sábado, 18 de setembro de 2010

A "imprensa tiririca"

“Pior do que está não fica”.

“Você sabe o que faz um deputado federal? Nem eu. Vote em mim, que eu te conto”.

As frases são do candidato a deputado federal por São Paulo Tiririca.

Está cheio de gente supostamente “bem pensante” criticando a, até aqui, bem-sucedida campanha do cantor e humorista.

Deveria ser visto com mais naturalidade o aparente sucesso da postulação do candidato “palhaço”.

Tomemos as duas frases usadas em sua campanha, repetidas no início deste texto. Convenhamos: não devem ser raros os eleitores que se identificam com elas. E com razão.

A mídia passa o tempo inteiro demonizando a classe política. O Congresso Nacional – e os deputados, por óbvio – de tempos em tempos é massacrado por campanha negativa, generalizando-se comportamentos individuais. Ora, em última análise o recado é de que tudo não passa de uma porcaria e que, no fundo, os políticos são todos iguais. Pois bem, “se pior do que está não fica, então vai o Tiririca mesmo!”, é o que devem pensar inúmeros eleitores.

Quanto às funções de um deputado federal, a mídia bem que poderia contribuir com informações que explicassem as atribuições do cargo, até como forma de a população exercer maior controle e fiscalização sobre o trabalho daqueles a quem elege para a Câmara. Sentindo-se órfã do grupinho dos bem informados, boa parte dos eleitores pode mesmo esperar que Tiririca venha salvá-los da ignorância a que foi relegada por aqueles que poderiam ter algum interesse em instruí-los.

O fenômeno da candidatura de Tiririca tem muito a ver com despolitização estimulada pelos meios de comunicação, no seu empenho em criminalizar a atividade política.

Tiririca, com certeza, é uma espécie de “cacareco”, um mau candidato. Mais do que sintomática da desmoralização dos políticos, sua candidatura é expressão da péssima cobertura da atividade política feita pelos órgãos de comunicação.

Sugiro que passemos a chamar a mídia brasileira de “imprensa tiririca”

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pharoah Sanders em São Paulo

Com um pouco de atraso, comento o show de Pharoah Sanders no Sesc Pinheiros, em São Paulo, no dia 22 de agosto de 2010.

Um dos nomes mais importantes da história do jazz, o saxofonista estadunidense apresentou-se acompanhado de um excelente time, formado por figuras respeitáveis como o seu conterrâneo Rob Mazurek e Maurício Takara.

A exemplo de outros jazzistas fundamentais que têm se apresentado em São Paulo nos últimos anos, a figura de Sanders também se mostrava um pouco debilitada pela idade, fazendo duvidar, de cara, da qualidade da performance que viria. Qual nada! Com todo o respeito, o velhinho manda bem demais! Com grande fôlego e com o timbre que faz lembrar seus discos do final dos anos 1960 e início dos 1970.

O mais legal de tudo foram os arroubos free aos finais de peças um tanto "orientais", místicas, contemplativas. Em suma, o show foi mesmo a cara dos melhores discos de Pharoah Sanders.

Para quem quer conhecer um pouco de Pharoah Sanders, abaixo temos uma faixa do LP Karma, lançado pela Impulse! em 1969, destacando o baixo de Ron Carter e os vocais de inflexão soul de Leon Thomas. A canção chama-se "Colors" e tem autoria de Sanders e Thomas.