domingo, 4 de outubro de 2009

Jogos Políticos, quer dizer, Olímpicos de 2016!

A conquista das Olimpíadas de 2016 para o Brasil tem, sem dúvida, grande conteúdo político. Vê-se claramente tal viés no comportamento de parte da imprensa, nos blogues e, sobretudo, na opinião dos cidadãos comuns. Os simpatizantes do governo Lula ficaram eufóricos, certos de que a escolha do Rio deveu-se ao bom momento do país e ao capital político pessoal do presidente; seus detratores odiaram, achando que isso pode virar moeda política para Lula, que já tem popularidade nas alturas e, agora, como um penetra em festas, faz o mundo 'pensar' que o Brasil é 'alguma coisa'".

Falta, em verdade, racionalidade para analisar a questão sob a ótica do que ela pode realmente trazer de bom para o Brasil em termos de desenvolvimento em sentido amplo, ou seja, não apenas na economia, mas para a melhoria no esporte amador, para a autoestima do brasileiro individualmente e, até mesmo, para as práticas políticas.

Mas as ideias maniqueístas acima expostas já apareceram quando do anúncio da Copa de 2014. Também daquela feita viu-se a mesma briga dos prós e contras, também sem muita racionalidade nas análises, antes infladas pela guerrinha política. Publicamos, naquela oportunidade, em 04.11.2007, texto no inativo blog Veritas, que apesar de ser sobre tema levemente diferente, parece, em linhas gerais, caber também para o Rio-2016. Leia abaixo.

04.11.07
Brasil: país do futebol?

O Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014. Para o “país do futebol” não poderia haver notícia melhor, poderia? Pois é. Por incrível que pareça, a repercussão da decisão da FIFA foi marcada por grande apatia de uma boa parcela dos torcedores, e por uma saraivada de críticas aliada de mau agouro de outra. Dentre os que comemoraram, somente apareceram aqueles que já começam a vislumbrar uma maneira de se dar bem (entenda-se ganhar dinheiro) com o evento.

É provável que a apatia tenha sido em decorrência do fato de o Brasil não ter tido concorrentes para sediar o primeiro mundial da década de 10 (será que é necessário lembrar que as décadas começam no ano 1?), o que a torna de certa forma compreensível. Mas e quanto aos que já saem por aí dizendo que vai dar tudo errado ou que o Brasil não tem condições nem capacidade de sediar encontro tão grandioso, o que dizer? É no mínimo estranho que os brasileiros gostem tanto de futebol a ponto de torcer por selecionados que pouco ou nada representam o país, a ponto de aceitar calendários extremamente mal planejados, a ponto de aceitar horários de jogos impostos por uma certa emissora de televisão, a ponto de vibrar com inexpressivos campeonatos regionais, mas que, ao mesmo tempo, se mostrem tão antipáticos ao anúncio de que, daqui a sete anos, o país vai sediar o maior encontro do futebol mundial.

É simplesmente inaceitável a alegação de que o país não tem estrutura, afinal essa pode ser justamente a grande oportunidade para se avançar nesse campo, pois a organização do evento exigirá o cumprimento de tarefas a que o país certamente se obrigou. É absurda também a tese de que a República Federativa do Brasil não poderia acolher o mundial de futebol porque tem sérios problemas sociais a resolver. Em primeiro lugar, o Brasil até que tem melhorado um pouco nesse campo, e há muita gente mundo afora (não no Brasil, bem entendido) que vê o país como “a bola da vez”, uma nação preparada a dar um salto de qualidade, desde que aproveite as oportunidades que lhe aparecem. Ademais, se algum tipo de problema social for fator impeditivo de se realizar uma Copa do Mundo, a festa teria muita dificuldade de encontrar um anfitrião, e se o encontrasse, enfrentaria o drama de ter sempre que se realizar em países de pouca tradição no – e/ou de pouco entusiasmo pelo – futebol.
A outra preocupação – e essa é a mais razoável – é com a questão da corrupção dos responsáveis pela organização. É bem provável que o simples fato de tal hipótese já vir sendo aventada pelos quatro cantos deva fazer as autoridades ficarem "de olho" e os responsáveis redobrarem seus cuidados; além disso, o argumento contrário à objeção anterior também vale aqui: se a FIFA começar a levar tal assunto a sério, certamente terá que acabar com a realização de tal tipo de encontro!

Mas a grande verdade é que a questão não é meramente esportiva, mas também – senão principalmente – política. Muitos vêem no anúncio da FIFA uma espécie de vitória do governo Lula ou mais uma demonstração de um respeito internacional de que o país jamais gozou em administrações anteriores, e, obviamente, isso desagrada aqueles que lhe fazem oposição ou que, na melhor tradição futebolística, torcem para que o país seja um eterno derrotado. Desnecessário dizer que isso é uma grande bobagem: o Brasil indo bem, todo povo, evidentemente, vai bem; e se há alguma coisa positiva no ar, algo benfazejo para a auto-estima da nação, por que não aproveitar?

Pois que venha a Copa de 2014 e, com ela, medidas que tragam, de uma forma ou outra, melhorias permanentes para toda a população. E que na abertura, ao contrário da do PAN do Rio, a platéia não receba com vaias a presidente Dilma. Ou o presidente Ciro. Ou o presidente Aécio. Ou...!

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