sábado, 23 de março de 2013

Perspectivas para 2014

Eis que em menos de uma semana três amigos perguntam quais são minhas "previsões" para 2014. Pensei que estivessem falando de Copa do Mundo. Não estavam. Queriam minhas impressões sobre as próximas eleições presidenciais. Ponderei que ainda é meio cedo, mas, mesmo assim, falei um bocado, oferecendo quase nada de opinião original recheada de observações antes apontadas por gente como Miguel do Rosário, Luiz Carlos Azenha, Emir Sader, Marcos Coimbra, Paulo Henrique Amorim, Altamiro Borges e outros. Não me recordo quem disse o quê. Consequentemente não dei - e não darei - os créditos na forma devida. Ficam as homenagens para todos eles.

Aécio e o PSDB
comungamos da opinião de que Aécio Neves só será o candidato tucano se a reeleição da presidenta Dilma Rousseff se configurar inexorável. É que os caciques paulistas do tucanato verão no pleito a oportunidade de ouro para "queimar" o "mezzo-mineiro mezzo-carioca", deixando o campo livre para uma candidatura paulista em 2018.

Ao nosso ver, se as nuvens, parafraseando Magalhães Pinto, mudarem suas formas, de maneira a mostrarem um quadro no mínimo arriscado para Dilma, os paulistas novamente dificultarão as coisas para Aécio, ofertando-lhe, como prêmio de consolação, a inestimável honra de aceitar ser vice de um bandeirante da melhor cepa!

Marina e Eduardo
Marina Silva por sua tal "rede" e Eduardo Campos pelo PSB também sugerem que sairão candidatos em 2014. Ambos vêm recebendo generoso espaço na mídia, invariavelmente com leituras simpáticas. O motivo é que eles podem impedir uma vitória do Partido dos Trabalhadores já no primeiro turno. A suspeita é de que os dois subtrairiam votos do centro e da centro-esquerda alinhados com o PT. Somente por isso angariam a simpatia dos jornalões e de seus colunistas.

No fundo, o coração midiático bate mais forte pela proposta conservadora representada pelo PSDB. Marina e Eduardo só servirão enquanto - e se - dificultarem as coisas para Dilma. Se, por outro lado, um deles vier a surpreender, desalojando os tucanos de posto de segunda força política do País, decerto vai sentir o jogo sujo dos meios de comunicação.

Marina, que segundo as mais hodiernas pesquisas sustenta o segundo lugar na preferência do eleitorado, que se cuide!

E vai dar segundo turno em 2014?
Se a grande preocupação da mídia oposicionista é, no mínimo, garantir o segundo turno, pode ficar tranquila: a corrida pela Presidência da República em 2014 deve ser resolvida somente em segundo escrutínio mesmo, caso se mantenha a atual configuração da disputa. Por quê?

Eduardo Campos deve conseguir bom desempenho não somente no seu estado natal mas em todo o nordeste. Não se perca de vista que aquela região foi fundamental para os excelentes números alcançados pelos candidatos petistas em 2006 e 2010. É sangria de votos de Dilma na certa.

Marina Silva teve, em 2010, excelente desempenho na importantíssima praça do Rio de Janeiro. Não há, a princípio, motivos para acreditar que não conseguirá repetir o mesmo êxito em 2014. A acriana também saiu-se bem em São Paulo na última corrida presidencial. Não se enxergam, no horizonte, motivos para que se saia pior na próxima contenda.

E Aécio Neves, que foi no mínimo omisso em 2006 e que cristianizou Serra em 2010, tem tudo para impedir que um petista se saia vitorioso no segundo maior colégio eleitoral do Brasil, qual seja, Minas Gerais. Aécio deve ganhar de lavada, with a little help from his mídia, é claro!

Como se vê, Dilma tem muito a perder com o quadro ora desenhado. A ausência de um paulista poderia ser uma vantagem da petista, em vista da "orfandade" do maior eleitorado brasileiro. Este escriba, porém, acredita que o eleitor paulista é dos poucos do País ainda suscetíveis ao papo furado midiático, francamente antipetista, e seguirá, em maior ou menor grau, o candidato ungido pelos meios de comunicação, possivelmente Aécio Neves.

E falta um ano e meio, hein?!...



quinta-feira, 7 de março de 2013

Um erro de Chávez

Nestes dias que seguem ao da morte de Hugo Chávez não são poucas as homenagens, merecidas, ao grande ícone latino-americano de nossa era. De nossa parte, porém, louvá-lo-emos lamentando um de seus poucos erros.

Chávez, para falarmos em termos maquiavélicos, contou, em boa parte do tempo, com a fortuna, e teve, na maioria das vezes, a virtu necessária aos grandes líderes políticos. Soube valer-se da maior riqueza de sua Venezuela, o petróleo, aproveitando-se das boas fases de alta da commodity, revertendo os ganhos em programas sociais para o seu povo, transformando a estrutura social do país.

Liderança regional, figura carismática, sujeito que incorporava um movimento de mudança em um país e numa região que necessitavam de profundas transformações, Hugo Chávez esqueceu-se justamente de criar condições para que o "chavismo" lhe sobrevivesse com tranquilidade.

Não há originalidade no que está aqui exposto. Tampouco se trata de opinião nova, proferida no calor do momento, na hora em que o problema de algum modo se impõe. Nada disso.

No documentário "Ao sul da fronteira", de Oliver Stone, o falecido Nestor Kirchner já contava que advertira o presidente venezuelano da necessidade de dar espaço para o surgimento de novas lideranças em seu país. 

O historiador Gilberto Maringoni, especialista na matéria, em seminário do departamento de Filosofia da Universidade São Judas Tadeu, de São Paulo, em data não muito recente, expunha a ausência de nomes capazes de derrotar Chávez na Venezuela, mas se lamentava, ao mesmo tempo, de não haver outra figura, no campo do chavismo, capaz de suceder o "comandante". Asseverava ele, com misto de humor e desolação: "não existe uma 'Dilma' do Chávez!".

Mais recentemente, o ex-presidente Lula, em entrevista à imprensa argentina, em manifestação um tanto distorcida pela mídia brasileira, também declarava que Chávez precisava ter cuidado de preparar sua sucessão. A opinião repercutiu em todo o mundo, inclusive pela incontestável autoridade do brasileiro neste particular.

Antes de qualquer esperneio, cumpre esclarecer que o problema não está no modelo eleitoral da Venezuela, que permite sucessivas reeleições infinitas do presidente - embora caiba, por outro lado, crítica ao fato de a mudança constitucional que as permitem ter sido efetivada no meio do jogo, a exemplo, aliás, da que permite a reeleição no Brasil. A favor de Chávez, diga-se de passagem, está o fato de ao menos submeter ao crivo popular as alterações que implementava. 

A singeleza da questão está no fato de que, a despeito de ser líder carismático clássico, o presidente Chávez, até em razão do ambiente democrático popular que a sua atuação suscitou, poderia ter ungido desde há muito o próprio Nicolás Maduro ou qualquer outro nome de seu círculo mais próximo, deixando-lhes um caminho mais suave para dar continuidade ao seu assombroso legado. Seria uma empreitada difícil? Sem dúvida. Mas Lula e Dilma, mesmo sem uma rede de comunicação forte como a de Chávez, comprovam que não seria impossível.