terça-feira, 4 de agosto de 2009

Censurado!

E eis que o jornal O Estado de São Paulo se apresenta como vítima de censura.

O diário, no entanto, apenas está proibido, por força de decisão judicial, de divulgar informações de inquérito protegido por segredo de justiça, especialmente os áudios da chamada "operação boi barrica", envolvendo gente do chamado "clã Sarney", para usar expressão do próprio Estado. Nada os impede, todavia, de citar, criticar os - ou esculhambar com - os implicados no caso.

Muitas discussões e questionamentos podem advir do episódio: afinal, é censura ou não é? A liberdade de imprensa está acima de tudo? Se é sigiloso, tem que ser respeitado e pronto? Se era segredo, e alguém permitiu que chegasse às mãos de repórteres do jornal, que mal há em publicar?

São várias as perguntas, e todas legítimas.

Entrar no mérito de que se houve ou não censura pode proporcionar uma discussão infindável. De todo modo, há aquela máxima, tão ao gosto dos que adoram bradar pela santidade do estado de direito, que afirma: "decisão judicial não se discute, cumpre-se!"

Mas penso que uma outra indagação precisa ser feita: e agora, o que o Estadão pensa acerca da "grampolândia", do "estado policialesco", da "invasão da privacidade"?! O centenário jornal esteve entre os órgãos que mais esbravejavam com o excesso de grampos do "aparelho repressor do Estado petista". Porém, ao publicar com tanto estardalhaço gravações constrangedoras dos familiares de Sarney, há de se deduzir que mudou de opinião!

Voltando à suposta censura: tal tema vem preocupando muita gente bem-intencionada.

Como já dito, é difícil avaliar se há ou não há censura neste caso; e talvez não caiba a leigos entrar com os dois pés no mérito da questão.

O que vale mesmo é pensar noutras modalidades, bastante curiosas, de censura, pois elas parecem nascer de dentro dos próprios órgãos de imprensa. O caso Miriam Dutra, por exemplo. Estranhamente não foi necessária nenhuma decisão judicial proibindo a divulgação do caso. Os próprios jornais trataram de soterrá-lo, fazendo dele tema defesíssimo nas redações. Não foi preciso que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso perdesse seu precioso tempo recorrendo à Justiça para ter sua intimidade preservada, pois, aparentemente, os próprios donos de jornais trataram de "censurar" suas redações, seus repórteres e colunistas acerca do assunto. E não adianta falar que é porque se trata de um assunto privado, que só interessa às partes envolvidas. Ora, todos nós sabemos muito bem que a imprensa não está nem aí para isso. Além do que, FHC é figura muito importante, e Miriam Dutra era repórter da principal rede de televisão do país. Só para efeito de comparação, Renan Calheiros não contou com o mesmo beneplácito da mídia!

Poder-se-ia ir além nessa história de "autocensura". Que tal pensar na sociedade das "Verônicas", a Serra e a Dantas? Como foi tal sociedade? Ela acabou? E por quê? Vamos lá, Estadão, pode, se quiser, falar disso à vontade. A Justiça, por enquanto, não proibiu, quer dizer, "censurou"!

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