domingo, 18 de outubro de 2009

Iggy and the Stooges - Raw Power (1973)

O Planeta Terra Festival 2009, superconcerto a ser realizado no Playcenter, em São Paulo, no dia 07 de novembro, trará pelo menos dois nomes importantes na história do rock: Sonic Youth e Iggy and the Stooges. Este último, em especial, merece o título de seminal. O show deverá ser particularmente interessante pelo fato de, segundo informações do sítio UOL, ser a primeira vez em 35 anos que o grupo tocará, na íntegra, o clássico álbum Raw Power, de 1973.

Iggy and the Stooges, em realidade, é uma espécie de segunda encarnação da banda que, no final da década de 1960, era chamada somente The Stooges. O grupo lançou dois discos notáveis pelo selo Elektra: o homônimo de 1969, e Fun House, de 1970.

O grupo voltaria a se reunir em 1972, com uma pequena mudança na formação, desta feita destacando a liderança do vocalista, também compositor de todas as faixas, Iggy Pop. Lançado pelo selo Columbia no ano seguinte, único álbum oficial efetivamente lançado como Iggy and the Stooges, Raw Power é a epítome de por que a banda de Detroit é chamada de protopunk: é que com seu estilo direto, básico e pesado - deveras diferente do progressivo ou do hard rock de então - lançou as bases para o levante punk que explodiria poucos anos depois nos dois lados do Atlântico.

Vem-me à memória uma resenha do crítico mineiro Arthur Geraldo Couto Duarte, que em comentário ao álbum Instinct, de 1988, acusou Iggy Pop de estar fazendo, naquela época, um rock pesado de quinta categoria, com riffs chupados do AC/DC. Na opinião de Arthur, era perfeitamente possível acompanhar Instinct batendo os pés no chão ao som de suas músicas. O jornalista de Minas Gerais exortava-nos a tentar fazer o mesmo ao som de "Search and Destroy", de Raw Power, não sem antes nos avisar que seria uma tarefa inglória!

Tentemos, portanto, bater os pés ao som de "Search and Destroy", composição de Iggy Pop e James Williamson, que abre o cultuado Raw Power, lançado em 1973, produzido pelo próprio Iggy e mixado por... Oh, ele, David Bowie! Ouça abaixo.

sábado, 10 de outubro de 2009

A preterição da NOVE

Nesta semana, a imprensa noticiou a formação de um movimento estudantil, integrado por jovens de colégios de classe média do Rio: é a NOVE – Nova Organização Voluntária Estudantil. O grupo surgiu no vácuo do roubo da prova do ENEM, mas mais do que reclamar das dores de cabeça provocadas pela mal explicada história, eles se dizem, segundo reportagem do jornal O Globo (07.10.2009), preocupados com questões mais abrangentes, como, por exemplo, reformas em todo o sistema educacional brasileiro.

Mas há um pequeno problema: o grupo, a despeito de suas preocupações, tanto as pontuais quanto as mais estruturais, se declara apolítico e apartidário; de quebra, opõe-se às entidades representativas dos estudantes, como a UNE e a Ubes, justamente porque elas seriam ligadas demais a governos. Aliás, o jornal carioca alfineta, dizendo que os garotos da NOVE são “as novas caras do movimento estudantil, sem chapa-branca”.

Dizemos que é um problema por dois motivos: em primeiro lugar, fica difícil sonhar com mudanças no sistema educacional brasileiro sem fazer política. É uma questão essencialmente política e deveria, por óbvio, não ser abraçada pelos que se orgulham de ser apolíticos. Ademais, ainda que não seja fundamental estar ligado a partidos para participar de tal tipo de processo, para transformações dessa monta, faz-se, sim, necessária a atuação das agremiações partidárias, o que, em tese, esvaziaria, também, o discurso pretensamente apartidário dos meninos. Há, com efeito, muitas situações em que se dá para fazer política sem depender de partidos; não parece ser o caso de questões que envolvem mudanças profundas na educação.

Em segundo lugar, o grupo surge, de forma oportunista, num momento em que O Globo, na reportagem, chama de crise e de desorganização do ENEM. Ora, já temos na escolha desse viés um ato extremamente político por si só. Afinal, o que houve foi o roubo de uma prova por pessoas que estariam tentando ganhar dinheiro com ela. Pode até não ter havido nada de político no ato, como defendem alguns, sendo antes um mero assunto policial. A iniciativa de tratar o caso como resultado de uma suposta desorganização dos responsáveis pelo ENEM já faz dele um levante indubitavelmente político, pois tem alvo certo, a saber, o Ministério da Educação e, por consequência, o Governo Federal.

Nas minhas postagens no twitter, orgulho-me de ter brincado, espirituosamente imodesto/imodestamente espirituoso (!!!), com o estilo apolítico e apartidário dos rapazes e moças do Rio, insinuando que, justamente por assim se classificarem, eles deviam ser políticos e partidários pra caramba! Eles podem dizer que não, mas estão, inegavelmente, fazendo política da grossa.

A situação, em verdade, faz lembrar uma figura retórica chamada preterição. É usada naqueles casos em que se diz que não vai falar algo enquanto dele se fala. Por exemplo, quando se diz frase mais ou menos assim: “nem vou mencionar a sua absoluta falta de caráter”. Ora, já mencionei!

A NOVE é a mesma coisa: “não queremos saber de política”. Eles só querem mudar a educação do País, aproveitar-se das crises engendradas pela mídia, fazer passeatas contra o Ministério da Educação... Política? Que política?

domingo, 4 de outubro de 2009

Jogos Políticos, quer dizer, Olímpicos de 2016!

A conquista das Olimpíadas de 2016 para o Brasil tem, sem dúvida, grande conteúdo político. Vê-se claramente tal viés no comportamento de parte da imprensa, nos blogues e, sobretudo, na opinião dos cidadãos comuns. Os simpatizantes do governo Lula ficaram eufóricos, certos de que a escolha do Rio deveu-se ao bom momento do país e ao capital político pessoal do presidente; seus detratores odiaram, achando que isso pode virar moeda política para Lula, que já tem popularidade nas alturas e, agora, como um penetra em festas, faz o mundo 'pensar' que o Brasil é 'alguma coisa'".

Falta, em verdade, racionalidade para analisar a questão sob a ótica do que ela pode realmente trazer de bom para o Brasil em termos de desenvolvimento em sentido amplo, ou seja, não apenas na economia, mas para a melhoria no esporte amador, para a autoestima do brasileiro individualmente e, até mesmo, para as práticas políticas.

Mas as ideias maniqueístas acima expostas já apareceram quando do anúncio da Copa de 2014. Também daquela feita viu-se a mesma briga dos prós e contras, também sem muita racionalidade nas análises, antes infladas pela guerrinha política. Publicamos, naquela oportunidade, em 04.11.2007, texto no inativo blog Veritas, que apesar de ser sobre tema levemente diferente, parece, em linhas gerais, caber também para o Rio-2016. Leia abaixo.

04.11.07
Brasil: país do futebol?

O Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014. Para o “país do futebol” não poderia haver notícia melhor, poderia? Pois é. Por incrível que pareça, a repercussão da decisão da FIFA foi marcada por grande apatia de uma boa parcela dos torcedores, e por uma saraivada de críticas aliada de mau agouro de outra. Dentre os que comemoraram, somente apareceram aqueles que já começam a vislumbrar uma maneira de se dar bem (entenda-se ganhar dinheiro) com o evento.

É provável que a apatia tenha sido em decorrência do fato de o Brasil não ter tido concorrentes para sediar o primeiro mundial da década de 10 (será que é necessário lembrar que as décadas começam no ano 1?), o que a torna de certa forma compreensível. Mas e quanto aos que já saem por aí dizendo que vai dar tudo errado ou que o Brasil não tem condições nem capacidade de sediar encontro tão grandioso, o que dizer? É no mínimo estranho que os brasileiros gostem tanto de futebol a ponto de torcer por selecionados que pouco ou nada representam o país, a ponto de aceitar calendários extremamente mal planejados, a ponto de aceitar horários de jogos impostos por uma certa emissora de televisão, a ponto de vibrar com inexpressivos campeonatos regionais, mas que, ao mesmo tempo, se mostrem tão antipáticos ao anúncio de que, daqui a sete anos, o país vai sediar o maior encontro do futebol mundial.

É simplesmente inaceitável a alegação de que o país não tem estrutura, afinal essa pode ser justamente a grande oportunidade para se avançar nesse campo, pois a organização do evento exigirá o cumprimento de tarefas a que o país certamente se obrigou. É absurda também a tese de que a República Federativa do Brasil não poderia acolher o mundial de futebol porque tem sérios problemas sociais a resolver. Em primeiro lugar, o Brasil até que tem melhorado um pouco nesse campo, e há muita gente mundo afora (não no Brasil, bem entendido) que vê o país como “a bola da vez”, uma nação preparada a dar um salto de qualidade, desde que aproveite as oportunidades que lhe aparecem. Ademais, se algum tipo de problema social for fator impeditivo de se realizar uma Copa do Mundo, a festa teria muita dificuldade de encontrar um anfitrião, e se o encontrasse, enfrentaria o drama de ter sempre que se realizar em países de pouca tradição no – e/ou de pouco entusiasmo pelo – futebol.
A outra preocupação – e essa é a mais razoável – é com a questão da corrupção dos responsáveis pela organização. É bem provável que o simples fato de tal hipótese já vir sendo aventada pelos quatro cantos deva fazer as autoridades ficarem "de olho" e os responsáveis redobrarem seus cuidados; além disso, o argumento contrário à objeção anterior também vale aqui: se a FIFA começar a levar tal assunto a sério, certamente terá que acabar com a realização de tal tipo de encontro!

Mas a grande verdade é que a questão não é meramente esportiva, mas também – senão principalmente – política. Muitos vêem no anúncio da FIFA uma espécie de vitória do governo Lula ou mais uma demonstração de um respeito internacional de que o país jamais gozou em administrações anteriores, e, obviamente, isso desagrada aqueles que lhe fazem oposição ou que, na melhor tradição futebolística, torcem para que o país seja um eterno derrotado. Desnecessário dizer que isso é uma grande bobagem: o Brasil indo bem, todo povo, evidentemente, vai bem; e se há alguma coisa positiva no ar, algo benfazejo para a auto-estima da nação, por que não aproveitar?

Pois que venha a Copa de 2014 e, com ela, medidas que tragam, de uma forma ou outra, melhorias permanentes para toda a população. E que na abertura, ao contrário da do PAN do Rio, a platéia não receba com vaias a presidente Dilma. Ou o presidente Ciro. Ou o presidente Aécio. Ou...!