sexta-feira, 8 de julho de 2011

Billy Blanco (1924-2011)

Morreu no Rio de Janeiro, neste 08 de julho de 2011, o compositor Billy Blanco, considerado um dos precursores da bossa nova.

O paraense de Belém, que teve músicas gravadas pelas principais vozes da MPB, já foi motivo de postagem deste blog, em virtude da homenagem que prestou a São Paulo em 1974, no notável disco Paulistana, Retrato de uma Cidade.

Em homenagem ao lendário artista, reproduzimos o texto abaixo, com direito à execução de um dos momentos mais inspirados do clássico álbum.

SEGUNDA-FEIRA, 25 DE JANEIRO DE 2010

Billy Blanco - Paulistana, Retrato de uma Cidade (1974)
Abaixo, resenha originalmente publicada no RateYourMusic

Acredito que não passe um 25 de janeiro no qual não se ouça um coro afinado cantando: ‘São Paulo que amanhece trabalhando’. É o “Tema de São Paulo”, de Billy Blanco, letra e melodia que são o leitmotiv deste álbum conceitual. O outro tema desta ode é “Amanhecendo”, do qual muitos vão se lembrar por ser usado nas manhãs de uma famosa rádio noticiosa de São Paulo: entre uma mentira e outra, entre um comentário que flerta com o fascismo e uma entrevista com algum porta-voz da classe média chorona, entre uma reportagem tendenciosa e um dado contestável, pode-se ouvir o coro que entoa ‘começou um novo dia, já volta quem ia, o tempo é de chegar’; depois, em “O Tempo e a Hora”, ‘vombora, vombora, olha a hora, vombora’: é bom ouvir isso direto do disco do Billy Blanco e não das ondas irradiadas por aqueles que abusam da concessão de um serviço público ofertado por toda a sociedade; muito bom ouvi-lo de uma obra produzida pela lenda Aloysio de Oliveira e não daqueles que se escondem por trás da covardia que denominam liberdade de imprensa. Aliás, amigos leitores, há uma frase de “O Tempo e a Hora” que diz, na bela voz da cantora Cláudia, que ‘o que vale é a versão, pouco interessa o fato’! Há algum freudiano aí?

E o disco fala, é claro, das coisas e das personagens de São Paulo: a carioca Elza Soares canta os imigrantes em “Capital do Tempo” e a tradição esportiva da cidade em “Pro Esporte”; Pery Ribeiro faz a “Louvação de Anchieta”, canta as “Coisas da Noite”, avança as fronteiras da cidade rumo à “Grande São Paulo” e via a “São Paulo Jovem” de então andar em duas rodas, com um rapaz guiando e uma moça na garupa, numa cena própria de um tempo em que a palavra motoboy seria um neologismo que causaria risos; a já citada Cláudia presta justiça a “Bartira”, aquela que Billy chama de índia-madre nas notas do disco; Miltinho, em “Viva o Camelô”, fala de uma figura folclórica, anterior à profissionalização do “bico” e de suas imbricações com o crime organizado; Claudette Soares nos mostra que o “Céu de São Paulo” já não era tão azul, mas que isso não importava para quem só tinha olhos para o asfalto; Nadinho da Ilha fala de uma das personagens mais conhecidas, amadas, cultuadas, desejadas e procuradas de São Paulo, a saber, “O Dinheiro”; e o coro manda ver numa irresistível levada rock para a “Rua Augusta” de Billy Blanco, que diferentemente da de Hervê Cordovil, não era espaço para a velocidade, mas para o caminhar leve, despreocupado, de moças olhando vitrines, enquanto eram admiradas nas suas roupas da moda.

Não deve ter sido à toa que o paraense Billy Blanco, para este disco produzido pelo carioca Aloysio de Oliveira, tenha convidado tantos artistas não nascidos em São Paulo: deve ter querido chamar a atenção para a idéia de cidade que tudo – e a todos - abraça. E o maestro Chiquinho de Moraes, na orquestração do álbum, valeu-se de características brasileiras numa linguagem universal, como sói acontecer com as coisas de São Paulo.

Agora, se me permitem, uma "provocaçãozinha": se eu me interessasse por política, diria apenas que o disco foi – a meu ver - por demais condescendente com nós paulistas, ao deixar de lado nosso conservadorismo e provincianismo, qualidades que, no mais, devem ser democraticamente respeitadas. Mas Billy Blanco talvez tenha até feito bem, pois para mim é muito triste lembrar que, por exemplo, Juscelino Kubitschek e Luiz Inácio Lula da Silva, dois dos presidentes mais populares da história do Brasil, dividem a nada honrosa pecha de serem os únicos que foram eleitos diretamente sem vencer em São Paulo. E olha que eu nem sou muito admirador de Juscelino... Mas São Paulo daquela feita preferiu Adhemar de Barros. Mais conservadora e provinciana impossível!

São Paulo, em 1974, ainda era a cidade das oportunidades, a cidade que mais crescia no mundo, ainda ostentava as características de city boom que mereceu chamada de capa da revista Time em 1952 (quando ainda era a segunda cidade do Brasil); em 1974, passados 20 anos, parecia que ainda não havia acordado da mística dos quatrocentos anos.

E hoje, como seria a música de uma "Paulistana 2007"? Alguém aí se habilita?

São Paulo, 29 de abril de 2007.

PS: e hoje, 25 de janeiro de 2010, como seria uma "Paulistana 2010"? Debaixo d'água certamente, mas com a imprensa provinciana dizendo que era a Veneza do século XXI!

Ouça abaixo "O Tempo e a Hora", nas vozes de Cláudia e Pery Ribeiro. Nas imagens, fotos de São Paulo, tiradas entre 2005 e 2009 pelo autor destas maldigitadas e pela esposa, Roseli Brito.


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