quinta-feira, 18 de abril de 2013

Meio a zero: reflexões sobre a eleição de Maduro na Venezuela

Na linguagem futebolística, sempre se diz que está valendo a vitória de "meio a zero", com gol de mão, impedido, aos 47 do segundo tempo. É vitória e ponto. De todo modo, todos esperavam resultado mais elástico a favor do chavista Nicolás Maduro contra o oposicionista Henrique Caprilles nas eleições presidenciais na Venezuela.

O chavismo coleciona vitórias nos últimos 14 anos no país sul-americano; e o pleito do domingo, 14 de abril de 2013, correu sob forte impacto emocional pela morte de Hugo Chávez. No mínimo repetir o resultado de outubro de 2013, quando o falecido ex-presidente ganhou com diferença de oito pontos, era esperado por muitos seguidores e apoiadores do regime vigente na Venezuela.

A pouca diferença a favor do candidato da situação pode se explicar por fatores como o desgaste mais ou menos normal de um grupo político no poder por mais de uma década e por problemas socioeconômicos cuja existência não vinha sendo negada nem pelo mais radical chavista. Além de fatores mais racionais, talvez seja o caso de avaliar se não há algo nas autoridades carismáticas, caso de Chávez, que seja absolutamente intransferível. 

As eleições presidenciais de 2010 no Brasil são exemplo de que parcela não desprezível do carisma fica como que "presa" exclusivamente a seu dono. Mesmo com a popularidade de Lula na estratosfera, sua candidata não conseguiu vencer no primeiro turno e, na segunda rodada, viu quase 45% dos eleitores sufragarem o nome da oposição, a despeito de o País estar crescendo próximo a taxas chinesas no momento em que se dirigia às urnas.

Outro aspecto importante já foi abordado noutro de nossos textos, que pode ser acessado abaixo. Hugo Chávez devia ter trabalhado melhor sua sucessão, e isto antes da grave doença que o acometera. Advertências já haviam sido feitas pelos ex-presidentes Kirchner e Lula. Tal providência poderia ter sido tomada mesmo com as regras eleitorais vigentes na Venezuela e ainda que sob a liderança inabalável e até centralizadora de Chávez.

No mais, a dificuldade encontrada por Maduro foi, sim, um recado duro para as esquerdas pós-neoliberais que comandam parcela importante da América do Sul. Para o Brasil, em particular, o caso deve ser visto como um aviso preocupante, em vista da falta de regulação da mídia, que indiscutivelmente age como partido de oposição, e também por conta da inclusão social realizada com melhoria material de vida desprovida, no entanto, de politização.

Não houvesse na Venezuela um sistema público de comunicação eficiente e tivesse sua população mais pobre desligada dos temas mais caros da política, e certamente Caprilles, político jovem mas tarimbado, teria dado um passeio eleitoral no domingo passado. Será que Dilma e o PT acham que a oposição no Brasil não viu isso?


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