domingo, 18 de julho de 2010

Dilma, Serra, mídia e o feel good factor

"Garimpo e eleição, só depois da apuração". A frase, atribuída a Tancredo Neves, encerra a dificuldade de se fazer previsões acerca do resultado de escrutínios. Não obstante isso, o uso da razão permite apostar as fichas na vitória de Dilma Rousseff, do PT, na corrida presidencial de 2010. Muitos analistas têm enveredado por esse caminho.

Tem-se usado muito uma expressão emprestada do inglês, o "feel good factor", para afirmar que as condições atuais do Brasil favorecem, em nível federal, uma onda situacionista: previsão de crescimento do PIB em torno de 6%, resultados positivos na criação de empregos, inflação controlada, aumento da renda do trabalhador, expansão do crédito. Para usar outra expressão bastante batida, "é a economia, estúpido".

As hostes oposicionistas sentem o golpe. Apresentar-se como oposição contra um governo com aprovação acima de três quartos da população não é tarefa fácil. Parece que nada funciona para afinar o discurso. Lula e o PT, no pleito de 1994, enfrentaram o mesmo problema em virtude do megassucesso do Plano Real - e o resultado das eleições todos sabemos qual foi.

O candidato José Serra, do PSDB, valendo-se do mote de seu concorrente Aécio Neves, até que tentou se colocar como um pós-Lula, apostando todas as fichas numa simples comparação de biografias contra os demais candidatos, notadamente, é claro, contra a candidata Dilma. Como parte da estratégia, tenta-se fugir da ideia plebiscitária de comparação dos oito anos de governo do PSDB e dos oito anos de PT, certamente por entender que as coisas são favoráveis a este último período; antes, busca-se falar de avanços que supostamente se iniciaram com a redemocratização do País. Como corolário disso, a afirmação de que PT e PSDB, Lula e FHC, Dilma e Serra são, no fundo, tudo a mesma coisa.

A estratégia até que não seria ruim não fossem as ligações perigosas da oposição com a mídia. Durante oito anos o conglomerado midiático tenta desconstruir o governo Lula, sempre pintando-o como um fracasso, superlativando seus defeitos, fazendo-lhe cobranças desproporcionais em relação ao que exige, por exemplo, dos governos estaduais a cargo do PSDB. Agora vem o candidato da mídia e diz que não é tão oposição assim, que não se trata disso, que, bem-intencionado, apenas acha que o Brasil pode mais!

As duas vitórias de Lula - principalmente a de 2006 - e a resiliência de sua popularidade provam que a mídia não vive seus melhores dias; mais do que isso, ficar de braços dados com ela é carregar um peso morto. PSDB, DEM e PPS vão perceber, mais cedo ou mais tarde, ter sido um grande erro terceirizar o trabalho de oposição para os meios de comunicação, senão vejamos: para continuar, por motivos eleitoreiros, elogiando Lula e o governo, Serra teria que pedir aos seus amigos da imprensa que parassem de malhar diariamente o presidente; por outro lado, se, em coro com a mídia, o tucano começasse a reverberar o ódio e o preconceito de seus companheiros colunistas, bateria de frente com o povão que apoia o governo. Ambas as iniciativas sairiam caras para o candidato.

A saída mais honrosa para a oposição talvez tivesse sido arregimentar novos filiados e escolher um deles para lançar como anticandidato, só para marcar presença na disputa. Três nomes me vêm à mente: Judith Brito, Arnaldo Jabor e Otávio Frias Filho.

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