domingo, 28 de março de 2010

Novo repeteco: Hora do Planeta

Aproveitando o clima da "Hora do Planeta", realizada no sábado, 27.03.2010, das 20h30 às 21h30, reproduziremos abaixo texto escrito acerca da edição de 2009 do evento. O post foi escrito quando a conversa acerca da terrível crise internacional estava presente diariamente nas manchetes, inclusive neste Brasil que só conheceu a marolinha. A despeito disso, arrogamo-nos em dizer que ele permanece atual.

Grato pela leitura!

terça-feira, 31 de março de 2009
Todas as horas do planeta

No último sábado (28-03)[27.03, em 2010], ocorreu a Hora do Planeta, iniciativa idealizada pela Worldwide Fund for Nature (WWF), pretendendo que as pessoas desligassem as luzes e demais aparelhos elétricos entre 20h30 e 21h30 em todo o mundo. Tudo em nome do combate ao aquecimento global.

A medida sem dúvida foi bacana e trouxe no seu bojo um elemento simbólico nada desprezível, pois incorporou a idéia de que cada um pode dar alguma contribuição, ainda que pequena - sob a rubrica dos "pequenos gestos" - para um planeta melhor. Mas vamos devagar com a empolgação que se ensaiou lá e cá em virtude de razoável adesão à brincadeira.

Em realidade, mudança mesmo só viria se estivesse ligada a algum tipo de transformação das formas de produção reinantes. O estado em que se encontra o planeta é resultado das vicissitudes históricas que o modelo econômico tido como vitorioso impõe. É uma obviedade, mas o leitor decerto a desculpará por saber que se trata de uma triste verdade que precisa ser dita.

E a gravidade da situação é mostrada com crueza no estado de crise que ora vivenciamos. Seria de se esperar, para um mundo mais ecologicamente equilibrado, que se consumisse com mais responsabilidade, o que passaria pelo fim do desperdício e do gasto com supérfluos, além do controle da compulsividade e o fim do imediatismo. Isso, no atual momento de dificuldade econômica, já vem de alguma forma ocorrendo; mas em vez de se comemorar a possibilidade de melhora das condições do meio ambiente, o que se vê é o medo da depressão, da fome, do desemprego, da volta de contingentes à pobreza que parecia ter ficado para trás. Numa análise fria, defender a correção política nas atuais circunstâncias seria um tiro de misericórdia no combalido sistema capitalista. E quebras abruptas de paradigmas podem ser dolorosas no curto prazo. Difícil imaginar quem estaria realmente disposto a enfrentar isso de peito aberto.

O caso dos automóveis no Brasil é bastante emblemático disso que vimos dizendo. Não há negar que os carros são dos principais vilões para o meio ambiente, sobretudo quando se fala no famigerado aquecimento global. A crise tinha tudo para derrubar o seu consumo e, conseqüentemente, sua circulação no País. Mas o Governo Federal tem lançado pacotes e incentivos reiteradamente para não permitir que isso ocorra, de olho, é claro, na manutenção dos empregos no setor e com a justificada preocupação com toda a cadeia que se mantém e se desenvolve a reboque do ramo automotivo.

A grande verdade é que medidas pequenas, simbólicas e pontuais como a do último sábado podem ser importantes, especialmente do ponto de vista da conscientização. Querer mudar as coisas para valer, todavia, não parece ser da vontade da maioria, pelo menos por enquanto. Como bem disse algum tempo atrás a deputada Petra Kelly, do Partido Verde alemão, “todos falam numa volta à natureza, mas ninguém está disposto a ir a pé”.

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