sábado, 11 de julho de 2009

Que independência?

No dia 09.07.2009, a jornalista Eliane Cantanhêde participou de bate-papo promovido pelo UOL sobre a crise no Senado. Vários internautas enviaram perguntas à especialista em política brasileira, pessoa que acompanha tudo muito de perto, de Brasília.

Faltou inspiração à maioria das perguntas, em geral óbvias, e que, talvez por isso, mereceram respostas básicas, do tipo que nada acrescentam.

Mas a melhor pergunta, senão a única realmente boa, não somente ficou sem resposta, como ainda sofreu o desprezo da colunista da Folha. Transcrevo o trecho abaixo:

(05:35:45) Dante fala para eliane cantanhêde: Uma questão urgente. Que se acuse ou investigue o Sarney. Mas a imprensa faz é campanha. Por que não faz o mesmo com as graves acusações contra o senador Arthur Virgílio? Ou com o rumoroso caso do governo do Rio Grande do Sul?

(05:37:24) eliane cantanhêde: Dante: Ih, pronto. Você é daqueles que, em vez de enxergar os fatos, os atos, os cheques, as provas, prefere ficar culpando a imprensa. Campanha??? E o que você diz sobre parentada, mordomo, Fundação Sarney, ato secreto, etc. etc?


Diz ela que o rapaz culpou a imprensa antes de enxergar os fatos. Ora, como pode, se a primeira coisa que o moço fala é para se acusar ou investigar Sarney?! Ele apenas em seguida pondera que o mesmo deveria ser feito com o Arthur Virgílio, também no Senado, ou sobre a administração no mínimo polêmica da gaúcha Yeda Crusius.

Vejam que Eliane Cantanhêde se esquiva da pergunta. E olha que ela poderia tê-lo feito com mais classe, dizendo que o caso da governadora do Rio Grande do Sul não cabia na discussão, embora de todo modo ficasse faltando maiores explicações do porquê de não haver tanto furor investigativo no caso dela. Já os problemas do senador Arthur Virgílio eram, sim, assuntos que poderiam ser abordados no bate-papo, o que teria sido uma ótima oportunidade para o conhecimento da opinião pública, haja vista que as trapalhadas do senador amazonense têm sido relativamente negligenciadas pela mídia.

Uma primeira lembrança: o bate-papo não era sobre a situação de José Sarney, mas sim sobre a “crise no Senado”. Veja como foram as chamadas da Folha Online (com os nossos grifos):

Leia íntegra do bate-papo com Eliane Cantanhêde sobre a crise no Senado

A jornalista Eliane Cantanhêde, colunista da Folha e da Folha Online em Brasília, participou de bate-papo nesta quinta-feira (9) sobre os escândalos no Senado.

Converse agora com a colunista da Folha e da Folha Online, Eliane Cantanhêde, sobre a crise do Senado.

Ou seja, se a discussão era sobre crise no Senado, a jornalista não poderia ter feito pouco caso do internauta que quis ouvir um pouco mais sobre Arthur Virgílio, que até onde se sabe é senador da República, e é apenas mais um – ao lado de Heráclito Fortes, Efraim de Moraes - dos que estão no turbilhão crítico daquela Casa.

Uma segunda lembrança: Virgílio e Yeda são do PSDB, portanto não são aliados do governo do presidente Lula. A imprensa não vem, ao que parece, fazendo muita questão de esconder que seu negócio é fazer oposição ao Governo Federal, ao governo do PT. E ponto final.

Observe-se que a própria Eliane Cantanhêde escreveu coluna nesta mesma semana intitulando a imprensa a que serve como “independente”. Seu colega Clóvis Rossi, que ao lado dela também é ironicamente colega de página de José Sarney às sextas-feiras, fala, no dia 10.07.2009, que a história de “mídia golpista” é coisa de político enrascado e de imprensa chapa-branca.

Pelo que se vê, os grandes jornais não querem esconder o oposicionismo ao governo, quase como se nada mais fizessem do que sua obrigação. O próprio presidente Lula já o observara na famosa entrevista à revista piauí: a coisa mais dura para um jornalista, disse ele, é ser tido como chapa-branca. Por muito pouco, os colunistas da Folha não o confessam: “não queremos nunca ser chamados de chapa-branca, por isso faremos todo tipo de oposicionismo sistemático que fustigue o governo”.

Esperemos, sinceramente, que seja só isso. Mas não nos esqueçamos que Sarney, além de aliado de Lula, é desafeto de José Serra, e por isso é importante que preventivamente se lhe tire qualquer resquício de respeitabilidade, para o caso de ele voltar seu arsenal contra o governador paulista. É bom lembrar também que os donos de jornais andam muito bravos com a democrática medida do governo Lula de diversificar os contemplados pela publicidade governamental. Sabe como é, quando mexem com o bolso... Maquiavel, em contexto um tanto diferente, disse que o homem esquece mais depressa da morte do próprio pai do que da perda do patrimônio. Pode advir daí a bronca com o atual presidente: incluiu digitalmente boa parte da população, enfraquecendo, de forma indireta, o suposto poder (leia-se grana) da grande mídia; e de maneira direta, tira-lhes verba de que sempre estiveram acostumados e as repassa para pequenos meios de comunicação Brasil afora.

A grande imprensa e seus colunistas não gostam, mas é democrático!

Mas sejam quais forem os motivos de tanta “independência”, a grande verdade é que ela não precisaria poupar tanto os senadores do DEM e do PSDB, nem a governadora gaúcha, tampouco a aliança de Quércia e Serra em São Paulo, esta tão estarrecedora quanto a de Lula e Sarney. Ah, tá, mas a "independência" é só em relação ao governo Lula!

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