domingo, 16 de maio de 2010

Virada Cultural 2010 - Booker T. Jones

Não tenho dúvidas de que a presença de Booker T. Jones na Virada Cultural 2010 tenha sido dos pontos altos do evento. Líder dos lendários Booker T. & the MG's, nesta vinda a São Paulo o organista veio com uma banda muito bem entrosada, prejudicada apenas por uma discreta má qualidade do som que, contudo, não comprometeu o resultado final da apresentação iniciada no finalzinho do sábado e concluída no início do domingo - bem na "virada", literalmente.

Relembrado pelos seus trabalhos como organista nos anos 1960, Booker T., neste show, também cantou e tocou guitarra. Além de clássicos de seu repertório junto com os MG's, o músico interpretou gemas que ficaram famosas na voz de Albert King e Otis Redding. Tudo a ver! Ao apreciar algumas das principais canções do selo Stax, o leitor, talvez sem o saber, está ouvindo ao fundo Booker T. & the MG's, uma vez que eles acompanharam muitos dos grandes artistas que gravaram naqueles históricos estúdios de Memphis.

A este escriba causou agradabilíssima surpresa o público volumoso, formado em sua maioria por uma garotada que, surpreendentemente, parecia conhecer bem o repertório. Deve ser a internet... Mais próximo ao palco, em lugares privilegiadíssimos, viam-se alguns "vips": Charles Gavin, Luiz Calanca, o jornalista Álvaro Pereira Jr. e o radialista Daniel Daibem (a quem coube a honra de anunciar o mestre).

Espero que Booker T. Jones e a excelente banda que o acompanhou tenham também ficado positivamente impressionados com a acolhida do público paulistano. Quem sabe não vem uma miniturnê por aí?

Abaixo, o registro de gravação de aúdio feita por este blogueiro na apresentação de Booker T. Jones. Pedimos desculpas pela péssima qualidade. Foi feita de forma muito rústica, apenas para registrar, na Virada Cultural 2010, a presença de um artista tão importante para a história da música do século XX. A canção é a clássica "Green Onions", de 1962, composta por ele, Steve Cropper, Al Jackson Jr. e Lewis Steinberg. A ilustração é foto de Booker T. & the MG's, no início dos anos 1960, extraída dos arquivos da Fantasy Inc.

sábado, 1 de maio de 2010

Pedro, Gilberto e Alberto

Responda-me, amigo (e)leitor de São Paulo: em 1994, você votaria em Pedro Piva para senador pelo estado? Em 2004, escolheria Gilberto Kassab para prefeito da capital? Em 2006, sufragaria Alberto Goldman para governador?

Aos que disseram sim, por favor, não fiquem bravos comigo se eu concluir que a maioria responderia um sonoro não.

No entanto, durante a maior parte do tempo entre 1995 e 2003, São Paulo se fez representar no Senado Federal justamente pelo empresário Pedro Piva; a capital paulista, por sua vez, já a partir do início de 2005, teve efetivamente à sua frente o então desconhecido Gilberto Kassab, oriundo do naquela época PFL, partido sem tradição em São Paulo; e, por fim, atualmente o estado está nas mãos de Alberto Goldman, veterano político que ainda não tem seu nome na ponta da língua da maioria dos cidadãos paulistas.

Piva, Kassab e Goldman tiveram a sorte de ser suplente ou vices de cargos eletivos de titularidade de José Serra.

Eleito senador com excelente votação em 1994, Serra de cara o preteriu para ocupar o importante Ministério do Planejamento no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Posteriormente, ocuparia, também no governo FHC, a pasta da Saúde. Como se vê, o “senador” ficou praticamente todo o período do mandato ocupando cargos no governo que hoje procura esconder. Coube a Pedro Piva representar a população de São Paulo, que, maciçamente, votou em José Serra para senador.

Em 2004, Serra derrota Marta Suplicy na corrida pela prefeitura de São Paulo. Apesar de reiteradas promessas de que cumpriria os quatro anos de mandato, o alcaide, cotado à época até para ser candidato a presidente, abandonou a prefeitura para disputar o governo do estado em 2006, ou seja, após pouco mais de um ano de administração. Cumpriu-se a profecia da campanha petista de 2004, que, ciente da desmedida ambição de Serra, já alertava o eleitor de que a prefeitura ficaria, inexoravelmente, nas mãos do “incógnito” Kassab.

Agora, por força das exigências da legislação eleitoral, pré-candidato à presidência da República, Serra - depois de uma administração sem brilho, nas insuspeitas palavras da Folha de São Paulo -, deixa o estado nas mãos de Alberto Goldman, para um mandato tampão de poucos meses.

Em vista dessas informações, causa estranheza uma mensagem eletrônica que vem circulando em forma de “corrente”, dando destaque ao fato de que uma possível vantagem de José Serra sobre a sua principal adversária seria o fato de já ter disputado diversas eleições e, mais do que isso, ter ocupado cargos eletivos. O corolário disso é que Serra teria mais experiência. A mensagem não informa, todavia, que o candidato não concluiu justamente os principais mandatos para os quais foi eleito, não havendo, neste caso, muito sentido em se falar do impreciso conceito (em política) de experiência.

Tudo bem que boa parte do proselitismo encaminhado via e-mail, em especial os apócrifos, não prima pelo respeito à verdade, dado o seu caráter de pura propaganda e dado sua falta de compromisso ético. O problema, porém, é que a própria pré-campanha do ex-governador – assim como a de seus aliados na mídia – também bate na tecla do “experiente concorrente em eleições e ocupante de importantes mandatos eletivos”, que botaria Serra, do PSDB, em vantagem sobre Dilma Rousseff, candidata do PT.

E pensar que Serra, o homem que não costuma honrar os mandatos que os eleitores lhe confiam, poderia ter tido como vice, para este pleito de 2010, ninguém menos do que um José Roberto Arruda! E não para por aí: há o risco iminente de ele ter como vice a ruralista Kátia Abreu, representante do mais pragmático conservadorismo que poderíamos imaginar. Será que disso a Regina Duarte não tem medo? Decerto que não...