sexta-feira, 24 de julho de 2009

Torcida

Em recente entrevista ao Roda Viva, o economista Luiz Gonzaga Belluzo afirmou que as previsões econômicas nada mais são do que pura torcida dos que as proferem. Não é à toa que se vêem sempre os mesmos catastrofistas fazendo vaticínios na mídia, que, por sua vez, se esquece de cobrá-los dos erros não raro grosseiros que cometem.

A bola da vez no assunto predição econômica é a iminência de crise fiscal que explodirá circa 2011, a qual deixará para o sucessor de Lula – garantem dez entre dez economistas, valendo-se de expressão usada pelo petista em relação a FHC – uma verdadeira “herança maldita”.

Tal prognóstico baseia-se na queda de arrecadação, verificada nos primeiros seis meses do ano de 2009, associada a suposto aumento de gastos públicos, especialmente com folha de pagamento do funcionalismo, além de mudanças no cálculo do superávit primário que estariam abdicando de esforço fiscal às duras penas mantido durante o governo Lula.

A previsão de descontrole das contas públicas talvez não passe mesmo de torcida, como sugere Belluzo, pois desse modo já se prepararia o terreno para acusar Lula da débâcle de futuro governo, sobretudo se este for do protegido da mídia, o governador José Serra; de outro lado, se for a ministra Dilma a escolhida, o fracasso teria pelo menos o condão de fechar as portas para o retorno do atual presidente, em 2014.

Já a velha e boa realidade, sempre a pregar peças nas apostas precipitadas, diz que, em verdade, a queda na arrecadação, na casa de 7% no acumulado do primeiro semestre, não chega a ser uma tragédia, inclusive porque até o terceiro trimestre de 2008, ou seja, no chamado período pré-crise, a economia crescia de forma bastante robusta, deixando a comparação desigual. Há de se obtemperar que a “marolinha”, como não poderia deixar de ser, acabou trazendo pequena retração da atividade econômica, fator que obviamente reflete na diminuição das receitas públicas. Ademais, o Governo Federal, como parte de sua política anticíclica, fez mudanças no Imposto de Renda da Pessoa Física e na cobrança do IPI, de modo a abdicar de receita em favor do consumo e da geração de renda. Noutras palavras, a queda na arrecadação faz parte do script.

A tal crise fiscal, conforme prognosticada pelo coro dos descontentes e consoante já dissemos, explodiria o mais tardar em 2011. Para que isso venha de fato a ocorrer, os gastos públicos teriam que aumentar radicalmente e de forma sustentada, pois até os “torcedores” mais pessimistas prevêem crescimento do PIB na casa de 4% em 2010. Se no ano de 2009, que já viu no seu primeiro trimestre a economia recuar perto de 1%, tem-se manchetes indignadas com recordes de “carga tributária”, o que não se pode realmente esperar do ano tendente a apresentar crescimento de 4%? Falando sério, será que dá mesmo para comprar a tese do desequilíbrio fiscal em futuro tão próximo?

E aqui não faremos previsões, até porque não somos economistas e nada entendemos da ciência de Srafa e Myrdal, mas vamos, isto sim, admitir nossa “torcida” de que não teremos crise fiscal tão cedo; vamos, ao contrário, “apostar” em incremento de arrecadação em 2010. “Recordes históricos” virão por aí!

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