sábado, 18 de abril de 2009

Para não dizer que não falei de Big Brother

Andei deparando nos últimos dias com pessoas preocupadas em entender a sobrevivência do programa "Big Brother" no Brasil. O modelo - salvo engano importado da Holanda - parece já não encontrar muita receptividade noutros países do mundo; por aqui, ao invés, é bem recebido (pelo que tudo indica) em lares de todas as classes sociais, ainda que muitos neguem acompanhá-lo e até se esforcem em lhe fazer críticas que nem sempre soam convincentes. Mas, afinal, o que dá essa sobrevida à versão brasileira de tal “zoológico humano”?

Em primeiro lugar, um pouco de história. Se o leitor bem se lembra, a Rede Globo adquirira os direitos de realizar o programa no Brasil, mas preferiu deixar o projeto dormindo. Enquanto isso, o sagaz Silvio Santos criou a “Casa dos Artistas”, programa nos mesmos moldes, porém com gente famosa. A atração no SBT fez um grande sucesso, e além de ter dado início a uma batalha na Justiça, parece ter exortado a “Vênus Platinada” a desengavetar o programa importado, e o Big Brother finalmente ganhou as telas com uma casa repleta de gente supostamente comum – e bota “supostamente” nisso, como se descobriria mais tarde! - disputando um importante prêmio em dinheiro por sua, por assim dizer, sobrevivência.

Mas e o razoável sucesso, mesmo depois de nove anos? Será explicado pelo gosto por fofocas, ou quiçá pelas cenas picantes? Será fruto de um patológico gosto por controlar a vida alheia? Ou é por conta da escolha de gente mais ou menos bonita entre os participantes? Será por causa do poder que é dado ao telespectador de decidir quem fica e quem sai? Quem sabe o brasileiro não é um voyeur por natureza... Ademais, o mundo cão sempre foi sucesso por aqui, não? Ok, ok, pode ser um pouco de tudo isso, mas, num mundo marcado pela efemeridade, uma vida de nove anos para um programa de fórmula já tão assimilada não deve ser considerada pouca coisa.

Dentre os motivos do relativo sucesso do BBB, em nossa humílima opinião, está, em primeiro lugar, o poder de indução da TV Globo, que embora um pouco abalado nos últimos tempos, ainda tem a capacidade de martelar um assunto de tal forma a transformá-lo em interesse tão geral quanto possível. (Vide as novelas: quantas vezes não se viu começar determinado “folhetim” sob o estigma de “mau ‘ibope’” para, em seguida, virar “mania nacional”?). Outra causa está na inteligente jogada de exibir o programa no início do ano, ou seja, na entressafra televisiva, quando as demais atrações estão no gozo de “férias”. Em vez de, como certa feita disse José Simão, ter que optar entre uma reprise nova ou uma reprise antiga, o telespectador pode assistir a um programa “novinho” e inédito, pelo menos no que se refere aos participantes. (E não é só o BBB; acreditamos que os decadentes – senão já decaídos - campeonatos estaduais de futebol também são idiotices úteis num período de pasmaceira televisiva e, claro, esportiva.).

Um amigo, que não nega dar umas “espiadinhas” no programa de quando em vez, confidenciou-me que alguns participantes são bons jogadores, do tipo que ficam atuando para angariar a simpatia dos telespectadores ou para encontrar meios de ganhar sobrevida na disputa pelo sempre atraente prêmio em dinheiro. Achei interessante: neste caso, o “Grande Irmão” é quem está dentro da casa; ele é que está lá atentamente observando o comportamento da "horda" que está de fora, para assim implementar mecanismos de controle sem que ela saiba. E alguém em meio aos milhões de telespectadores, a exemplo do “herói” Winston, deixará uma lágrima pingar sobre o celular, com a certeza de vitória sobre si mesmo. "Amava o Grande Irmão". Mas, aqui no Brasil, no máximo, no máximo, estourando, por um ano.

Nenhum comentário: