sábado, 8 de novembro de 2014

Choro do PSDB: tudo normal!

A choradeira do PSDB quanto à lisura das eleições presidenciais de 2014 não deve ser motivo para surpresas. Primeiramente porque o modelo brasileiro de urna eletrônica predispõe mesmo a fraudes, não devendo causar espécie alguém dela desconfiar, nem que seja por princípio. Em segundo lugar, porque resultados apertados existem mesmo para a parte perdedora espernear, já que resolvida nos detalhes - ressalte-se que mesmo sob um eventual resultado mais elástico, bastaria um quadro de grande radicalização e exacerbamento da polarização (como havido neste ano) para abrir campo para berreiros dessa espécie.

Em mensagens particulares enviadas a amigos, este blogueiro já havia antecipado a suspeita de que nos depararíamos com esse quadro. Vou colar trechos. A primeira foi em comentário de 07.10.2014 acerca de possível relação entre as chamadas jornadas de junho de 2013 e os resultados mais pró-direita do primeiro turno:
"(...) Tudo isso só para dizer que os resultados das urnas, sobretudo a escolha para os parlamentos, em nada me surpreendem. Eles são o resultado da guinada conservadora que ficou clara nos movimentos de junho de 2013. A cereja do bolo seria a derrota de Dilma, que, acho, não ocorrerá. Mas a vitória macérrima que ela terá provavelmente vai convocar novas manifestações, as quais deixarão novamente a esquerda perplexa e – de novo – com medo de dizer que não gostou do que viu."
Na mesma data, comentei especificamente sobre o segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, com resultado fantástico para o segundo, o que me fazia relembrar 2006:
"(...) Em 2006, Alckmin teve menos votos no segundo turno do que no primeiro. Não somente não espero que isso ocorra agora, como ainda acho que Aécio crescerá muito, impondo ao petismo a sua mais magra vitória desde 2002 (52 vírgula qualquer coisa de Dilma X 47 vírgula alguma coisa de Aécio – perdõem-me pela minha porção mãe dinah). Para ser melhor que isso, Dilma precisaria ter um desempenho fantástico como Lula teve no segundo turno de 2006, o que é muito difícil: Dilma é talentosa mas não é genial como Lula; Aécio tem mais telhados de vidro, mas é mais carismático e mais bem articulado que Alckmin. (...)" 
Lembro-me de cabeça de ter lido, de alguém que pensei à época ser adepto de teorias da conspiração, haver orientação da CIA para que derrotados simpáticos a Washington sempre gritem por fraude - de forma bem barulhenta - quando as condições permitirem. Depois de Edward Snowden, já não acho que "teorias da conspiração" envolvendo os Estados Unidos sejam tão teorias da conspiração assim!

A verdade é que a "vitória mácerrima" da presidenta Dilma foi a condição que permitia abrir espaço para gritarias.

Mas para dar prova mais incontestável da absoluta falta de espanto do autor destas maldigitadas com o choro dos tucanos vou colar texto aqui publicado em 19 de junho de 2009, que falava justamente das manifestações sobre suspeitas de fraude em eleições no Irã. Leia abaixo:


SEXTA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2009
Irã: eu acho...
O bacana de se pilotar um blog é poder ficar dando pitacos sobre os mais diversos assuntos de forma mais ou menos impune. Além disso, pode-se dormir com a consciência tranqüila por não estar investido da autoridade dos especialistas. É só “achismo” mesmo e ponto final.
Os chamados cientistas políticos não deveriam gozar da mesma cuca fresca, pois se aproveitam de sua condição para fazer comentários e vaticínios deveras particulares sob a aura de uma suposta expertise. Ao agir desse modo, no mais das vezes com acentuado viés ideológico e deixando transparecer seus desejos e idiossincrasias, recusam, em verdade, a honestidade intelectual e a objetividade científica possível de que fala Max Weber na sua famosa conferência intitulada A ciência como vocação.
Vamos aqui, “acientificamente”, apenas revelar nossas impressões sobre o que ocorre no Irã. (Até porque não dá para ter muito mais do que isso: meras impressões).
Eu, “euzinho da silva”, acho que não houve fraude nas eleições do Irã. O presidente Mahmoud Ahmadinejad provavelmente ganhou mesmo. Volto a dizer, trata-se, obviamente, de mera opinião pessoal. Não posso afirmar que não tenha havido fraude. Ninguém pode. Mas ninguém – repito, ninguém - pode também afirmar peremptoriamente que houve. Certo está o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atribuiu as comoções naquele país a uma provável choradeira dos derrotados. Errados estão os colunistas da grande imprensa, como Merval Pereira e Dora Kramer, que tentam desautorizar o presidente brasileiro por ele estar apoiando o seu colega iraniano reeleito. (Em realidade, Lula não está necessariamente dando apoio a Ahmadinejad; apenas faz aquilo que seria de se esperar de qualquer pessoa de bom senso: reconhecer os resultados das urnas de um país soberano; e se for o caso de haver alguma coisa errada por lá, o melhor a fazer é aguardar com cautela antes de sair atirando pedras).
Pelo que se depreende das notícias que chegam do país islâmico, as manifestações estão restritas aos grandes centros urbanos, mais especificamente à capital Teerã. O grupo oposicionista é organizado e barulhento, e o seu reclamo é ecoado pela mídia ocidental, que desde o início demonstra pouco entusiasmo com o presidente iraniano. Sabe-se que há, por outro lado, manifestações favoráveis ao presidente reeleito; mas elas não parecem contar com a mesma simpatia por parte da imprensa do ocidente.
E se o assunto é achismo puro e simples, vou externar uma opinião meio amalucada: eu, “euzinho da silva”, acho que o Brasil não esteve muito longe de situação parecida. Em 2006, se o candidato Alckmin não tivesse decepcionado parcela de seus eleitores e, especialmente, parte da imprensa, sobretudo por não ter tido coragem de defender o legado privatista dele e de seu partido, não seria de descartar que se ameaçasse falar em fraude ou em abusos e coisas do gênero para tentar melar a acachapante vitória de Lula.
Imaginemos a cena: a classe média paulista sairia às ruas, concentrar-se-ia na Av. Paulista e com a ajuda da mídia convocaria outras manifestações em grandes centros urbanos do sul-sudeste; as imagens rodariam o planeta nas telas da CNN e parariam nas páginas de internacionais dos jornais estrangeiros. Ipso facto, estariam todos mundo afora papagaiando que o presidente "populista caudilho" do Brasil fraudara as eleições. Ademais, haveria um Marco Aurélio Mello para jogar gasolina na fogueira.
Viagem pura? Certamente que é. Estou a afirmá-lo desde o começo. Mas, sincera e modestamente, não acho que meu achismo seja mais irresponsável ou mais ridículo do que o dos outros.

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