quinta-feira, 16 de abril de 2009

Obama e Cuba: o que esperar?

Há um ditado popular que diz “de onde menos se espera é que as coisas acabam vindo”. Já o lendário Barão de Itararé sarcasticamente afirmava que “de onde menos se espera... bem... aí é que não vem nada mesmo!”. E, por fim, poderíamos por conta própria reformular o adágio, ainda que de um modo a torná-lo relativamente desprovido de graça, deixando-o mais ou menos assim: “de onde mais se espera é que as coisas realmente vêm”. Qual frase melhor se encaixaria para as mudanças (leia aqui) determinadas pelo presidente Barack Obama em relação a Cuba?

Comecemos pelo final. Obama foi eleito sob o discurso de mudança. Dessa forma, não há motivos para se surpreender com possíveis acenos liberalizantes no trato com a ilha centro-americana. Convenhamos, os políticos podem muito bem cumprir uma promessa ou outra de vez em quando! (Isso nos Estados Unidos, of course!). Esta é a leitura mais rasteira, do tipo que, como se vê, não acrescenta nada à discussão; seria o caminho mais fácil por assim dizer.

A paráfrase de Aparício Torelly, por sua vez, exige análise mais rebuscada. Ela passa por uma suspeita que não foi incomum durante a campanha sucessória estadunidense e que se reforçou durante o período de transição de Bush para Obama: acreditava-se que o democrata talvez encontrasse maiores dificuldades em praticar políticas mais abertas, modernas e arejadas em momentos de crise do que um antagonista republicano. A idéia era a de que os barulhentos conservadores americanos intimidariam o presidente de comportamento mais liberal. Noutras palavras, todos os passos do democrata seriam vigiados com desconfiança, deixando-o acuado. Em resumo, membro do partido democrata fazendo concessões, suspendendo restrições ou “amolecendo” posturas tidas como radicais passaria uma imagem de pusilanimidade, incompatível com o cambaleante mito do imperialismo norte-americano. Tem-se visto, porém, que - não somente no caso de Cuba – Obama não tem precisado ser mais realista do que o rei, ou adaptando, ser “mais conservador do que um republicano”. Portanto, o sempre certeiro Barão de Itararé, nesse caso em particular, não conseguiria fazer mais um tento.

E a primeira frase, o conhecidíssimo ditado popular, cai como uma luva para aqueles – inclusive muita gente de boa fé – que comungavam com a idéia acima exposta, qual seja, a de que Obama teria mais dificuldades de implementar mudanças do que um republicano, a quem ninguém acusaria de fraco caso se mostrasse cheio de boa vontade com desafetos. Quer dizer, os que não esperavam muito do novo presidente dos Estados Unidos precisam reconhecer que ele está, ainda que timidamente, dizendo ao que veio.

Observe-se que, de acordo com especialistas em política internacional ouvidos pelo Estadão, com as mudanças, os cubanos terão mais facilidade para bem avaliar as “vantagens” do sistema capitalista. Se assim for, então gente como Nixon, Reagan, Bush pai e Bush filho perderam seus preciosos tempos e desperdiçaram a maravilhosa oportunidade de ser mais maleáveis com Cuba e de, consequentemente, ser agora lembrados como os homens que ajudaram a derrubar o socialismo da ilha, quiçá até por levante popular! E se Obama é um perigoso esquerdista, como sustentam corajosos fundamentalistas de direita, ele – talvez sem querer, coitado! - está sendo o pior dos contra-revolucionários, um traidor da nobre causa socialista, ao permitir que os incautos cubanos se deixem seduzir pelo canto de sereia do grande capital! O perigo, amigos, é que até Fidel andou reclamando do que chamou de “esmolas” concedidas pelo presidente Barack Obama (leia). É... de onde menos se espera...!

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