sábado, 21 de março de 2009

Se subiu tem que descer!

Duas pesquisas (Datafolha e CNI/IBOPE) divulgadas na sexta-feira, 20-03-2009, apontam queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresentando pequeno declínio tanto da aprovação de seu governo quanto de seu desempenho pessoal. Os seus números positivos, entretanto, são muito vigorosos e ainda se enquadram nos mais altos já verificados em tais tipos de consulta no Brasil (só para se ter uma idéia, de acordo com o Datafolha, Lula tem agora 65% de ótimo e bom; o pico de FHC, por exemplo, foi de apenas 47% em 1996).

É possível que o presidente brasileiro já houvesse atingido o seu ponto máximo nas pesquisas anteriores e que, portanto, só pudesse manter ou cair de agora em diante. No entanto, vem sendo afirmado que o revés da popularidade presidencial estaria ligado à deterioração da situação econômica do país, o que noutras palavras quer dizer que a crise internacional teria entrado aqui com os dois pés. Foi o que se viu enunciado, por exemplo, em matéria publicada na Folha Online, sentenciando logo de cara que “a piora da crise econômica mundial fez a aprovação do governo Lula cair”, e foi este também o tom de grande parte da repercussão dos resultados das pesquisas na TV: o canal Bloomberg, especializado em economia e finanças, deu grande destaque especialmente ao levantamento do IBOPE, o que por si só deixa bem clara a associação dos resultados com a situação econômica.

A tentação de se fazer ilações é óbvia, em virtude dos enfoques adotados pelas sondagens: deduz-se da observação rasteira do que foi exposto na mídia que aumentou a percepção da crise e que isto fez a aprovação de Lula diminuir. Em reforço à tese, lança-se mão do fato de que em novembro de 2008, de acordo com a pesquisa Datafolha, 72% dos entrevistados diziam ter conhecimento da crise, e agora o número chega a 81%. Ora, mas será que dá para considerar 72%, ou seja, quase ¾ do universo da pesquisa anterior, número tão desprezível assim? Como já expusemos acima, talvez a popularidade do presidente tenha caído porque já estava na hora de cair mesmo. Convenhamos que havia pouquíssima possibilidade de ela subir além do patamar que já alcançara.

Não apenas a “melhor informação” sobre a crise, mas o sentir seus perversos efeitos na própria pele pode ter sido outro dos fatores que contribuíram para a decaída do petista, sustentam alguns colunistas e blogues. Mas vale lembrar que a pesquisa da CNT/Sensus, com números superlativos favoráveis ao presidente Lula, havia sido colhida no mês de fevereiro último, portanto já sob os efeitos dos maus resultados no mercado de trabalho nos meses de novembro e dezembro de 2008 e janeiro de 2009 (mercado este, aliás, que já apresentou pequena recuperação em fevereiro).

No campo da política, as relações de causa e efeito não devem se pautar por tanto simplismo. Caso contrário há motivos para abraçar a preocupação já lançada pelo blogueiro Eduardo Guimarães (ela também de algum modo uma simples ilação): se se compra a certeza de que notícias de crise contribuem para a degradação da aceitação do governo Lula, e se se reconhece que elas mexem com a moral da população a ponto de provocar retração e desemprego, e se finalmente se confirma que o desemprego traz claro descontentamento com o ocupante do Palácio do Planalto, logo se pode concluir que o catastrofismo midiático tende a se agigantar nos próximos meses, já de olho em 2010.

A idéia mais ou menos geral é que somente um Lula muito forte pode conseguir dar vida à candidatura da ministra Dilma Roussef. A popularidade assoberbada do presidente assusta -e muito - a oposição (incluindo a mídia). Por isso, a queda do presidente, ainda que muito pequena, certamente tem sido motivo de comemoração nas “alamedas barão de limeira” e nos “jardins botânicos” da vida, talvez mais até mesmo do que, por exemplo, no Palácio dos Bandeirantes. (e por falar no Bandeirantes, que tal uma pesquisa sobre a popularidade do governo Serra e da administração Kassab, especialmente nesses dias de crise na segurança ou de caos provocado por chuvas?).

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