sábado, 9 de janeiro de 2010

Crise? E que crise, hein?

Nos últimos dias, o Senado Federal voltou a cometer das suas, como destaca texto de Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

Sabe-se que o Senado Federal aproveitou a desatenção do público para consolidar alguns privilégios que foram causa de tanto escândalo no ano passado, por conta de medidas secretas e outras maracutaias. Soube-se, por exemplo, que a Mesa do Senado liberou "restos a viajar", autorizando os senadores a utilizar neste ano o saldo das cotas de viagem não usadas em 2009.
Nas edições de quinta-feira (07.01.2010), os jornais tentam recuperar o atraso colocando suas lentes novamente em Brasília, e o Globo chega a publicar um minieditorial alertando que o fato de o Senado ter deixado de aparecer com freqüência no noticiário de escândalos brasilienses "não significa uma licença para prevaricar".

À exceção do "minieditorial" mencionado pelo Luciano, a imprensa, em geral, pouco repercutiu o caso; entre os colunistas políticos em particular, nenhuma indignação. Nada a ver, portanto, com o bombardeio ocorrido durante o evento conhecido como “crise do Senado Federal”, que monopolizava até bem pouco tempo atrás as atenções da mídia e, consequentemente, de parcela da opinião pública.

O presidente Lula, a ministra Dilma e parte da imprensa alternativa denunciavam que havia naquele rompante uma campanha pessoal contra o presidente da Casa, José Sarney, talvez com o intuito de atingir o Planalto. E mais: sugeriam que uma absoluta moralização para as condenáveis práticas seculares da Câmara Alta brasileira não estaria no horizonte da mídia e dos políticos de oposição. Aparentemente, tinham razão...

O atual desinteresse pelas brincadeiras com o dinheiro público, perpetradas pelo outrora vigiadíssimo Senado, deve ser porque as mais recentes reinações da Casa viraram, agora, café pequeno perto das novas crises de plantão. E para a imprensa "golpista", elas não poderiam ser melhores: são crises que envolvem diretamente a - ou chamam a atenção da - cúpula militar, quais sejam, a "crise" da compra dos caças e a do terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos. Se hodiernamente o único poder da imprensa, como denunciou o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, é o de deflagrar crises – e de alimentá-las, acrescentaríamos nós -, não poderia haver nada mais oportuno do que crises que envolvem militares. Afinal, com "fantasmas" assim, quem liga para as sacanagens "reais" do Senado?

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