sábado, 18 de julho de 2009

Virgens no bordel (copyright Jabor!)

Paulo Maluf foi padrinho de casamento de Fernando Collor de Melo.

O deputado Fernando Collor votou no candidato Paulo Maluf para presidente, em eleição indireta no colégio eleitoral, contra Tancredo Neves.

No segundo turno da disputa presidencial de 1989, Paulo Maluf ofereceu seu apoio para o candidato Collor, contra Luiz Inácio Lula da Silva.

Collor recusou o apoio de Maluf, o que provocou a ironia do velho político paulista:

- Servi para ser padrinho de casamento. Servi até para ser presidente da República. Agora, para dar um simples apoio não sirvo???

Lembro-me vagamente dessa história. Ela é tão boa que, acredito, não deve ter sido criada pelo meu subconsciente!

Impossível não se recordar dela ao ver a reação que o encontro de Lula e Collor despertou na imprensa e em alguns de seus colunistas, além de em alguns leitores missivistas, todos enojados com a imagem do abraço entre o ex e o atual presidente, adversários ferrenhos no pleito de 1989.

A grande imprensa, majoritariamente, apoiou o Sr. Fernando Collor na primeira eleição direta para presidente após a redemocratização. Como se sabe, o público de perfil mais conservador, por sua feita, não se fez de rogado e, sem maiores cerimônias, também caiu, de corpo e alma, nos braços do "caçador de marajás".

Irresistível, pois, não parafrasear Maluf: para eles, Collor serviu direitinho para ser presidente da República; agora, senador eleito, não serve nem para receber um simples cumprimento público do presidente em evento oficial???

Está em ação o velho "homem cordial" de que fala Sérgio Buarque de Hollanda no clássico Raízes do Brasil. Mas não pense que a cordialidade mencionada se refere ao gesto de civilidade do presidente Lula e do senador por Alagoas. O senso comum faz pensar que é disso que se trata quando se fala do homem cordial. Em verdade, a palavra "cordial", como sabido, vem de "coração". Tal expressão, portanto, é cabível também - ou principalmente - naquelas situações em que agimos de forma tresloucada, de maneira irracional, pondo a emoção à frente. Portanto, a idéia também concerne àquelas situações em que as pessoas se deixam levar pela pessoalidade pura e simples, sem maior apreço pelo republicanismo.

Dessa forma, que se dane a disputa política civilizada, que se dane a governabilidade, que se dane o respeito mútuo entre políticos que um dia foram adversários. Que viva o ódio! Que viva a inimizade! Viva aquela pequenez de gestos que, curiosamente, fingimos condenar no dia-a-dia!

Assim sendo, os jornalistas e alguns leitores, além da hipocrisia acima sugerida, estão agindo de forma "cordial", no sentido de que não estão dando pelota para a razão, a qual sem dúvida aconselharia não haver motivos para desespero ao ver que dois políticos brasileiros, eleitos pelo voto direto, preferem trocar cumprimentos em vez de sopapos num evento público!

Os admiradores de Sérgio Buarque de Hollanda talvez se sintam desconfortáveis ao ver o nome do grande intelectual num texto em que foram proferidas, com certa liberalidade, as graças de Paulo Maluf e de Fernando Collor de Melo. Pois para piorar as coisas, vou terminar usando uma expressão comum na boca do também (talvez até mais) desprezível Arnaldo Jabor: a maior parte dos que se mostraram indignados com o abraço do presidente e do senador, eleitores entusiasmados de Collor que provavelmente foram um dia, nada mais fazem do que se comportar como "virgens no bordel"!

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