting, do grupo Bandeirantes.

Joelmir, na sua coluna para o BandNews em 13-03-2009 (assista aqui) comentou acerca do fenômeno “demissão oportunista”. Em linhas gerais, isso se dá quando se aproveita um “ambiente de crise” para fazer um enxugamento nas empresas, mesmo que disso não haja tanta necessidade. O comentarista da Band sentencia que o discurso da crise acaba por dar uma “roupagem politicamente correta” a demissões sem sentido.

Antes de mais, registre-se que essa bola já vinha sido cantada em muitos blogues e sites independentes, além de por sindicalistas e por alguns nomes do governo. Ademais, fica sugerida no comentário de Betting a responsabilidade dos meios de comunicação nos dramas vividos pelos trabalhadores. O terrorismo midiático, levado a cabo mesmo em momentos que a situação se mantinha sob controle no Brasil, serviu aos grandes grupos empresariais (não por acaso grandes anunciantes) como desculpa para fazer alguns “pequenos ajustes” no seu contingente de força de trabalho.

Já tivemos dois exemplos recentes de como jogar água no moinho do discurso da crise: o PIB brasileiro de 2008 alcançou extraordinários 5,1%, mas a notícia que a imprensa considerou “boa” mesmo foi a da queda de 3,6% no último trimestre (!); a excelente notícia de que a criação de vagas formais em fevereiro ficou positiva foi minimizada, por sua vez, pela informação de que o resultado é extremamente inferior ao do mesmo mês do ano passado.

Se quisesse, portanto, a imprensa poderia escolher os aspectos mais positivos das notícias. Mas isso, convenhamos, também não seria de todo certo; o melhor a fazer seria contextualizá-las e, conseqüentemente, equilibrá-las. Mas ao adotar sempre o pior ângulo, a mídia aprofunda o sentimento de crise e deixa tranqüila a consciência dos empresários que querem reduzir custos dizimando postos de trabalho (de quebra, ainda ajuda os seus amigos do PSDB e do DEM). Isto é que é pacto de elites!

Encontro de Obama e Lula: mais do que química

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama encontraram-se no dia 14 de março, em Washington. A imprensa destacou a boa “química” entre ambos e o bom humor da conversa, a qual ainda contou com um tempo sensivelmente superior ao que havia sido reservado para o encontro.

Quanto às discussões propriamente ditas, a imprensa – especialmente a brasileira, a norte-americana nem tanto - fez muito pouco caso: não chegaram a nenhum acordo nem tomaram decisões importantes; discutiram o encontro do G-20e falaram de etanol, mas sem grandes aprofundamentos; falaram ainda de um caso “menor”, como o do pai estadunidense que quer a guarda de filho que está no Brasil. Foi nesse clima que a mídia brasileira minimizou a relevância da reunião.

Mas será que os encontros de chefes de estado, de maneira geral, costumam ser mais frutíferos do que esse de Obama e Lula? Bem, talvez somente naqueles casos em que se “arma” uma situação para se resolver alguma pendência. Nestes casos, porém, ninguém é ingênuo de achar que o “trabalho sujo” já não tenha sido perpetrado antes pelos corpos diplomáticos envolvidos. Os presidentes Lula e Obama, todos sabiam, não iriam assinar nada, tampouco fechar acordos de qualquer natureza.

O que não se deve mesmo é fazer pouco caso da simbologia de tais eventos. Ela costuma nos mandar recados um pouco mais sutis, ainda que contundentes, por paradoxal que pareça. Noutras palavras, ela sinaliza possíveis caminhos de políticas adotadas. Um exemplo que me ocorre foi a da vinda do ex-presidente George W. Bush a São Paulo para se reunir com o presidente Lula em 2007, aparentemente com a intenção de tratar principalmente do tema dos biocombustíveis. Como todo mundo já deve ter percebido, Bush nunca esteve nem aí para essa questão. Imaginem se o pai dele, se o seu vice Dick Cheney e se os seus “velhos amigos” do Texas iriam querer saber de formas de energia que não seja o famigerado petróleo! O que Bush poderia estar querendo mesmo era mandar recados para Chávez e Ahmedinejad, ambos dados a lembrar os norte-americanos de quão dependentes de petróleo eles são.

Mas voltando a Lula e Obama, entendemos que o caráter simbólico do encontro merece mais holofotes. Não carece de importância o fato de o presidente brasileiro ter sido o terceiro líder internacional e o primeiro latino-americano a ser recebido pelo novo presidente americano. Mais do que isso, é surpreendente que tal honra não tenha sido do mexicano Felipe Calderón ou do colombiano Álvaro Uribe, do peruano Alan Garcia ou mesmo da chilena Michele Bachelet, todos presidentes de países nos últimos anos mais alinhados aos Estados Unidos ou ao menos signatários de acordos de livre comércio com eles.

Do lado do Brasil, viu-se mais um trunfo da política externa do governo Lula. A maior acusação que ela sofria – por sinal injusta – era a de ser por demais antiamericana. Em verdade, o Brasil apenas abriu mão da ALCA e diversificou parceiros comerciais, o que a história mostra, pelo menos por enquanto, ter sido um grande acerto, pois deixou o país menos vulnerável à onipresente crise internacional. Nunca houve de fato afastamento ou hostilidades com os Estados Unidos. E Obama e sua equipe não perderam tempo: viram no Brasil o grande fiel da balança na América Latina, ou mais precisamente na América do Sul (estabilidade política, democracia sólida, bom diálogo com todos os governos da região).

Obama deve ter querido deixar bem claro para os fundamentalistas da política externa americana, apologetas do imperialismo ianque, que as coisas podem estar mudando no país. O encontro com Lula veio em reforço à simpática medida de telefonar a Evo Morales, parabenizando-o por vitória em referendo, e também por reconhecer a legitimidade da consulta sobre terceiro mandato de Chávez, na Venezuela. Para não assustar muito, e ao mesmo tempo mostrar ares mais modernos na política em relação à América Latina, Obama não tardou em se abrir a um encontro do tipo mais moderado impossível, exatamente com o presidente Lula, figura que, como bem lembrou um jornal estadunidense, conseguia ser amigo de Bush e de Chávez ao mesmo tempo e na mesma proporção. Resumindo: diplomacia é isso, amigos!

domingo, 15 de março de 2009

Deu na "Folha": melhor checar

Pequena reviravolta no caso Folha-ditabranda-Comparato: o diário paulistano chamou Fábio Konder Comparato, professor da USP, de cínico e mentiroso por se mostrar indignado com a utilização do termo ditabranda em referência ao regime militar brasileiro, enquanto se mostraria simpático a regimes ditatoriais de esquerda, como seria o caso de Cuba. Porém, o blog do Rodrigo Vianna trouxe nessa semana missiva, publicada no Painel do Leitor de 1º de junho de 2004, na qual o jurista fazia críticas à situação da democracia e dos direitos humanos na ilha centro-americana. Leia:

"O professor François Chesnais ("Ruptura radical" é a saída para o Brasil, defende professor francês", Entrevista da 2ª, 31/5) tem dado uma excelente contribuição à causa do mundo subdesenvolvido ao mostrar, em seus vários livros, de que forma a globalização capitalista, comandada pelos EUA, aprofunda a divisão entre ricos e pobres até dentro dos países mais ricos do planeta. Mas, ao apontar em sua entrevista a experiência política cubana como exemplo a ser seguido pelos países subdesenvolvidos, especialmente o Brasil, o ilustre professor prestou um desserviço àquela nobre causa. A mundialização humanista, pela qual lutamos, funda-se no respeito integral à democracia e aos direitos humanos, caminho que, infelizmente, não tem sido seguido pelo governo cubano." Fábio Konder Comparato, professor titular da Faculdade de Direito da USP (São Paulo, SP)

Desde a primeira hora foram muitos os que não apenas se indignaram com a debochada expressão utilizada pela Folha de São Paulo, mas que se revoltaram com a grosseira resposta não apenas ao professor Comparato mas também à sua colega Maria Victoria Benevides. Inúmeros blogues saíram em defesa dos professores, porém comprando a tese de que eles realmente simpatizavam sem reservas com o regime cubano. Os argumentos em geral eram bons: alguns afirmaram que o fato de simpatizar com Cuba não tira o direito de quem quer que seja de assegurar que houve uma ditadura militar de fato no Brasil; outros asseveraram que, na condição de brasileiros, os professores estavam mais preparados – e com maior autoridade – de fazer críticas mais abertas e francas aos anos de exceção no Brasil do que às ditaduras de outras plagas; e até o autor destas maldigitadas tentou pegar a falta de razoabilidade lógica na deseducação da Folha, modestamente lembrando o arrogante jornal que é impossível afirmar que o “sentimento” de outrem, coisa absolutamente subjetiva, é mentiroso (você me diz que está triste e eu, que não estou no seu cérebro, simplesmente digo que é mentira e tudo bem!).

Mas há lições a se tirar de tudo isso.

Apesar da análise fria e crítica que se faz hoje da imprensa, mesmo com a certeza de que os jornais não são confiáveis e não obstante a postura arrogante dos jornalistas e de seus patrões, nós,os seus críticos, simplesmente aceitamos a afirmação da Folha de que Fábio Konder Comparato era um apologeta cego do que ocorre em Cuba, ou seja, demos-lhes altíssima credibilidade mesmo sabendo que eles não merecem praticamente nenhuma. É sinal de que a imprensa ainda tem o poder de repetir a mentira e transformá-la em verdade, levando no bico até mesmo aqueles que sabem ser necessário, no caso da mídia tupiniquim, viver com o “desconfiômetro” sempre ligado.

Observe-se que no ato convocado pelo Movimento dos Sem Mídia em 07-03-2009 ninguém, que me lembre, fez discurso indicando que a Folha, ela sim, era mentirosa, pois afirmava que o professor jamais se opusera ao regime cubano, quando em verdade o próprio jornal já publicara cartas do jurista com críticas a Cuba. Ressalte-se também que o próprio professor Comparato não veio a público para apontar o mau-caratismo do diário dos Frias.

“Deu na Folha!”. Bem sabemos que isso não é motivo para se levar algo tão a sério. Agora, mais do que nunca, é preciso ter um pouco mais de diligência e, antes de qualquer coisa, já ficar com um pé atrás com os arroubos agressivos tão impunemente lançados pelo jornal. Quando se ouvir “deu na Folha”, fique esperto! Se for o caso, é bom pôr o Google e outros mecanismos de busca para funcionar...

Leia também:
Os estados mentais de Benevides e Comparato
Manifestação contra a "ditabranda"

sábado, 14 de março de 2009

Escolha a sua notícia: 5,1% no ano, ou -3,6 no trimestre?

Foi divulgado no dia 10-03-2009 o PIB de 2008: em plena crise internacional, o Brasil cresceu 5,1%. Excelente resultado, sem dúvida. O que se viu por aí, no entanto, foi um desproporcional destaque aos números do 4º trimestre do ano passado, os quais apontam queda de mais de 3% do Produto Interno Bruto em relação ao trimestre anterior.

Ora, é inegável que a notícia da subida do PIB mereceria no mínimo o mesmo destaque da retração verificada nos últimos três meses daquele ano. Ficou latente mais uma vez a má vontade da grande imprensa brasileira para com a condução da política econômica. Registre-se que o crescimento econômico do Brasil no ano passado foi muito maior do que o dos Estados Unidos, da Alemanha e do Reino Unido, por exemplo. Faltaram na primeira página dos jornais os velhos e bons quadros comparativos. Quando o Brasil apresentava números superiores “apenas aos do Haiti”, como gostavam de repetir os jornalistas e a oposição, a mídia adorava gráficos e barras que sempre mostravam o país na rabeira, atrás da Argentina, Chile, Colômbia e mesmo da “diabólica” Venezuela de Chávez; dessa feita, infelizmente os jornais não quiseram oferecer o didatismo geralmente muito bem elaborado por suas editorias de arte!

Mas, como não dava para evitar, a mídia foi obrigada a falar en passant do crescimento de 2008. Em texto da Folha Online, tem-se uma espécie de ato falho: “o resultado foi sustentado pelo bom desempenho dos trimestres anteriores”, é o que diz texto de Juliana Ennes. Sério? E por que o “bom desempenho” não era tão prontamente reconhecido pela imprensa à sua época?

Este blog outrora já se manifestou acerca dos riscos de se fazer previsão. Mas há, aparentemente, bons motivos para acreditar que o primeiro trimestre de 2009 será um pouco melhor do que o último de 2008, até porque ele se beneficiará da comparação com um período que foi sensivelmente mais fraco do que a média que se vinha atingindo. Porém, na confrontação com o mesmo período do ano anterior, talvez tenhamos uma queda, pois o primeiro trimestre do ano passado foi consideravelmente robusto. E o crescimento acumulado de doze meses, por seu turno, certamente apresentará diminuição de seu ritmo. Qual será, amigo leitor, a opção dos jornais? Se eles seguirem o critério utilizado nesta semana, terão que dar destaque ao resultado do trimestre. E se ele for mesmo favorável na comparação com o período que o antecede, o que fará a nossa mídia? Dará a mão à palmatória ou vai mudar o foco e escolher a mais do que certa notícia da queda no ritmo de crescimento acumulado de um ano?

Em vez de previsões, farei uma aposta: se as coisas ocorrerem como palpitamos, a mídia escolherá a segunda opção sem titubear. Vamos aguardar!

Isaac Hayes - Truck Turner (1974)

1974. No Brasil, a “ditabranda” da Folha estava a todo vapor. Uma das características daquele período, como sabido, foi o uso indiscriminado da tesoura da censura. O clima, portanto, era bastante ameno para quem quisesse mutilar uma obra de arte. E o cidadão, consumidor, fã ou o nome que queira dar, talvez sem o perceber, se acostumava com trabalhos “criminosamente” cortados, editados, podados. Era coisa normalíssima.

Este álbum de Isaac Hayes, trilha de filme por ele mesmo estrelado, não foi vítima da censura do regime militar brasileiro, evidentemente. Mas sofreu no Brasil uma edição vergonhosa que só pode ter ganhado lugar num ambiente que apresentava pouca preocupação com a integridade das criações artísticas.

O selo Copacabana despudoradamente transformou um álbum duplo em disco simples, e isso a despeito de as trilhas sonoras, grosso modo, terem uma unidade que não poderia em nenhuma hipótese ser maculada. Confesso que quis ser simpático com os editores brasileiros e, por isso, lancei-me em pesquisas para confirmar se o álbum não tinha mesmo uma edição reduzida oficial. Parei minhas buscas quando percebi um detalhe na versão nacional: o LP não tem “lado a” e “lado b” como de costume; ele apresenta em seu selo “lado 2” e “lado 3”! Com efeito, é disso que se trata. Nossos amigos da gravadora então instalada no ABC paulista não quiseram se dar ao trabalho nem mesmo de compilar; eles simplesmente dispensaram os lados 1 e 4 e lançaram o “miolo” do disco no Brasil. E para que o trabalho de adaptar o selo? Deixa lado 2 e lado 3 mesmo e está tudo certo! Que moleza, ou como diriam os editorialistas da Folha, que brandura!

E como já mencionado, fica o lamento pela falta de outra metade que certamente completaria o aspecto conceitual tão caro às boas trilhas. Mas a parte que se tem no lançamento nacional é bastante instigante: soa como um mix da psicodelia de Hot Buttered Soul com a virulência funk e os sussurros easy listening da trilha de Shaft. Não sei se "Truck Turner", o filme, pode ser enquadrado no gênero conhecido como blaxploitation; mas a trilha (ou pelo menos a parte dela a que tenho acesso) deve!

Espero qualquer hora dessas ter acesso às demais canções do álbum.

sábado, 7 de março de 2009

Manifestação contra a "ditabranda"

Foi realizada sábado, 7 de março, manifestação convocada pelo Movimento dos Sem Mídia (MSM), na frente das instalações do jornal Folha de São Paulo, contra a qualificação, por parte daquele órgão, de “ditabranda” ao período do regime militar brasileiro. O evento serviu também como ato de desagravo pela resposta que a redação do jornal ousou dar aos professores Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato, ambos da USP, acusando-os de cínicos e mentirosos.

O presidente do MSM, Eduardo Guimarães, leu o manifesto do ato, o qual pode ser conferido na íntegra em postagem daquela data no blog cidadania.com. Seguiram-se diversos pronunciamentos de sindicalistas, estudantes, ex-vítimas e familiares de mortos e desaparecidos. Por lá discursaram o jornalista Celso Lungaretti e o padre Júlio Lancelotti, ambos excelentes conhecedores, por motivos próprios, dos “democráticos” métodos utilizados não apenas pela Folha, mas por toda assim chamada grande imprensa brasileira.

No seu discurso, Eduardo relembrou observação anteriormente realizada no seu blog, qual seja, a de que “colocar gente na rua sem ser por meio de movimentos sociais ou de sindicatos hoje, no Brasil, não é fácil”. É a pura verdade. Por isso, o encontro de 7 de março merece uma análise bastante atenta.

Aspecto notável foi levantado por um integrante da CUT. O sindicalista oportunamente apontou que o grande problema não está apenas no fato da proposta de revisão histórica incutida no uso de uma expressão como “ditabranda” para se referir a um dos períodos mais sombrios de nossa história. Gravíssimo também, disse ele, é todo o comportamento recente da mídia, ou seja, a história atual que eles pretendem escrever nas suas páginas, percebida na diligente defesa do interesse de poderosos, na criminalização de movimentos sociais, no enxovalhamento de pessoas que não estão no rol de seus queridinhos. As duas coisas, portanto, estão ligadas: passado e presente encontram-se nas páginas dos grandes jornais, e não no bom sentido! Penso que vem daí o sucesso da manifestação de ontem, que provavelmente foi assistida por mais de quinhentas pessoas, gente de toda faixa etária, tanto os que viveram aqueles "brandos" anos, quanto uma moçada mais jovem e que deve estar percebendo as artimanhas falseadoras diariamente usadas pelos meios de comunicação.

Foi um ato acima de tudo político. As pessoas que lá estavam pretendiam fazer uma manifestação essencialmente política. E não se está aqui falando de política na sua dimensão antropológica ou na sua amplitude tão bem mostrada em famoso poema de Brecht. Não se quer dizer, pois, que o ato foi político porque no fundo tudo é político. Em verdade, foi-se protestar contra um poder - não instituído -, mas um poder usurpador. A imprensa mais do que nunca se acredita o quarto poder: tenta deflagrar crises, pensa que pode interferir na vida verdadeiramente institucional do país, quer ser a grande dona do país, sendo uma espécie de ventríloquo de alguns políticos conhecidos nossos.

Foi um ato, portanto, político do ponto de vista institucional mesmo, como seria, por exemplo, um panelaço contra o governo. Tal assunto merece estudo mais aprofundado de sociólogos, cientistas políticos e historiadores.

Não à toa vêem-se políticos da oposição – falo, é claro, do PSDB e do DEM – mostrando simpatia com a grande imprensa, ganhando espaço privilegiado nela, sendo tratado a pão-de-ló por colunistas que, como disse o presidente Lula, não querem de jeito nenhum passar pela mágoa de virem a ser chamados de chapa-branca. Vamos ver se tais jornalistas continuarão com esse temor se algum dia a dobradinha PSDB-DEM voltar ao governo Federal!

E não se trata de "achismos". Há estudos como o do IUPERJ que buscaram analisar cientificamente o partidarismo da grande mídia nas eleições presidenciais de 2006. Dentro da própria Folha, os dois últimos ombudsmans já apontaram a diferença de tratamento por parte do jornal para “escândalos federais” e escândalos estaduais e municipais em São Paulo e não deixaram também de observar a certa blindagem ao hoje mais bem cotado candidato oposicionista à sucessão de Lula.

A grande imprensa brasileira, portanto, como é de sua tradição histórica, continua querendo ser um ator político. No caso de São Paulo, conforme bem apontado num dos discursos da manifestação da Alameda Barão de Limeira, a Folha e o Estadão apoiaram o golpe militar de 1964. O jornal dos Mesquitas, porém, não deu salvaguarda ao período mais duro do regime, sendo até mesmo censurado à época; já o dos Frias deu até apoio logístico aos militares nos anos 1970. Algum tempo depois, a Folha quis passar a imagem de jornal mais arrojado, mais moderno e arejado do que seu concorrente. Mas, conforme dito por um dos manifestantes do sábado, agora a máscara da Folha definitivamente caiu.

Mas nada é muito de graça. Certamente que a proposta de revisão histórica deve ter algum objetivo mais latente. Pode ser que se queira levantar um debate que leve a questionamentos acerca de indenizações a vítimas e a parentes de vítimas do regime militar, assunto que atiça a “classe média pagadora de impostos”, sempre pronta a exalar seu moralismo seletivo. Outro intento talvez seja o de calar as idéias de abertura de arquivos do regime. A imprensa, com isso, é certo que atende aos interesses de muita gente com culpa no cartório. No caso da Folha em particular, a preocupação deve ser com a própria pele.

Congratulações a todos que estiveram presente na bonita, cívica e democrática manifestação de ontem, 07-03-2009, entre 10h00 e 12h35, na Alameda Barão de Limeira, 425, centro de São Paulo! Ah, eu também estive lá!

Dica para a oposição (política e midiática)

Já passou da hora de a imprensa parar de bater na tecla da crise. Talvez seja o caso de aqueles que relutam em enxergar bons resultados na condução da política econômica do atual governo apelarem para algum tipo de crítica que tire um pouco o foco dos resultados positivos de que o presidente em pessoa não cansa de se gabar. Como fazer isso? Buscando elementos ou fatores negativos em notícias que de acordo com o senso comum são boas no atacado.

Automóveis
No caso dos extraordinários números da indústria automobilística, é só apontar logo de cara os sérios problemas ecológicos provocados pelos carros. Pode-se apelar também para as preocupações com os aterrorizantes números da violência do trânsito. Há que se lembrar também que o ótimo desempenho que se vê no momento é resultado das medidas de incentivo ao setor, o que em última instância significa apenas um retardamento de uma retração que mais cedo ou mais tarde virá. Senão vejamos: há um problema logístico – cidades como São Paulo não suportam mais carros; o crescimento no patamar que ora se observa não é sustentável a longo prazo, ou seja, uma hora terá que acabar; a renúncia fiscal, como a do IPI, não é justa com os demais setores da economia e, ainda por cima, retrai a arrecadação, o que pode provocar algum risco de desequilíbrio fiscal. Tais ressalvas podem, com efeito, dissuadir até um cristão-novo paulistano. Acredite!

Seguros
Ouviu-se do presidente Lula, durante almoço oferecido pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde, Suplementar e Capitalização (CNSeg) em 03-03-2009, justamente na semana do anúncio da ajuda do governo dos Estados Unidos a AiG, que o setor de seguros do Brasil, diferentemente do que ocorre lá, está blindado. Deve ser verdade. Mas a turma que não dá o braço a torcer tem bons motivos para minimizar a importância disso: primeiramente, lance-se o infalível argumento de que os seguros de maneira geral são caríssimos no Brasil; em segundo lugar, deve-se exortar àqueles que já precisaram acionar a companhia de seguros a lembrar do inferno por que tiveram que passar para ser devidamente atendidos; por fim, os que já precisaram receber um seguro precisam ser convidados a se lembrar do calvário que enfrentaram, muitas vezes necessitando recorrer à justiça para conseguir, depois de muitas idas e vindas, perceber ao menos parte do seu prêmio. Num ambiente desses, como poderia um setor que mexe com seguros passar por dificuldades no Brasil?

Bancos
É claro que não poderiam faltar os bancos. Enquanto se vêem péssimos resultados em todo o mundo, a coisa por aqui vai de vento em popa para o setor. Instituições que apresentam prejuízos históricos nos principais centros financeiros mundiais divulgam lucros recordes no Brasil. Mas, ainda que se fale da importância de uma saúde sistêmica no setor, os ganhos absurdos dos bancos brasileiros refletem uma brutal transferência de renda advinda dos trabalhadores e do setor produtivo. E os banqueiros não têm sequer a boa vontade de liberar o crédito num momento difícil como o atual, o que teria feito definitivamente do Brasil um país absolutamente imune à crise internacional. Todos sabem que não é de hoje que os bancos faturam muito no Brasil; mas o governo do presidente Lula não mexeu uma palha para tentar equilibrar pelo menos um pouco as relações com os demais setores da sociedade, e a manutenção de Henrique Meirelles à frente do Banco Central é indicativo de que este segmento não verá, sob o atual governo, o seu inestimável poder se pulverizar.

São singelas dicas à oposição. Como se vê, há como criticar a situação econômica do país, mesmo sem precisar fazer malabarismos ridículos que tentem negar o óbvio ululante, qual seja, de que o Brasil não está no olho do furacão da crise. Que me lembre, apenas o cientista político José Augusto Guilhon de Albuquerque, em programa da Record News, arriscou dar um passo nessa vereda, dizendo naquela oportunidade que a razoável blindagem brasileira podia ser atribuída ao fato de não estarmos devidamente inseridos na globalização! Segundo Guilhon de Albuquerque, nossa caipirice é o que ainda nos segura. Quando o ouvi dizer isso pensei que a moda ia pegar e que outros intelectuais, políticos, colunistas e jornalistas antenados com os tucanos iriam sair dizendo aquela bobagem feitos papagaios. De qualquer forma, seria pelo menos uma mudança de disco!

Israel: guerra, eleições, razões e resultados

A apertada eleição em Israel vai trazer de volta ao cargo de primeiro-ministro o conservador Binyamin Netanyahu, do partido Likud. De nada valeu para o partido Kadima, pois, a carnificina de dezembro do ano passado na Faixa de Gaza.

Os ataques de final de 2008 parecem ter feito parte, dentre outras coisas, de uma estratégia do governo israelense de fazer frente ao crescimento do Likud, devido em grande parte ao discurso que pregava alguma radicalização no trato com o Hamas. Aspiravam ao cargo de primeiro-ministro tanto a chanceler Tzipi Livni, do Kadima, quanto o ministro da defesa, o ex-primeiro-ministro Ehud Barak. O Kadima de Livni se saiu bem nas eleições, mas não conseguiu apoio suficiente para ficar com a liderança de governo.

O que vimos dizendo aqui parece estar bem além daquilo que outrora foi chamado de teste de hipóteses pelo honorável Ali Kamel. Não há porque duvidar, portanto, que houve cálculo político-eleitoral nos desproporcionais ataques ao povo palestino na Faixa de Gaza. Um novo governo estava para chegar. Não havia, pois, motivos suficientes para uma medida de tal magnitude em período pré-eleitoral. Pergunta-se: se os ataques fossem impopulares e consequentemente tirassem votos, será que Olmert, secundado por Livni e Barak, teria ido tão a fundo com aqueles atos extremos naquela altura do campeonato?

Diga-nos leitor se não é duro pensar que mais de mil vidas podem ter sido ceifadas - dentre outros motivos, não o neguemos - por um populismo claramente de olho nas urnas?

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ato em frente à Folha, dia 7 de março

Leiam abaixo a mensagem encaminha pelo blogueiro Eduardo Guimarães, presidente do Movimento dos Sem-Mídia, à Polícia Militar do Estado de São Paulo, com todas as informações necessárias sobre a manifestação que ocorrerá em frente ao jornal Folha de São Paulo, em repúdio à sua qualificação de "ditabranda" ao rigoroso regime militar brasileiro.

Ref: Comunicação de realização de Ato Público em frente ao Jornal Folha de São Paulo.

Prezado Senhor

Venho, através do presente, comunicar a essa D. Corporação que realizaremos, juntamente com representantes e entidades da sociedade civil brasileira, um Ato Público no próximo dia 07/03/2009 (sábado), a partir das 10,00 horas da manhã, em frente ao jornal Folha de São Paulo, situado na Alameda Barão de Limeira, nº 425, Campos Elíseos, nesta Capital.

A manifestação em questão, como outras já feitas por esta entidade na capital, terá caráter pacífico e será um protesto dos cidadãos brasileiros e entidades, inconformados com o editorial do Jornal Folha de São Paulo de 17/02/2009, que minimizou e relativizou ações do regime militar brasileiro, que durou de 1964 à 1985, em relação a danos e sofrimentos que provocou em cidadãos e seus familiares.

O citado Ato Público também terá caráter de desagravo em relação a Professora Maria Victória Benevides e ao Jurista Fabio Konder Comparato, notórios defensores de direitos humanos no Brasil e no Exterior, que foram igualmente ofendidos pelo jornal Folha, em resposta a indignação que ambos manifestaram contra essa revisão histórica promovida pelo citado jornal.

O Ato Público será realizado de maneira a respeitar o direito de ir e vir dos demais cidadãos paulistanos, procurando não interferir no trânsito da via pública, nem haverá passeata após o término do ato.

Atenciosamente
Eduardo Guimarães
ONG MOVIMENTO DOS SEM MÍDIA-MSM
Presidente
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