quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Marina Serra

Duas constatações: a oposição política ao governo federal, representada pelo consórcio PSDB/DEM, tem andado um tanto fragilizada nos últimos anos; e a mídia tem preenchido essa lacuna, agindo como – talvez o principal - partido político de oposição.

A imprensa, por ter confessadamente ocupado esse espaço no campo político, parecia estar superestimando sua importância no processo sucessório do Brasil, crente que teria condições de pautar – ou interditar – o debate ao seu bel-prazer. Cometeram alguns erros nesse processo. Reconheça-se, todavia, que o monopólio midiático emplacou um acerto que foi capital para garantir o segundo turno. Estou falando do fato de ter preservado de sua ira a candidata do PV, a terceira colocada na eleição deste ano, Marina Silva.

Num primeiro momento, havia a percepção de que a senadora poderia ser útil para garantir um segundo turno – e isso no melhor dos mundos possíveis: tiraria votos da petista Dilma Rousseff, sem chegar a ameaçar o tucano José Serra, o preferido do baronato. O resultado, decerto, foi melhor que a encomenda e provavelmente superior ao que poderia pensar até o mais otimista dos oposicionistas.

Os meios de comunicação, serristas até a medula, foram por demais pragmáticos. Nada de criticar a candidata do PV, que quando ministra do meio ambiente do governo Lula era atacada por seu radicalismo ecológico, chegando a ser considerada a responsável pelos baixos índices de crescimento econômico que o Brasil apresentava até então (o tal do PIB maior somente que o do Haiti nas Américas), tudo por conta da intransigência em não conceder licenças ambientais e na atuação fiscalizatória firme do IBAMA sob suas ordens. Também abdicaram de atacar – ou ridicularizar – a evangélica Marina por certo fundamentalismo religioso que se opõe a Darwin e que bate de frente com demandas importantes na área dos direitos civis.

Chegamos a prever (link abaixo) que a vida da acreana somente seria difícil se ela em algum momento trouxesse dificuldades a Serra, o que não era de todo descartado em razão de ambos sinalizarem, desde o início, que teriam chances de disputar o eleitorado urbano, de classe média e de boa escolaridade. De fato a candidata verde empolgou esses setores, mas, para felicidade da mídia e dos adeptos de Serra, apenas tirando os votos que num dado momento pareciam estar no colo de Dilma Rousseff.

A imprensa sabia da importância de Marina Silva no segundo turno, preservando-a até o final do primeiro escrutínio. Já José Serra, com a falta de habilidade dos trapalhões da oposição política, atacou a ex-petista no debate da Rede Globo, chegando a acusá-la de conivente com o chamado mensalão. Lembremos que o tucano ficou parado no mesmo lugar durante uns dois meses, só chegando à segunda etapa da disputa presidencial por graça de "Santa Marina".

Pelo jeito não dá ainda para desprezar a perspicácia – e sorte – da imprensa quando o assunto é eleição presidencial no Brasil.

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