sábado, 21 de março de 2015

O "novo partido" da ficção de 'Mestre' Sapienza

O blog publica mais um texto de Faustus 'Mestre' Sapienza. Dessa vez, o misterioso autor brinca com situação que a maioria dos leitores decerto já presenciou. Divirtam-se

O PC - Partido da Corrupção
Faustus 'Mestre' Sapienza

-Mas o que tá acontecendo com você, Fabinho? Te vi chorar em 1989, com a derrota do Lula. Agora, você não pode nem ouvir falar em PT?
-Chorar, chorar, eu não chorei. Mas confesso que fiquei triste, como um monte de gente ficou. Mas meu ódio... Quer dizer, ódio não porque eu não odeio ninguém, mas minha bronca em relação ao PT é porque eles me traíram, com essa sujeirada toda.
-Ora, mas muita coisa nem provada é, você sabe.  E tem mais: você andou votando nuns caras aí que não chegam a ser um "papa francisco"...
-Ok, ninguém presta. Mas é que o PT quando era oposição só sabia falar de ética. Era ética pra cá, ética pra lá... E agora me apronta essas coisas todas. Se tem uma coisa que eu não aceito é traição.
-Cara, que bom que você falou nisso. Eu tava sem jeito de falar com você. É que eu tô colhendo umas assinaturas aí prum partido que eu tô pretendendo fundar.
-Você?
-Eu mesmo. Bom, você manja mais do que eu, sabe das formalidades, não é fácil. Vou precisar colher muitas assinaturas. Você conhece bastante gente...
-Cara, não sei se você tá falando sério ou não, mas chega de tanto partido. Pensa noutra coisa.
-Mas esse partido vai ser a salvação, principalmente para pessoas como você.
-Ah, tá bom! Pra começar, como é o nome do partido?
-PC.
-PC? Bem, com certeza não é partido comunista! PC? Partido da...?
-PC: Partido da Corrupção.
-Sabia que era zoeira!
-Não. Tô falando sério. Já tenho pronta a declaração de princípios. É menor do que a declaração de princípios do jornal do "Cidadão Kane".
-Cidadão Kane, o filme?
-Não vi nem tenho vontade de ver. Mas me fale da declaração do seu partido.
-Ótimo filme. Tomara que mude de ideia. Mas a declaração de princípios de nosso partido se resume a: total despreocupação com a ética. Nosso partido não quer nem ouvir falar de ética. Ou melhor: nosso partido não quer mesmo é falar de ética na política, essa coisa estúpida, udenista, pequeno-burguesa.
-Vai, vai! Aonde você quer chegar?
-A lugar nenhum, por enquanto. Quero apenas sua assinatura e seu empenho para nos ajudar a fundar o partido. Afinal, temos o que você e outros milhões de pessoas querem: somos diferentes e originais na forma de encarar a política e, melhor, nunca, jamais o decepcionaremos.
-Não sei por que te dou ouvidos, mas tudo bem: explique-se.
-Somos diferentes porque, ao contrário do que você e outros milhões de pessoas dizem, o discurso político amparado nessa coisa abstrata chamada de ética nunca foi exclusividade do PT. Não saio por aí lendo estatutos de partido, mas desconfio que a maioria deles fala em compromisso com a ética, ainda que não de forma expressa, mas que dá a entender que a ética é alicerce de seu comportamento. Até porque o senso comum diz que não pode ser diferente...
-Cara, apesar de ser tudo bobagem, até que cê tá falando bonito...
-Mas o mais importante: nosso partido nunca vai decepcionar você...
-Rapaz, agora imaginei aquele magnífico locutor das propagandas do PSDB falando isso!
-E não vamos decepcioná-lo porque, ao deixar claro que não temos compromisso nenhum com a ética, quando metermos o pé na jaca, ou quando vier a imprensa fazendo seu denuncismo seletivo, seja justo ou injusto, não importa, todos vão poder dizer: bem que eles falaram que não tavam nem aí pra ética mesmo. Ou seja, meu querido Fábio, ao recusarmos a ética, de acordo com o seu modo de enxergar o mundo, estamos desobrigados de observá-la, não é isso? Consequentemente, jamais o decepcionaremos.
-Desnecessário dizer que isso é um sofisma, certo?
-Hum. Agora você é que falou bonito! Sofisma? Não diria não. Se quiser chamar de uma fábula política bem vagabunda e singela.
-Ok. Bem vagabunda, pode ser?
-Pode.
-Mas, voltando... Você falou uma coisa lá atrás que é verdade e eu não devia ter vergonha de admitir: eu chorei mesmo, de soluçar, quando o Lula perdeu pro Collor...

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Ficcão de Faustus 'Mestre' Sapienza: A jornalista, o roqueiro e o advogado

sábado, 7 de março de 2015

Ficcão de Faustus 'Mestre' Sapienza: A jornalista, o roqueiro e o advogado

Colamos abaixo um texto do misterioso Faustus 'Mestre' Sapienza. O autor diz ser a mais absoluta ficção. Mas... Qualquer semelhança com a realidade...

A jornalista, o roqueiro e o advogado
Por Faustus 'Mestre' Sapienza 

A Jornalista
Passeio no shopping, sábado à tarde.Encontro a Priscila. Moça bacana tava ali. O bobão do meu filho deixou escapar. Ela não se dava bem com minha mulher. Mas e daí? Tinha que se dar bem é com o garoto, oras!
-E aí? Quanto tempo!
-Eu vou bem. E o senhor? E o Marquinho?
-Senhor tá no céu! Ih, aquele ali, só batendo cabeça, pra variar um pouco. E você?
-Bem, não sei se o senhor... se você se recorda, mas eu tava na faculdade de jornalismo. Me formei e estou participando de um treinamento num grande órgão de comunicação aqui de São Paulo, com chance de efetivação.
-Que beleza! Parabéns!
-Obrigada, seu Marco! Mas vou te falar, é jogo duro. Inventaram uma gincana.
-Gincana?
-Eles dão outro nome, mas eu chamo de gincana. Tamo brincando de“jornalista investigativo”. Nossa tarefa é descobrir alguma coisa contra o Lula ou algum familiar dele. Não precisa ser muito sério ou muito grave, não. Tem que ser algo só pra render umas matérias. Não importa os métodos que a gente usa. Só não pode ser esses boatos bestas de internet. Tô quase desistindo.
-Desiste não, querida. Até porque não deve ser muito difícil encontrar alguma falcatrua daquele bandido e daquela quadrilha que ele chama de família...
-Ah, seu Marco.
-Para com isso. Me chama só de Marco ou Marcão.
-Então, Marco, se houvesse alguma coisa contra Lula estaria todo mundo publicando, martelando 24 horas por dia. E os figurões é que estariam assinando as matérias. Não iam ficar pedindo pras foquinhas bobocas como nós.
-Olha... Nunca tinha pensado nisso...
-Vou nessa, seu... Desculpa, Marco. Beijão pro Marquinho!
-Dou sim. Não vai mandar pra Matilde, não? Brincadeira!

O Roqueiro
Vocês não vão acreditar. Mal me despeço da Pri e sabe quem eu encontro? O Lupinão! Como assim, que Lupinão? Roqueirão dos maravilhosos anos 80. Não lembra do velho sucesso“Me estupra”? Eu canto um trecho pra você. Mas a que eu mais gostava mesmo era de “Triste não rima com alpiste”: não é muito conhecida, mas tem uma letra linda. É que vocês são novinhos... Não vão lembrar do Lupinão. Mas ele se lembrou de mim. Me viu e me chamou:
-Marcão!
-Sim.
-Não se lembra de mim?
-Desculpa, mas...
-E sem os óculos?
-Lupinão?
-Falaí, meu! Que prazer!
-Fazendo o que, cara?
-Fazendo uns showzinhos, fraquinhos. Gravar disco não rola mais, você sabe.
-A moça ali acho que te reconheceu, hein? Ficou te olhando...
-Moça? É daquelas vovozinhas que vêm trazer os netinhos pra passear no shopping! Mas tá valendo.
-E os shows, tão legais?
-Pouca coisa. Tô tramando uma coisa grande aí, com um amigo jornalista. Acho que você não conhece. Crítico, produtor. Ele anda meio sumido. Não tenho falado muito sobre o assunto. Você é o primeiro a ficar sabendo. A gente precisa urgentemente voltar pra mídia.
-Mas que tipo de negócio que é? Se é que você quer mesmo falar.
-Vou falar pra você, até pra você depois não pensar que eu tô louco!
-Mas louco você é, carambola!
-Eu vou começar a parecer um cara superpolitizado, cheio de ódio ao PT e defensor de ideias conservadoras...
-Pode parar. Eu também odeio o PT e sou cheio de ideias conservadoras. E daí?
-Esse meu amigo jornalista tem velhos amigos no meio. Ele vai entrar na mesma onda que eu. Pelos cálculos dele, isso vai me abrir espaço pra dar entrevista. E sabe como é? Entrevista repercute, os caras te chamam pra fazer show, por causa do show eu volto a dar mais entrevistas bombásticas. Meu amigo vai me empresariar e vai também escrever um ou outro texto elogiando minha coragem...
-É, mas cê sabe que vai receber saraivada de tudo quanto é lado também, né? Esses petistas bandidos são organizados...
-Então, cara, essa é a melhor parte: vou ser vítima da censura petista, chavista, politicamente correta e outro nome que eu não lembro. Meu amigo é que é bom pra esses rótulos.
-Cara, muito louco mesmo o que cê tá falando. Mas será que vai dar certo?
-Tô esperançoso. Meu amigo jornalista falou que se bombar mesmo, eu posso até sonhar em ser figura cativa de um talk show que tá pra começar aí. Vamo aguardar. Se você já tiver de saída, eu vou aceitar uma carona...
-Não, Lupinão. Ainda preciso ver umas coisas. Foi um prazerzaço, cara!

O Advogado
Que dia incrível. Agora é o Pestana, advogado, pachorrento, todo cheio de querer ser olhando vitrines de loja cara.
-Se não é o Dr. Pestana!
-Marcão? É vivo ainda, seu filho da mãe?! Você não engorda, não, desgraçado?
-Que é isso? Tô gordo, pô! E do que cê tá falando? Tá bem também.
-Que nada. É que o terno aqui disfarça o barrigão!
-Por falar nisso, só você mesmo pra tá de terno num sabadão desses.
-É que fui ver um caso bom. Um belo potencial de escândalo. Coisa pesada. O sujeito tá preso. Fui conversar com a família. Eles tão querendo ver se ele entra nesse negócio de delação premiada.
-Já ouvi falar. Parece que é bom isso, né?
-Depende. No caso dele não parece muito bom, não, pelo menos por enquanto. Os caras delatam pra sair numa boa e ainda ficar como herói. Expliquei pra família que não é tudo tão simples.
-Mas do jeito que a gente vê na mídia, parece que é simples sim.
-Depende do que e de quem você vai delatar. No caso do meu cliente ele tem uns caras e uns esquemas grandes do PSDB...
-Esses são outros, viu. Esses caras podem dar as mãos pro PT e sair por aí. Tudo farinha do...
-Sério? Lá no seu facebook tava cheio de propaganda dos candidatos deles.
-Sim, mas é que isso... Bem, e por que não entrega logo a corja do PSDB?
-Sabe como é família, né? Acha que o homem é um santo, um injustiçado, que foi vítima dos peixes grandes tanto da política quanto de grandes empresas e quer ver a barra dele limpa, dando entrevista em jornal como um herói. Na hora que eles me mostraram os nomes, descartei.
-Conta aí.
-Cê tá é louco! Se eu me meter com os caras que ele tem pra delatar até minha carreira entra em perigo. Mas dei uma missão pra eles: tentar ver se não descola pelo menos um nome que dê pra associar com PT, Lula ou Dilma. Pode ser uma associaçãozinha de longe; qualquer forçada de barra serve.
-Não deve ser difícil...
-Também penso que não. Tá cheio de cara que opera pros dois lados. E pra mídia, pra polícia, pra parte da Justiça, pruns caras do MP, se puder envolver, mesmo que indiretamente, um petista, o negócio ganha uma dimensão fora de série, mesmo que sem provas.
-Mas pelo que cê tá falando, é uma sujeira...
-É a vida! Se a família me der um nome que dê pra ligar com o PT, um nomezinho que seja, eu consigo um escarcéu bom. Vou precisar de ajuda pra isso, claro. Por falar nisso, será que você não conhece alguma jornalista iniciante ou algum roqueiro decadente pra me ajudar nesse serviço?