sábado, 21 de março de 2009

Encontro de Obama e Lula: mais do que química

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama encontraram-se no dia 14 de março, em Washington. A imprensa destacou a boa “química” entre ambos e o bom humor da conversa, a qual ainda contou com um tempo sensivelmente superior ao que havia sido reservado para o encontro.

Quanto às discussões propriamente ditas, a imprensa – especialmente a brasileira, a norte-americana nem tanto - fez muito pouco caso: não chegaram a nenhum acordo nem tomaram decisões importantes; discutiram o encontro do G-20e falaram de etanol, mas sem grandes aprofundamentos; falaram ainda de um caso “menor”, como o do pai estadunidense que quer a guarda de filho que está no Brasil. Foi nesse clima que a mídia brasileira minimizou a relevância da reunião.

Mas será que os encontros de chefes de estado, de maneira geral, costumam ser mais frutíferos do que esse de Obama e Lula? Bem, talvez somente naqueles casos em que se “arma” uma situação para se resolver alguma pendência. Nestes casos, porém, ninguém é ingênuo de achar que o “trabalho sujo” já não tenha sido perpetrado antes pelos corpos diplomáticos envolvidos. Os presidentes Lula e Obama, todos sabiam, não iriam assinar nada, tampouco fechar acordos de qualquer natureza.

O que não se deve mesmo é fazer pouco caso da simbologia de tais eventos. Ela costuma nos mandar recados um pouco mais sutis, ainda que contundentes, por paradoxal que pareça. Noutras palavras, ela sinaliza possíveis caminhos de políticas adotadas. Um exemplo que me ocorre foi a da vinda do ex-presidente George W. Bush a São Paulo para se reunir com o presidente Lula em 2007, aparentemente com a intenção de tratar principalmente do tema dos biocombustíveis. Como todo mundo já deve ter percebido, Bush nunca esteve nem aí para essa questão. Imaginem se o pai dele, se o seu vice Dick Cheney e se os seus “velhos amigos” do Texas iriam querer saber de formas de energia que não seja o famigerado petróleo! O que Bush poderia estar querendo mesmo era mandar recados para Chávez e Ahmedinejad, ambos dados a lembrar os norte-americanos de quão dependentes de petróleo eles são.

Mas voltando a Lula e Obama, entendemos que o caráter simbólico do encontro merece mais holofotes. Não carece de importância o fato de o presidente brasileiro ter sido o terceiro líder internacional e o primeiro latino-americano a ser recebido pelo novo presidente americano. Mais do que isso, é surpreendente que tal honra não tenha sido do mexicano Felipe Calderón ou do colombiano Álvaro Uribe, do peruano Alan Garcia ou mesmo da chilena Michele Bachelet, todos presidentes de países nos últimos anos mais alinhados aos Estados Unidos ou ao menos signatários de acordos de livre comércio com eles.

Do lado do Brasil, viu-se mais um trunfo da política externa do governo Lula. A maior acusação que ela sofria – por sinal injusta – era a de ser por demais antiamericana. Em verdade, o Brasil apenas abriu mão da ALCA e diversificou parceiros comerciais, o que a história mostra, pelo menos por enquanto, ter sido um grande acerto, pois deixou o país menos vulnerável à onipresente crise internacional. Nunca houve de fato afastamento ou hostilidades com os Estados Unidos. E Obama e sua equipe não perderam tempo: viram no Brasil o grande fiel da balança na América Latina, ou mais precisamente na América do Sul (estabilidade política, democracia sólida, bom diálogo com todos os governos da região).

Obama deve ter querido deixar bem claro para os fundamentalistas da política externa americana, apologetas do imperialismo ianque, que as coisas podem estar mudando no país. O encontro com Lula veio em reforço à simpática medida de telefonar a Evo Morales, parabenizando-o por vitória em referendo, e também por reconhecer a legitimidade da consulta sobre terceiro mandato de Chávez, na Venezuela. Para não assustar muito, e ao mesmo tempo mostrar ares mais modernos na política em relação à América Latina, Obama não tardou em se abrir a um encontro do tipo mais moderado impossível, exatamente com o presidente Lula, figura que, como bem lembrou um jornal estadunidense, conseguia ser amigo de Bush e de Chávez ao mesmo tempo e na mesma proporção. Resumindo: diplomacia é isso, amigos!

Um comentário:

Anônimo disse...

E otimo que o presidente Lula esteja se mostrando como um verdadeiro diplomata nas relacoes internacionais, seu comportamento parece que esta sendo realmente um grande exemplo para outros presidentes na America do Sul que nao sao tao amigaveis com os USA.
Continue com o bom trabalho Lula, porem "nao" esqueca que internamente o Brasil tem varios problemas que devem ser tratados imediatamente.